São Paulo - Os últimos números mostram que a maré virou na economia europeia, e o clima está diferente também entre os empresários.
Uma pesquisa da Grant Thornton realizada em fevereiro com 1.173 líderes de negócios da União Europeia mostrou que eles estão mais otimistas (38%) com a situação econômica do continente do que a média global (33%).
É a primeira vez que isso acontece em 4 anos. O maior nível de otimismo é de 92% na Irlanda, não por acaso a economia que mais cresce no continente. Na Espanha, o otimismo cresceu 30 pontos e chegou a 52%.
Os empresários da UE consideram que o alto desemprego é a maior ameaça para o bloco, com 25% dos votos, seguido por crescimento baixo (23%) e altos níveis de dívida (20%).
45% estão preocupados com uma saída da Grécia da zona do euro ("Grexit"), contra 64% que se preocupam com o Reino Unido deixando a União Europeia ("Brexit").
Apenas 30% dos líderes britânicos do mundo dos negócios querem ver mais integração com o resto da Europa, muito abaixo da taxa de países como Espanha (82%), Alemanha (75%), França (62%) e Itália (58%).
UK X UE
A possibilidade de que o Reino Unido saia da União Europeia virou uma possibilidade bem concreta com a reeleição surpreendente do primeiro-ministro britânico David Cameron. Ele promete um referendo sobre o assunto para 2017, e o público está dividido.
A economia britânica é bastante dependente do comércio internacional e da atração de investimento. Sair da UE dispararia negociações não só com o resto do continente mas também com mais de 50 países que tem acordos com o bloco, além de novas tarifas e barreiras. Isso certamente aumentaria a incerteza e os custos no curto prazo, especialmente para setores como o financeiro.
De acordo com um estudo recente do think tank Open Europe, no melhor cenário, o país consegue não apenas manter o livre comércio com a Europa mas também se abre ainda mais para o resto do mundo. Nesse caso, o PIB seria 1,6% maior em 2030.
O pior cenário é de nenhum acordo com a UE e mais fechamento, o que faria o PIB cair 2,2% até 2030. É isso que tem parecido mais provável, diante da ofensiva de David Cameron contra a imigração - geralmente pelos economistas como positiva no balanço.
São Paulo - Há 5 anos, o debate sobre a crise da
Grécia gira em torno de duas questões: o país vai ou não sair do
euro ? E quais seriam as consequências disso? O cenário institucional já mudou muito, mas o retórico é basicamente o mesmo, povoado por caricaturas de gregos preguiçosos, alemães autoritários, tecnocratas sem coração e políticos sinuosos. Não faltam simbolismos e lições de moral. Há quem lembre que a Grécia basicamente vive em um
estado perpétuo de crise da dívida. Os gregos rebatem com
episódios sombrios da história recente da
Alemanha . O teatro chegou a outro nível com a entrada em cena de
Yanis Varoufakis, ministro de Finanças grego, adepto de imagens fortes que frequentemente
o colocam em saias justas. Veja 7 metáforas sobre a crise da Grécia e o que elas explicam:
2. O efeito dominó 2 /8(Aussiegall/WikimediaCommons)
O efeito dominó é simples de entender: quando você tem várias peças enfileiradas e a primeira cede, é impossível de evitar que uma derrube a outra até que não sobre nenhuma de pé. A metáfora é usada amplamente desde 2010 para ilustrar o que aconteceria caso algum país saísse da zona do euro: o pânico e a especulação acabariam empurrando outras nações vulneráveis ao mesmo destino. Já em 2011, muito antes de sequer sonhar em virar ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis
explicou em seu blog o que vê de errado com essa metáfora: "com cada 'transição', o custo de 'resgatar' o próximo país aumenta ao mesmo tempo em que recai sobre um número menos de países. É uma dinâmica muito mais calamitosa do que a alegoria do dominó consegue capturar".
3. O castelo de cartas 3 /8(Arealast/Wikimedia Commons)
No seu post de 2011, Varoufakis comparou a zona do euro com um grupo de alpinistas de tipos físicos diversos na beira de um abismo e ligados por uma única corda. De repente, acontece um terremoto e um deles (a Grécia) começa a cair; o segundo mais próximo também acaba cedendo, e assim sucessivamente, aumentando cada vez mais o peso sobre os remanescentes. A dúvida é se os mais fortes (a Alemanha) vão continuar tentando puxar o grupo para cima ou se vão cortar a corda. Em fevereiro deste ano, já como ministro, Yanis escolheu uma metáfora mais simples e popular: a do castelo de cartas. "O euro é frágil, é como construir um castelo de cartas. Se você tirar a carta da Grécia, os outros entram em colapso", disse ele em entrevista para um canal italiano.
4. O vírus Ebola 4 /8(Cynthia Goldsmith/AFP)
Outra metáfora comum nos discursos sobre efeitos em cadeia na economia global é a da doença: o "contágio" financeiro. No caso da Grécia, o uso mais notório foi feito por Angel Gurria, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) ainda em 2010. Em entrevista para a Bloomberg, ele disse: "isso não é uma questão de contágio. O contágio já aconteceu. Isso é como o
ebola . Quando você percebe que tem, precisa cortar a sua perna para sobreviver". Curiosamente, a doença só voltaria para as manchetes mundiais no início do ano passado. O novo surto em países da África Ocidental como Sierra Leoa e Libéria já matou até agora mais de 10 mil pessoas.
5. Afogamento simulado 5 /8(Mark Wilson/Getty Images)
O afogamento simulado é uma técnica de tortura que consiste em despejar água sobre um pano ou toalha colocado no rosto de alguém imobilizado. Muitos oficiais americanos evitar classificar como "tortura" o método, amplamente utilizado na guerra contra o terror. O escritor Christopher Hitchens
aceitou se submeter a técnica para dar seu veredicto (conclusão: é tortura sim). Varoufakis foi o primeiro a chamar de "afogamento simulado fiscal" as políticas duras de austeridade que a União Europeia exigiu como contrapartida dos seus pacotes de resgate. Em uma
entrevista recente para a revista alemã Der Spiegel, ele disse que os torturadores são os "tecnocratas do trio FMI-BCE-Comissão Europeia enviados para implementar e monitorar um programa destrutivo" e defendeu a analogia: "Conseguiu capturar sua atenção, não é mesmo? Então funcionou."
6. Cavalo de Tróia 6 /8(Domínio público/Giovanni Domenico Tiepolo)
Desde que o partido de esquerda Syriza chegou ao poder no final de janeiro, a Grécia está na corda bamba, tendo que se mostrar aberta a negociações sem recuar da promessa de mudar fundamentalmente os acordos de resgate. No dia 19 de fevereiro deste ano, os gregos
enviaram uma carta para o grupo de ministros de Finanças da UE pedindo formalmente uma extensão de 6 meses do programa atual. A resposta dos alemães,
vazada para a imprensa, tinha o seguinte trecho: "a proposta [grega] representa um cavalo de tróia, com o objetivo de garantir uma ponte de financiamento acabando com a substância do programa atual". Diz a lenda que após 10 anos de luta, os gregos deram um cavalo gigante como sinal de trégua aos troianos. O presente foi aceito e colocado no centro da cidade; no meio da noite, os soldados escondidos na estátua de madeira saíram e tomaram o território inimigo. Em tempo: dias depois da polêmica, os gregos enviaram uma lista de reformas prometidas e
conseguiram uma extensão de 4 meses do programa atual.
7. A perna amputada 7 /8(.)
Muita coisa mudou desde que a crise da Grécia estourou em 2010. Nas negociações atuais, uma tática da Alemanha para melhorar sua posição de barganha tem sido sinalizar que a
Europa já não deve temer tanto assim uma possível "Grexit". Há cerca de duas semanas, uma
matéria do Financial Times afirmou que alguns oficiais alemães estão propagando a "teoria da perna amputada, segundo a qual a Grécia deve ser cortada como um membro gangrenado para poupar o resto do corpo da zona do euro". Outros continuam adeptos da metáfora do dominó - quando o primeiro cai, fica difícil segurar o processo.
8. A pistola dágua 8 /8(Zoom Zoom / Wikimedia Commons)
A última metáfora da lista vem, novamente, do ministro Varoufakis. Em meados de janeiro, ele disse que o
programa de compra de títulos do Banco Central Europeu para estimular a economia europeia e evitar a deflação equivale ao de "uma pistola d'água sobre um incêndio na floresta". Em entrevista
publicada no seu blog, ele aliviou para o presidente do BCE,
Mario Draghi , que sofreu constragimentos políticos e legais para agir de forma mais rápida e incisiva: "Não tenho dúvidas de que ele entende que o que está fazendo é muito pouco, muito tarde. Mas ele acha que uma pistola d'água é melhor que nada. Se há um fogo devastador, ele gostaria de usar o canhão d'água, e gostaria de ter usado antes, mas não foi permitido". Algum efeito, a pistola deve estar tendo - o otimismo com a economia europeia aumentou sensivelmente nas últimas semanas, e o crescimento está próximo do
maior nível em 4 anos.