A torcida local que vibrou com a chegada da seleção russa às quartas de final da Copa do Mundo de futebol talvez tenha estado preocupada demais para fazer compras.
Rússia tenta reverter uma maldição das sedes de Copas do Mundo
Países que organizam o evento têm um histórico ruim quando se trata de benefícios econômicos fora do campo - mas a Rússia quase quebrou esse feitiço
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2018 às 16h27.
Última atualização em 18 de julho de 2018 às 16h31.
Os países que organizam o evento esportivo mais assistido do mundo têm um histórico ruim quando se trata de benefícios econômicos fora do campo. Nas três Copas anteriores, a África do Sul -- único país-sede cuja seleção não conseguiu passar da fase de grupos -- foi a única a registrar um aumento na demanda do consumidor em 2010.
A Rússia quase quebrou esse feitiço, apesar de um plano do governo para aumentar o imposto sobre o valor agregado (IVA) que foi revelado horas antes do jogo de abertura. Embora os jogos de quase todas as noites tenham mantido os consumidores distraídos durante um mês, os dados divulgados nesta quarta-feira mostraram um aumento nas vendas de varejo em junho, que superaram as previsões. E isso aconteceu apesar do magro crescimento das rendas reais disponíveis.
O consumo responde por pouco mais da metade da economia e alguns varejistas se beneficiaram dos milhares de pessoas que visitaram as 11 cidades que receberam os jogos em toda a Rússia. Os varejistas Magnit e M.Video registraram vendas melhores graças à demanda de bebidas, alimentos e TVs. Ainda assim, o índice de compras da Watcom para Moscou, que pesquisou a atividade em 150 shoppings, teve a pior leitura para junho e início de julho desde 2015.
O motivo do declínio do índice de compras da Watcom é que "durante o campeonato, as pessoas iam em massa para o centro, o que impulsionou o varejo de rua", disse Roman Skorokhodov, presidente da consultoria de varejo de Moscou que conduz a pesquisa. "Os shoppings que fizeram preparativos e ofereceram lugares para os torcedores foram a exceção."
A Copa do Mundo, porém, não foi uma grande distração para o plano do governo de elevar o IVA de 18 por cento para 20 por cento. O sentimento do consumidor, também abalado por um aumento nos preços da gasolina em maio, caiu no mês passado, de acordo com o banco central. A parcela de pessoas que dizem que este é um bom momento para fazer grandes compras caiu para o menor valor em um ano.
O aumento do IVA deve entrar em vigor no ano que vem e já aparece em negociações entre fornecedores e varejistas, cujos custos terão que refletir a diferença de impostos, disse Ivan Fedyakov, diretor-geral da INFOLine, uma empresa de pesquisa com sede em São Petersburgo. Os consumidores talvez antecipem algumas compras antes que o aumento de preço entre em vigor, de acordo com o Nordea Bank. Mas qualquer ganho provavelmente será temporário.
Dado o estado frágil da economia, não há muitas perspectivas de impulsionar o consumo, de acordo com Natalya Kolupaeva, analista do Raiffeisenbank em Moscou.
"Por parte dos compradores, a demanda continua fraca", disse ela. "Promoções e descontos resultam em mais vendas. Mas, assim que acabam, as vendas caem."