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Reformas da China 40 anos depois: o que vem a seguir?

Um olhar sobre as quatro décadas de crescimento vertiginoso e os desafios do país

Pequim, China, 5 de fevereiro de 2019: manifestações artísticas marcam o Ano Novo Lunar (Artyom Ivanov \ TASS/Getty Images)

Ligia Tuon

Publicado em 11 de maio de 2019 às 08h00.

Última atualização em 11 de maio de 2019 às 08h00.

A economia chinesa estava à beira do colapso depois de um período de dez anos de caos extremo, conhecido como a Revolução Cultural, que abalou o país entre 1966 e 1976. Em maio de 1978, o Guangming Daily publicou um artigo de um comentarista especial intitulado : "A prática é o único padrão para testar as verdades", que oficialmente inaugurou uma era de reforma e abertura. O ano de 2018 marcou o 40º aniversário deste momento importante na história chinesa moderna. Confúcio disse certa vez: “Aos quarenta anos, não se está mais perplexo com o mundo ao seu redor”. A questão permanece: o resto do mundo está menos perplexo com a China hoje?

Primeira Década: o começo

Durante a primeira década (1978-1988) de “reforma e abertura”, os passos que a China tomou foram decididamente cautelosos e hesitantes. Houve muito debate sobre o que a reforma significaria e se levaria a China na direção que precisava seguir. O lema mais frequentemente recitado desse período era: “atravessar a corrente sentindo as pedras”. A China e os Estados Unidos estabeleceram relações diplomáticas em 1 de janeiro de 1979. Legislações sobre joint-ventures sino-estrangeiras foram aprovadas no mesmo ano. Empresas estrangeiras notáveis que fizeram fila para investir na China incluíram Panasonic, Sony e Toshiba do Japão, bem como a Volkswagen da Alemanha. O PIB da China atingiu US$ 312,4 bilhões em 1988, um aumento de 270% em relação a 1979.

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Segunda Década: Espremida por crises

A segunda década da Era da Reforma na China registrou duas crises, uma política em 1989 e outra econômica em 1998. O incidente de Tiananmen no verão de 1989 aconteceu em um momento em que os próprios chineses não tinham certeza sobre o papel da economia de mercado em uma nação supostamente socialista. Na sequência de sanções internacionais, como resultado da repressão de Tiananmen, o número de empresas privadas caiu de 200.000 para 90.600. No entanto, no final de 1990, as bolsas de valores foram estabelecidas em Xangai e Shenzhen. O líder supremo Deng Xiaoping, embora em idade avançada naquela época, declarou em 1992 que as reformas chinesas estavam em um caminho sem retorno; o número de empresas privadas disparou. Essa década viu o surgimento de várias empresas privadas influentes, como a Lenovo e a Huawei. Outras empresas notáveis estabelecidas durante esse período incluíram o conglomerado Fosun, a seguradora Taikang e outras. O PIB da China atingiu US$ 1,03 trilhão em 1998, um aumento de 230% em relação a 1988.

Terceira Década: a China se torna a fábrica do mundo

De longe, o desenvolvimento mais significativo durante a terceira década da Era da Reforma (1998-2008) foi a chegada da China à Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro de 2001. Isso deu ao país a oportunidade de se tornar a “fábrica do mundo”. Na cidade costeira de Hangzhou, Jack Ma levantou 500.000 yuans para criar o Alibaba em 1999. No mesmo ano, a Tencent lançou um serviço de mensagens instantâneas em Shenzhen, no sul da China. O mercado de comércio eletrônico da China estava pronto para decolar. Com um PIB de US$ 4,6 trilhões, a China se tornou a terceira maior economia do mundo em 2008. O PIB cresceu cerca de 350% ao longo da década.

Quarta Década: enfrentando crises globais

A quarta década (2008-2018) da Era da Reforma começou contra a mais severa crise financeira global desde a Segunda Guerra Mundial. Em parte devido ao seu sistema bancário relativamente insular, a economia chinesa sobreviveu à crise com apenas alguns arranhões. Um controverso pacote de estímulo de 4 trilhões de yuans ajudou a estabilizar a economia durante a recessão econômica global. Os preços de casas subiram em 2009 e a economia dependia cada vez mais do setor imobiliário. Um empresário chinês pouco conhecido chamado Li Shufu fez uma oferta para adquirir a Volvo no mesmo ano. Muitas outras empresas chinesas também estavam ocupadas adquirindo ativos no exterior. Em 2018, o PIB da China ficou em US$ 13,82 trilhões, um salto de 160% em relação à década anterior e o suficiente para colocar a China bem á frente dos EUA (em termos de poder aquisitivo. A economia chinesa já era a número um).

O crescimento pode continuar?

Após quarenta anos de crescimento a uma velocidade vertiginosa, a economia chinesa está visivelmente desacelerando nos últimos anos. Apesar de um relaxamento parcial nas políticas de controle populacional, o número de pessoas na faixa etária de trabalho atingiu o pico em 2012 e o dividendo demográfico está desaparecendo. Uma maior urbanização ainda pode trazer oportunidades de crescimento, mas há preocupações persistentes com relação aos elevados preços das propriedades e altos níveis de endividamento em toda a economia. Quais poderão ser as novas forças motrizes da economia da China na próxima década? A China será capaz de abandonar sua antiga imagem de seguidor e imitador de tecnologia e se graduar como um inovador genuíno na era da robótica e da inteligência artificial? A China será capaz de suportar os ventos contrários à globalização e outros desafios geopolíticos? Ninguém tem a proverbial bola de cristal, mas as probabilidades são de que a China continuará sendo uma das economias de melhor desempenho entre os países do G20, se seus líderes se comprometerem com um conjunto de políticas que estimulem a concorrência interna e externa.

Winter Nie é professora de administração no IMD. Ela é diretora regional do IMD Sudeste Asiático e Oceania. Este artigo foi co-escrito com Yunfei Feng e James Wang.

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