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Recuo do BNDES prejudica emissores em meio a aumento de juro

Medida pode ter como consequência um aumento dos custos para as empresas locais, que já enfrentam um cenário de maior dificuldade no exterior

Sede do BNDES: três empresas brasileiras cancelaram ofertas de bonds no exterior nos últimos 30 dias (Divulgação/BNDES)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2014 às 14h01.

São Paulo - O plano da nova equipe econômica de reduzir os repasses do Tesouro a bancos públicos surge em um momento inoportuno para as companhias locais.

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu no mês passado reduzir as transferências para bancos estatais, incluindo o BNDES , como parte de uma estratégia para diminuir os níveis atuais da dívida do país após a Standard Poor’s rebaixar o rating de crédito do Brasil para perto do grau especulativo em março.

Embora a sinalização já tenha reduzido os custos de financiamento do país no mercado de bonds, pode ter como consequência um aumento dos custos para as empresas locais, que já enfrentam um cenário de maior dificuldade no exterior, com os juros pagos no nível mais alto dos últimos 13 meses.

A estratégia de Levy marca uma mudança de rumo após o financiamento para o BNDES ter aumentado durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o que beneficiou grandes tomadores corporativos, incluindo a Petrobras, a Norte Energia SA e a Oi SA.

Três empresas brasileiras cancelaram ofertas de bonds no exterior nos últimos 30 dias diante de um cenário que combina estagnação econômica com uma investigação na Petrobras que leva os investidores a evitarem títulos do país.

“Considerando os sinais dados por Levy até agora, nós deveremos ver o BNDES reduzindo o ritmo de concessões, o que implica em custos mais altos para as empresas que recorreram ao financiamento subsidiado nos últimos anos”, disse Bruno Rovai, analista do Barclays, de Nova York.

“Essas empresas precisarão buscar alternativas nos mercados de capitais e terão que pagar mais”.

‘Importância crescente’

As assessorias de imprensa do BNDES, do Ministério da Fazenda e do Tesouro preferiram não comentar sobre as transferências para o banco de desenvolvimento.

Os mercados de capitais terão uma “importância crescente” e serão complementares ao sistema bancário, disse Levy, no dia 27 de novembro, em um discurso em Brasília.

Ele mencionou que para reduzir a dívida bruta do país o governo não pode expandir as transferências para instituições financeiras públicas.

A média da taxa de juros paga por bonds corporativos brasileiros subiu quase um ponto porcentual nos últimos seis meses, para 7,02 por cento, patamar mais alto entre os maiores países latino-americanos, em um momento em que uma investigação em empresas de construção que teriam formado um cartel para ganhar contratos, incluindo R$ 59 bilhões (US$ 23 bilhões) da Petrobras, engloba mais empresas.

Embora os mercados locais de dívida continuem abertos aos tomadores de empréstimo corporativos, os custos de financiamento são mais altos do que as taxas de juros oferecidas pelos bancos de desenvolvimento do Brasil. O BNDES empresta a uma taxa de ao menos 5 por cento ao ano.

Os emissores que vendem notas no mercado local do Brasil pagaram uma média de 11,96 por cento neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Maiores recebedores

A Petrobras e mais de 70 projetos relacionados à empresa e à exploração de petróleo no Brasil estão entre os maiores recebedores de dinheiro do BNDES de 2009 para cá, segundo um relatório publicado no site do banco.

O banco não revela os montantes desembolsados. Entre os outros grandes clientes estão a Norte Energia, responsável pela construção da usina hidrelétrica em Belo Monte, e a empresa de telefonia Oi.

As assessorias de imprensa da Petrobras e da Norte Energia não responderam aos telefonemas e mensagens de e-mail em busca de comentários sobre o financiamento que as empresas receberam do BNDES.

A Oi afirmou em nota que a companhia tem liquidez suficiente para suas necessidades de caixa e refinanciamento de dívidas em 2015, e que eventualmente aproveita oportunidades de mercado para reduzir o custo e alongar o prazo de sua dívida.

“Nós deveremos ver o BNDES sendo mais seletivo para conceder crédito, privilegiando empresas menores”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil SA, por telefone, de São Paulo. “As grandes empresas deverão procurar alternativas nos mercados de capital”.

Na semana passada, o governo autorizou uma transferência de R$ 30 bilhões do Tesouro para o BNDES. O dinheiro será usado para financiar a aquisição de equipamentos e maquinários, disse no dia 3 de dezembro o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não ocupará o posto no segundo mandato de Dilma. Ele também disse que o montante a ser transferido para o BNDES diminuirá neste ano e no próximo.

As empresas terão que recorrer cada vez mais aos mercados de capital para conseguir financiamento, segundo Carlos Ratto, diretor comercial e de produtos da câmara de compensação de títulos Cetip SA Mercados Organizados.

“Levy é um cara do mercado e que entende a importância de um mercado de capital local forte”, disse ele, de São Paulo.

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O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu no mês passado reduzir as transferências para bancos estatais, incluindo o BNDES , como parte de uma estratégia para diminuir os níveis atuais da dívida do país após a Standard Poor’s rebaixar o rating de crédito do Brasil para perto do grau especulativo em março.

Embora a sinalização já tenha reduzido os custos de financiamento do país no mercado de bonds, pode ter como consequência um aumento dos custos para as empresas locais, que já enfrentam um cenário de maior dificuldade no exterior, com os juros pagos no nível mais alto dos últimos 13 meses.

A estratégia de Levy marca uma mudança de rumo após o financiamento para o BNDES ter aumentado durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o que beneficiou grandes tomadores corporativos, incluindo a Petrobras, a Norte Energia SA e a Oi SA.

Três empresas brasileiras cancelaram ofertas de bonds no exterior nos últimos 30 dias diante de um cenário que combina estagnação econômica com uma investigação na Petrobras que leva os investidores a evitarem títulos do país.

“Considerando os sinais dados por Levy até agora, nós deveremos ver o BNDES reduzindo o ritmo de concessões, o que implica em custos mais altos para as empresas que recorreram ao financiamento subsidiado nos últimos anos”, disse Bruno Rovai, analista do Barclays, de Nova York.

“Essas empresas precisarão buscar alternativas nos mercados de capitais e terão que pagar mais”.

‘Importância crescente’

As assessorias de imprensa do BNDES, do Ministério da Fazenda e do Tesouro preferiram não comentar sobre as transferências para o banco de desenvolvimento.

Os mercados de capitais terão uma “importância crescente” e serão complementares ao sistema bancário, disse Levy, no dia 27 de novembro, em um discurso em Brasília.

Ele mencionou que para reduzir a dívida bruta do país o governo não pode expandir as transferências para instituições financeiras públicas.

A média da taxa de juros paga por bonds corporativos brasileiros subiu quase um ponto porcentual nos últimos seis meses, para 7,02 por cento, patamar mais alto entre os maiores países latino-americanos, em um momento em que uma investigação em empresas de construção que teriam formado um cartel para ganhar contratos, incluindo R$ 59 bilhões (US$ 23 bilhões) da Petrobras, engloba mais empresas.

Embora os mercados locais de dívida continuem abertos aos tomadores de empréstimo corporativos, os custos de financiamento são mais altos do que as taxas de juros oferecidas pelos bancos de desenvolvimento do Brasil. O BNDES empresta a uma taxa de ao menos 5 por cento ao ano.

Os emissores que vendem notas no mercado local do Brasil pagaram uma média de 11,96 por cento neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Maiores recebedores

A Petrobras e mais de 70 projetos relacionados à empresa e à exploração de petróleo no Brasil estão entre os maiores recebedores de dinheiro do BNDES de 2009 para cá, segundo um relatório publicado no site do banco.

O banco não revela os montantes desembolsados. Entre os outros grandes clientes estão a Norte Energia, responsável pela construção da usina hidrelétrica em Belo Monte, e a empresa de telefonia Oi.

As assessorias de imprensa da Petrobras e da Norte Energia não responderam aos telefonemas e mensagens de e-mail em busca de comentários sobre o financiamento que as empresas receberam do BNDES.

A Oi afirmou em nota que a companhia tem liquidez suficiente para suas necessidades de caixa e refinanciamento de dívidas em 2015, e que eventualmente aproveita oportunidades de mercado para reduzir o custo e alongar o prazo de sua dívida.

“Nós deveremos ver o BNDES sendo mais seletivo para conceder crédito, privilegiando empresas menores”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil SA, por telefone, de São Paulo. “As grandes empresas deverão procurar alternativas nos mercados de capital”.

Na semana passada, o governo autorizou uma transferência de R$ 30 bilhões do Tesouro para o BNDES. O dinheiro será usado para financiar a aquisição de equipamentos e maquinários, disse no dia 3 de dezembro o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não ocupará o posto no segundo mandato de Dilma. Ele também disse que o montante a ser transferido para o BNDES diminuirá neste ano e no próximo.

As empresas terão que recorrer cada vez mais aos mercados de capital para conseguir financiamento, segundo Carlos Ratto, diretor comercial e de produtos da câmara de compensação de títulos Cetip SA Mercados Organizados.

“Levy é um cara do mercado e que entende a importância de um mercado de capital local forte”, disse ele, de São Paulo.

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