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Reformas, inflação e desemprego: os 1000 dias de Bolsonaro na economia

Para analistas, agenda prometida avançou pouco e desempenho do PIB está descolado da média mundial

O IPCA-15 já passa de 10% em doze meses, e a previsão é que feche o ano em 8,35% (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
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Agência O Globo

Publicado em 27 de setembro de 2021 às 08h42.

Ao longo dos mil dias do governo Bolsonaro , o ministério da Economia viveu um ajuste entre a expectativa e a realidade. A expectativa: fazer reformas estruturantes, privatizar estatais, reduzir o número de desempregados. A realidade: apenas a reforma da Previdência foi aprovada, foram criadas novas empresas públicas — nenhuma foi vendida — e o número de pessoas à procura de trabalho aumentou. Além disso, o apoio do presidente à agenda liberal encolheu à medida que crescem os esforços para a reeleição.

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Em meio às crises vividas pelo governo Bolsonaro nos últimos mil dias, a situação econômica do Brasil foi se deteriorando com o passar do tempo, sobretudo durante a pandemia de Covid-19. Se nos dois primeiros anos de gestão o país conseguiu entregar inflação dentro das faixas da metas do Banco Central, em 2021 ela deverá ser mais que o dobro. O IPCA-15 já passa de 10% em doze meses, e a previsão é que feche o ano em 8,35%, superando o centro da meta, de 3,75%, e a margem, de até 5,25%.

Além da conta do mercado ficar mais salgada, o brasileiro sentiu no bolso a alta do preço médio do litro da gasolina. Antes da posse do presidente, o custo médio do litro do combustível era de R$ 4,33. Nesta semana, chegou a R$ 6,076, uma alta de 40,3% no período, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Isso teve reflexo direto na Petrobras. Sob pressão dos caminhoneiros, insatisfeitos com o aumento do custo com combustível, Bolsonaro anunciou numa live em fevereiro que interferiria na estatal. O efeito foi imediato: as ações da companhia registraram uma desvalorização histórica. No mês seguinte, o então presidente da empresa, o economista Roberto Castello Branco, homem de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes, foi substituído pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna.

A trocas de cargos estratégicos se tornou uma prática recorrente no governo Bolsonaro, e a equipe econômica também sofreu baixas. Secretários como Paulo Uebel, responsável por conduzir a reforma administrativa, e Salim Mattar, destacado para tocar as privatizações, deixaram o governo insatisfeitos com a paralisação da agenda liberal.

— Tivemos um início de governo prometendo uma série de reformas liberais, mas poucas coisas avançaram, com exceções de questões menores, como a nova Lei das Falências e o novo marco do Saneamento. O resto vinha do governo Temer. O PIB global caiu 3,3% em 2020 e subirá 6% neste ano, enquanto que no Brasil caiu 4,1% no ano passado e deverá subir 4,7% em 2021, ou seja, na comparação com o resto do mundo nosso resultado é negativo — diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Considerado um dos “desafios urgentes” do país no programa de governo de Bolsonaro, a fila de desempregados passou de 13 milhões de pessoas para as atuais 14,4 milhões. Embora grande parte desse cenário seja decorrente dos efeitos causados pela pandemia, iniciativas da equipe econômica para gerar empregos, como a Carteira Verde e o Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), estão emperrados.

Enquanto isso, dentre as palavras mais utilizadas pelo presidente em seus discursos e posts no Twitter não constavam "emprego", "inflação", "combustível" nem referências a projetos da equipe econômica.

Na avaliação de especialistas, faltou empenho do presidente em aprovar projetos para melhorar a condição do mercado de trabalho. Segundo eles, mesmo pontos positivos da economia que avançaram, como a reforma da Previdência, a melhora no ambiente de negócios e concessões, foram frutos de uma gestão anterior à de Bolsonaro. Por outro lado, muitos veem retrocessos na agenda liberal como o aumento, mesmo que provisório, do IOF para bancar o avanço do novo programa social que o governo quer fazer funcionar às vésperas das eleições em 2022, rasgando a promessa de não aumentar impostos.

— O que fica mais forte hoje para o mercado e para os empresários é que este governo não tem uma estratégia. Não tem uma agenda clara. Ele foi eleito muito por causa do fracasso econômico de outros governos e partidos, prometendo uma agenda liberal ousada, e o que vimos foi o aumento das incertezas. Assim, muitos agentes econômicos perderam o fundamental para investir e crescer: a previsibilidade. Com este presidente todo dia é dia de surpresas, isso embute um risco político que é péssimo para os negócios — afirma Juliana Inhasz, professora do Insper, que classifica como maior frustração a falta de uma reforma tributária robusta.

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