Salário mínimo na Venezuela atinge valor mais baixo da história
No contexto de hiperinflação, o bolívar venezuelano caiu 50% em relação ao dólar nos últimos 30 dias
EFE
Publicado em 30 de agosto de 2019 às 17h04.
Caracas — Hoje, pela primeira vez, milhões de venezuelanos receberam US$ 1 como pagamento quinzenal de salários e pensões. Esta é a confirmação de uma crise sem precedentes que reduziu o salário mínimo mensal para US$ 2, deixou a maioria dos cidadãos na miséria e não tem indícios de melhora a curto prazo.
Com o dólar beirando 20 mil bolívares soberanos, o salário mínimo de 40 mil estabelecido pelo governo se traduz em US$ 2 mensais, quantia insuficiente para comprar um quilo de carne ou uma caixa de ovos.
Entre aposentados e empregados ativos, quase 10 milhões de pessoas receberam em suas contas nesta semana o equivalente a US$ 1, segundo a cotação oficial do Banco Central (BCV). No mercado paralelo, que rege toda a atividade econômica, a moeda local está ainda mais desvalorizada.
Sendo otimistas e com alguma sorte, qualquer venezuelano que recebe essa quantia mensal pode comprar farinha de milho ou um quilo de açúcar. Quando esses produtos acabarem, em dois ou três dias, as pessoas terão que esperar novamente até a próxima quinzena, quando certamente o salário será menor.
Nos últimos 30 dias, a moeda local - o bolívar soberano venezuelano - caiu 50% em relação ao dólar, que hoje custa o dobro do que valia no final de julho, tudo dentro do contexto da hiperinflação nacional, com a qual os preços de bens e serviços podem subir diariamente.
"Hoje, na Venezuela, o venezuelano está ganhando US$ 2 ao mês. O que podem fazer para manter a família com US$ 2 ao mês sem água, sem luz e sem transporte público?", questionou nesta semana o chefe do Parlamento, Juan Guaidó.
O líder opositor, reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, atribuiu esta realidade ao governo "usurpador" de Nicolás Maduro, o qual não considera legítimo.
O chavismo governante, por outro lado, responsabiliza a oposição e as sanções americanas pelo "bloqueio" da atividade econômica e, portanto, pela escassez de alimentos e remédios, a recessão de pagamentos e a crise em geral.
Enquanto isso, o governo mantém a distribuição de cestas básicas a preços subsidiados, mas esses itens só chegam a cada dois meses, quase nunca incluem proteínas e só alimentam uma família durante uma semana.
Além disso, o governo deposita bonificações quase mensalmente a cerca de 10 milhões de venezuelanos por diversos motivos, mas essas ajudas nunca passam de 100 mil bolívares soberanos, ou US$ 5.
Algumas empresas pagam bonificações em dólares aos funcionários para preservá-los, e mais de um milhão de famílias recebem remessas de dinheiro de parte dos cinco milhões de venezuelanos que emigraram nos últimos anos devido à crise.
No entanto, nada disso parece resolver a queda do poder aquisitivo no país com as maiores reservas comprovadas de petróleo, onde cerca de 80% da população hoje come menos que há cinco anos e centenas de milhares de pessoas não ingerem alimentos uma vez por dia.
"Estamos como as cabras, comendo grama. Está tudo caríssimo. Os preços sobem mais a cada dia", expressou Alberto Rodríguez, de 70 anos, enquanto comprava o que podia em um mercado do município de Chacao, no estado de Miranda.
De acordo com Rodríguez, o salário mínimo não dá para nada, insatisfação compartilhada pela jovem Valentina Fernández, que não conseguiu mencionar nenhum produto com preço inferior a 40 mil bolívares soberanos.
"Nada custa 40 mil. Eu, que vendo charcutaria, posso dizer que isso não dá para nada. O mais econômico, um queijo, custa 50 mil o quilo", comentou a comerciante, de 29 anos.
A baixa atividade do outrora movimentado mercado reflete realidade nacional: uma severa queda do consumo e uma contração econômica de 50% desde que Maduro assumiu o poder, em 2013.