Resultados de empresas dos EUA destacam risco com desaceleração da China
Preocupações aumentaram na semana passada, após a China registrar no terceiro trimestre o menor crescimento desde o auge da crise financeira global
Reuters
Publicado em 23 de outubro de 2018 às 16h13.
São Francisco - As empresas dos Estados Unidos têm se beneficiado por uma economia doméstica robusta e cortes profundos de impostos corporativos, mas a desaceleração econômica da China pode atingir as multinacionais, que têm uma grande dependência do crescimento do país asiático.
Esse novo risco começou a arrepiar Wall Street à medida que os efeitos de uma desaceleração acentuada na segunda maior economia do mundo se espalham além de suas fronteiras e reduzem os lucros de empresas norte-americanas.
A lista de possíveis vítimas está crescendo e não se limita às empresas norte-americanas. A General Motors sofreu com o encolhimento das vendas de automóveis na China e a Volvo alertou na sexta-feira, 19, que espera que a demanda por caminhões do país chinês caia cerca de 13 por cento, enquanto a indústria da construção civil esfria.
"A pergunta que os investidores farão não é necessariamente o impacto para o trimestre atual, mas, 'se a China continuar desacelerando, qual será o impacto para o resto de 2018 e 2019?'", disse Patrick Palfrey, analista do Credit Suisse.
McDonald's, 3M, Boeing e Eastman Chemical dependem da China para mais de 10 por cento de suas receitas, de acordo com estimativas do Refinitiv, e vão divulgar resultados trimestrais esta semana. A Caterpillar, que divulgou resultados nesta terça-feira, 23, viu suas vendas de máquinas de construção na Ásia-Pacífico aumentar 43 por cento no primeiro semestre do ano, impulsionadas pela demanda de construção e infraestrutura na China.
No segundo trimestre, as vendas orgânicas da 3M na China e em Hong Kong cresceram 12 por cento, mais do que em qualquer outra região. Várias empresas de chips do S&P 500 também divulgarão seus resultados durante a próxima semana, incluindo a Texas Instruments e Intel, que têm mais de um quinto de suas vendas direcionadas à China.
A China está tentando superar múltiplos desafios depois que uma guerra comercial com os Estados Unidos desencadeou uma forte liquidação nos mercados acionários domésticos e um forte declínio do iuan ante o dólar. As preocupações aumentaram na semana passada, após a China registrar no terceiro trimestre o menor crescimento econômico desde o auge da crise financeira global.
Citando vendas fracas no terceiro trimestre na China, o Morgan Stanley cortou na semana passada os preços-alvo para a Ford e a General Motors, levando as ações da Ford ao menor patamar desde 2009. A Ford deve reportar queda no lucro trimestral na quarta-feira.
A China foi responsável por pouco mais da metade das vendas de veículos da GM durante o primeiro semestre de 2018, e em julho a montadora destacou o lucro trimestral recorde de suas operações chinesas.
Os analistas esperam, em média, um salto de 22 por cento no lucro por ação das empresas do S&P 500 no trimestre encerrado em setembro, de acordo com dados I/B/E/S da Refinitiv. Mas o crescimento mais lento do lucro médio é esperado para 2019, quando os cortes de impostos corporativos completaram um ano.
O Goldman Sachs disse em um relatório na sexta-feira que espera que o lucro por ação do S&P 500 cresça 7 por cento no próximo ano sob um cenário "básico". Mas os lucros permanecerão inalterados se os EUA aplicarem tarifas de 25 por cento a todas as importações chinesas, disse o banco.