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Reforma da Previdência não sai antes de 2019, diz Mario Mesquita

O fracasso do governo em aprovar a reforma da Previdência, no entanto, não deve elevar muito a tensão do mercado financeiro, avaliou o economista

Itaú: "A capacidade do governo de direcionar a agenda legislativa vai sendo enfraquecida" (Dado Galdieri/Bloomberg)
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Reuters

Publicado em 4 de setembro de 2017 às 16h51.

São Paulo - O ano de 2017 deve terminar com o cenário econômico melhor do que o político e legislativo, o oposto do que se via nos primeiros meses, mas isso significa que a reforma da Previdência não será votada nem em 2018, avaliou o economista-chefe do banco Itaú Unibanco, Mario Mesquita.

"A capacidade do governo de direcionar a agenda legislativa vai sendo enfraquecida se ele precisar usar capital político para outros fins", afirmou ele em entrevista à Reuters nesta segunda-feira, em referência à possibilidade de o presidente Michel Temer receber novas denúncias por crimes e que precisarão passar pelo crivo da Câmara dos Deputados para seguir adiante.

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"A gente acha que o governo tem apoio para aprovar medidas que requeiram maioria simples, mas consideramos 308 deputados (necessários para aprovar a reforma da Previdência) um desafio muito maior", acrescentou. "Não está mais na nossa conta a aprovação da reforma da Previdência neste e no próximo ano".

Mesquita, que foi diretor do Banco Central de 2006 a 2010, quando a autoridade monetária estava sob a batuta do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também acredita que o governo terá de fazer novo contingenciamento no Orçamento deste ano para cumprir a meta fiscal e, assim, não precisar elevar mais impostos.

O fracasso do governo em aprovar a reforma da Previdência, no entanto, não deve elevar muito a tensão do mercado financeiro, por ora, avaliou, por causa de dois fatores: cenário benigno internacional e expectativa de que um candidato reformista consiga ganhar a eleição presidencial de 2018.

"Os mercados internacionais estão benignos. O grande risco é a política monetária nos Estados Unidos ser mais contracionista, mais agressiva, e esse risco parece limitado porque os salários estão bem comportados", argumentou Mesquita.

Com o cenário fiscal bastante conturbado, Mesquita acredita que a dívida bruta do país somente começará a recuar no final da próxima década. Mas sob uma condição: "Se passar a (reforma da) Previdência em 2019, o auge da dívida será de 85 por cento do PIB em 2027", afirmou ele.

Hoje, a dívida bruta do país está em 73,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados recentes do BC.

Crescimento maior e juro menor

Mesquita diz que a economia tem mostrado mais força do que o esperado e, por isso, vai elevar a projeção de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 0,3 por cento para algo próximo a 1 por cento, mantendo a previsão de expansão de 2,7 por cento em 2018, mas com viés de alta.

"Se o cenário eleitoral for tranquilo, é possível que a economia comece a acelerar e ganhe mais tração em 2018", acrescentou ele.

O economista também vê um cenário mais positivo para o mercado de trabalho que, ao que tudo indica, já pode estar mostrando recuperação consistente. Em julho, no último dado divulgado, a taxa de desemprego ficou em 12,8 por cento, segundo nível mais baixo do ano, ficando atrás apenas dos 12,6 por cento observados em janeiro.

"A nossa expectativa era que o desemprego só começaria a cair no primeiro e segundo trimestres de 2018", disse.

O Itaú também estima que o atual ciclo de corte da Selic deve chegar a 7 por cento no início do ano que vem, o que também deve colaborar para a retomada da economia. Hoje, a taxa básica de juros está em 9,25 por cento ao ano.

"Na nossa visão, precisamos ter novas surpresas para baixo da inflação para justificar uma projeção de taxa de juros abaixo de 7 por cento", afirmou Mesquita.

O ex-diretor do BC disse ainda que, mesmo os recentes aumentos de preços promovidos pela Petrobras nos combustíveis, sobretudo pelo estrago feito pelo furacão Harvey que impactou a produção de petróleo nos Estados Unidos, não vão impactar a inflação no Brasil e, consequentemente, a política monetária.

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