Se houver um governo Temer, reformas são desafio a ele
Economistas, investidores e um ex-presidente do Banco Central indicaram as prioridades que um possível governo de Temer deveria considerar
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2016 às 21h55.
Um turbilhão político ameaça afastar a presidente Dilma Rousseff . À espera de sua oportunidade está o vice-presidente, Michel Temer, que deve assumir o comando durante o provável processo de impeachment da presidente no Senado .
Sua tarefa será enorme: reunir uma maioria parlamentar para aprovar reformas que, além de gerar recuperação para uma economia atolada em recessão, também estabeleceria as bases para um crescimento sustentável.
Em entrevistas, economistas, investidores e um ex-presidente do Banco Central indicaram as prioridades que o governo de Temer deveria considerar para a política econômica.
Desarmar a bomba-relógio da Previdência
O déficit da Previdência equivale a mais de um terço do rombo do orçamento. O Brasil já é uma anomalia, um País jovem com receita média, mas com despesas de Previdência de um país rico e envelhecido. E a situação está piorando.
“Se nada for feito, dentro de aproximadamente 25 anos o Brasil gastará 20 por cento do PIB em gastos previdenciários – mais do que a Itália, que é o país que atualmente mais gasta”, segundo Paulo Tafner, economista e especialista sobre o sistema previdenciário do país.
Tafner diz que um governo de Temer deveria elevar a idade mínima da aposentadoria e desatrelar os ajustes de aposentadorias e pensões dos aumentos do salário mínimo. Também é necessário fechar brechas: por exemplo, as filhas de militares falecidos podem herdar aposentadorias completas e vitalícias enquanto não se casarem, então elas simplesmente nunca assinam os documentos que formalizariam uma união.
Desalavancar já
Gastos obrigatórios, como educação e saúde, equivalem a cerca de 80 por cento das despesas do governo, por isso é difícil reduzir o déficit orçamentário, de quase 11 por cento do PIB, e reduzir os níveis da dívida – que já são os mais altos entre os países do Brics e entre os principais pares da América Latina.
“A percepção de que há algo errado com o tamanho da dívida pública e com o custo da dívida pública nunca foi tão forte”, disse Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central do Brasil. “A desalavancagem é, de todo ponto de vista, urgente e recomendável”.
O PMDB, partido de Temer, disse em seu plano de política econômica que é necessário lidar com os gastos não discricionários. Isso com certeza seria fortemente contestado pelo PT, de Dilma. Temer é o líder do PMDB, partido que desembarcou da base governista no mês passado.
Retomada do crescimento
O crescimento nos últimos dez anos veio do consumo da tão alardeada “nova classe média”. Esse motor deu marcha a ré e agora os economistas afirmam que o investimento deveria ser o motor propulsor do Brasil.
Parte da solução é consertar políticas que são “muito favoráveis ao consumidor e ao trabalhador e muito desfavoráveis às empresas e ao investimento”, disse Brian Coulton, economista-chefe da Fitch Ratings. “Se o Brasil for retomar a tendência de crescimento aceitável no médio prazo, é preciso o oposto. É necessário um período de mais investimento, mais rentabilidade e menos consumo”.
Somente reformas fiscais e trabalhistas gerariam o deslocamento tectônico necessário para liberar completamente o investimento, dizem os economistas. Por exemplo, as empresas muitas vezes hesitam em contratar novos funcionários porque é muito caro demiti-los. No ano passado, trabalhadores abriram o recorde de 2,7 milhões de processos judiciais nos tribunais trabalhistas, de acordo com informações do Tribunal Superior do Trabalho. Além disso, uma empresa média leva 2.600 horas para fazer a declaração de Imposto de Renda, a maior quantidade de tempo entre todos os países do relatório Doing Business, do Banco Mundial. Nesse tempo, um advogado tributário ambicioso poderia dar a volta ao mundo em um balão aerostático sete vezes. (Outro menos ambicioso poderia assistir 50 vezes seguidas a uma maratona das quatro temporadas de House of Cards).
Arrumar a bagunça do sistema de partidos
Um governo de Temer poderia tentar reformar o disfuncional sistema político brasileiro. As leis são aprovadas por meio da construção de coalizões, o que não é um detalhe menor em um país com 35 partidos registrados.
“Quanto maior o número de pessoas com quem você precisa negociar, maior a dificuldade para aprovar uma lei e o modo em que o sistema funciona agora é muito caro”, disse Cameron Combs, pesquisador sobre o Brasil para a empresa de consultoria de risco político Eurasia Group, com sede em Washington.
Um turbilhão político ameaça afastar a presidente Dilma Rousseff . À espera de sua oportunidade está o vice-presidente, Michel Temer, que deve assumir o comando durante o provável processo de impeachment da presidente no Senado .
Sua tarefa será enorme: reunir uma maioria parlamentar para aprovar reformas que, além de gerar recuperação para uma economia atolada em recessão, também estabeleceria as bases para um crescimento sustentável.
Em entrevistas, economistas, investidores e um ex-presidente do Banco Central indicaram as prioridades que o governo de Temer deveria considerar para a política econômica.
Desarmar a bomba-relógio da Previdência
O déficit da Previdência equivale a mais de um terço do rombo do orçamento. O Brasil já é uma anomalia, um País jovem com receita média, mas com despesas de Previdência de um país rico e envelhecido. E a situação está piorando.
“Se nada for feito, dentro de aproximadamente 25 anos o Brasil gastará 20 por cento do PIB em gastos previdenciários – mais do que a Itália, que é o país que atualmente mais gasta”, segundo Paulo Tafner, economista e especialista sobre o sistema previdenciário do país.
Tafner diz que um governo de Temer deveria elevar a idade mínima da aposentadoria e desatrelar os ajustes de aposentadorias e pensões dos aumentos do salário mínimo. Também é necessário fechar brechas: por exemplo, as filhas de militares falecidos podem herdar aposentadorias completas e vitalícias enquanto não se casarem, então elas simplesmente nunca assinam os documentos que formalizariam uma união.
Desalavancar já
Gastos obrigatórios, como educação e saúde, equivalem a cerca de 80 por cento das despesas do governo, por isso é difícil reduzir o déficit orçamentário, de quase 11 por cento do PIB, e reduzir os níveis da dívida – que já são os mais altos entre os países do Brics e entre os principais pares da América Latina.
“A percepção de que há algo errado com o tamanho da dívida pública e com o custo da dívida pública nunca foi tão forte”, disse Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central do Brasil. “A desalavancagem é, de todo ponto de vista, urgente e recomendável”.
O PMDB, partido de Temer, disse em seu plano de política econômica que é necessário lidar com os gastos não discricionários. Isso com certeza seria fortemente contestado pelo PT, de Dilma. Temer é o líder do PMDB, partido que desembarcou da base governista no mês passado.
Retomada do crescimento
O crescimento nos últimos dez anos veio do consumo da tão alardeada “nova classe média”. Esse motor deu marcha a ré e agora os economistas afirmam que o investimento deveria ser o motor propulsor do Brasil.
Parte da solução é consertar políticas que são “muito favoráveis ao consumidor e ao trabalhador e muito desfavoráveis às empresas e ao investimento”, disse Brian Coulton, economista-chefe da Fitch Ratings. “Se o Brasil for retomar a tendência de crescimento aceitável no médio prazo, é preciso o oposto. É necessário um período de mais investimento, mais rentabilidade e menos consumo”.
Somente reformas fiscais e trabalhistas gerariam o deslocamento tectônico necessário para liberar completamente o investimento, dizem os economistas. Por exemplo, as empresas muitas vezes hesitam em contratar novos funcionários porque é muito caro demiti-los. No ano passado, trabalhadores abriram o recorde de 2,7 milhões de processos judiciais nos tribunais trabalhistas, de acordo com informações do Tribunal Superior do Trabalho. Além disso, uma empresa média leva 2.600 horas para fazer a declaração de Imposto de Renda, a maior quantidade de tempo entre todos os países do relatório Doing Business, do Banco Mundial. Nesse tempo, um advogado tributário ambicioso poderia dar a volta ao mundo em um balão aerostático sete vezes. (Outro menos ambicioso poderia assistir 50 vezes seguidas a uma maratona das quatro temporadas de House of Cards).
Arrumar a bagunça do sistema de partidos
Um governo de Temer poderia tentar reformar o disfuncional sistema político brasileiro. As leis são aprovadas por meio da construção de coalizões, o que não é um detalhe menor em um país com 35 partidos registrados.
“Quanto maior o número de pessoas com quem você precisa negociar, maior a dificuldade para aprovar uma lei e o modo em que o sistema funciona agora é muito caro”, disse Cameron Combs, pesquisador sobre o Brasil para a empresa de consultoria de risco político Eurasia Group, com sede em Washington.