Resultado do PIB não altera decisão do Copom, diz Loyola
Ex-presidente do Banco Central acredita que o Copom vai repetir a dose da reunião passada, elevando os juros em 0,75 ponto porcentual nesta quarta (9)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2010 às 14h50.
São Paulo - O ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, acredita que os dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta terça (8) não alteram a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a taxa básica de juros, atualmente em 9,50% ao ano.
Os oito integrantes do Copom debatem na terça (8) e na quarta (9) a intensidade do aperto monetário. O boletim Focus prevê alta de 0,75 ponto percentual, mas há analistas que defendem uma elevação de um ponto. Os empresários, por outro lado, afirmam que não há inflação de demanda que justifique mais uma subida nos juros.
"A gente projeta alta da Selic nas próximas quatro reuniões", diz Loyola, que completa: "Nesta quarta (9), o aperto deve ser de 0,75 ponto percentual; se for de um ponto, será uma surpresa."
O economista classifica como "superaquecimento" a expansão de 2,7% do PIB no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre. "Essa dado anualizado dá mais de 11%, bem acima do nosso PIB potencial que é de 4,5% ou, na melhor das hipóteses, de 5%", explica Loyola.
"É normal em épocas de recuperação cíclica você ter o PIB crescendo acima do potencial porque ele vem de um nível mais baixo, mas, em algum momento, esse crescimento vai se arrefecer e isso já está acontecendo agora, no 2º trimestre, que deve ter alta de 1%", diz. Para o ano, a Tendências Consultoria prevê crescimento de 6,6% da economia brasileira.
Gustavo Loyola considera "baixa" a probabilidade de a crise europeia contaminar a economia brasileira. "Num cenário extremo, mas pouco provável, teríamos uma crise de confiança como a gerada pela quebra do Lehman Brothers, em 2008. Isso aconteceria, por exemplo, se a Grécia deixasse de honrar suas obrigações, gerando estresse muito forte no mercado e dúvidas sobre a situação do sistema bancário europeu", explica o ex-presidente do Banco Central no período de junho de 1995 a agosto de 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Eleições 2010
Quanto à campanha eleitoral, o economista diz que "tudo indica que não haverá estresse". "Do lado da ex-ministra Dilma Rousseff, há uma preocupação em acalmar o mercado, sinalizando que não haverá mudanças. Do lado do ex-governador José Serra, a gente vê ele repetir aquelas ideias sobre Banco Central, juros e câmbio, mas o mercado não atribui probabilidade de ruptura. Portanto, o cenário deste ano é bem diferente do que tivemos em 2002", diz Loyola.
Na avaliação do ex-presidente do Banco Central, a prioridade macroeconômica do próximo governante deve ser a manutenção do regime de metas de inflação, do câmbio flutuante e da autonomia operacional do Banco Central.
Na área fiscal, a missão principal é buscar uma redução gradual dos gastos públicos e, dentro desse item, "melhorar a composição, aumentando os investimentos públicos e reduzindo os gastos de custeio", diz Loyola, que defende ainda a aprovação das reformas estruturais que viabilizem os investimentos necessários para a ampliação da infraestrutura brasileira. "É o nosso calcanhar de Aquiles", conclui.