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Recados de Lula e Meirelles serão avaliados na reunião do Copom

Especialistas acreditam que seria melhor manter a taxa básica de juros mais um mês em 26,5%

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h29.

A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, começa oficialmente nesta terça-feira (20/5) com muitos recados. O principal deles é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que falou nesta segunda-feira (19/5) em cautela sobre os juros em sua reunião ministerial. O presidente vem afirmando que a maior ameaça é a inflação e a ortodoxia do ministro Antônio Palocci tem usado o juro alto para combatê-la.

Em uma reunião nesta segunda na Câmara Americana de Comércio, no Rio, o presidente do BC, Henrique Meirelles, voltou a alertar sobre os riscos da inflação. "A inflação é um problema. É uma ameaça. Todos os países que cresceram tiveram baixa inflação como condição prévia. Quer dizer: a inflação não é uma amiga. Temos de ter consciência que a inflação, como eu gosto de dizer, é como uma febre. Temos febre, tudo bem, trabalhamos e tratamos para acabar com a febre. Não podemos partir do pressuposto que vamos conviver de uma forma crônica", disse.

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Analistas do mercado financeiro e economistas sinalizam que ainda não é hora de baixar a taxa do atual patamar de 26,5%. "Os riscos associados ao corte de juros neste momento superam os possíveis benefícios de antecipar o corte de juros, notadamente no que se refere à atividade econômica", afirma o CSFB em sua análise especial sobre os juros. Além disso, os recém-divulgados indicadores de inflação mostram que as quedas têm realmente acontecido, mas ainda não chegaram ao consumidor.

Para o banco, apesar dos sinais positivos vindos dos indicadores mais recentes de inflação, os índices mensais de IPCs e suas medidas de núcleo de inflação continuam bastante elevados, ao redor de 1% ao mês e, portanto, bem acima do patamar das metas de inflação para 2003 e 2004.

"Esperamos juros estáveis no Copom, mantemos nossa posição de que o Banco Central manterá os juros estáveis em 26,5% ao ano, sem viés", afirma o CSFB. "É necessário manter uma política monetária conservadora, em razão das incertezas ainda grandes sobre a trajetória de curto prazo dos preços da economia, notadamente inflação e taxa de câmbio."

"A manutenção dos juros concede um maior tempo para melhor se avaliar o comportamento da taxa de câmbio, dado que parte da apreciação observada até agora se deveu ao influxo de capitais de curto prazo", afirma o CSFB.

Na contra-mão da expectativa dos empresários, o silêncio do primeiro escalão do governo vem acompanhado por previsões e conselhos nada animadores dos analistas econômicos, defendendo justamente a manutenção da Selic nos atuais 26,5%.

"Se eu fosse o BC, mantinha a cautela e esperava mais um pouco antes de iniciar uma rota de queda nos juros básicos", diz Mailson da Nóbrega, sócio-diretor da Tendências Consultoria. "Seria precipitado reduzir os juros agora, assim como seria uma insensatez puxar a taxa de câmbio para favorecer a exportações." Na avaliação de Nóbrega, a inflação pode estar cedendo levemente no atacado, mas os indicadores do custo de vida para o consumidor final ainda estão muito elevados.

A opinião do ex-ministro é compartilhada pelo economista-chefe do Lloyds TSB, Odair Abate: "Os núcleos de inflação não caíram o bastante. É preciso ainda esperar os resultados dos índices de maio e junho." Para ele, as quedas observadas nas taxas de inflação medidas em abril são reflexo de fatores momentâneos, como a redução do preço dos combustíveis e dos alimentos. "Ainda não é o momento de redução dos juros", afirma.

"Apesar da compreensível ansiedade, não chegou a hora de reduzir a Selic", diz Paulo Leme, diretor para mercados emergentes do banco de investimentos americano Goldman Sachs. "Não dá para cogitar queda dos juros antes de dois meses." Nóbrega e Leme participaram na manhã desta quinta-feira (15/5) de debate promovido pela agência de notícias Bloomberg, ao lado de representantes do governo e da iniciativa privada.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) concorda com os economistas. Ele acha que o país precisa de taxas menores para crescer, mas defendeu uma queda progressiva e segura dos juros. " Acho que todas as condições da economia brasileira, especialmente a queda na inflação, contribuem para que isso venha ocorrer. Agora, quando, quanto e como, só o Copom e o BC têm os instrumentos e o poder decisório. " Já o vice-presidente, José Alencar (PL), considerou um "despropósito", nesta quarta-feira (14/5), a atual taxa de 26,5% ao ano. Os demais integrantes do governo ou do Banco Central evitam fazer comentários sobre os juros, mas sinalizam que há resistência por parte da autoridade monetária em mexer na taxa, provavelmente pelas questões técnicas, como os núcleos da inflação, por exemplo.

"Os juros vão cair ainda neste ano e no momento oportuno , diz Bernard Appy, secretário executivo do Ministério da Fazenda, sem fixar datas. De acordo com Appy, o comportamento da inflação surpreendeu o governo porque "mostrou resistência acima da esperada", mas o secretário de Fazenda evita projeções para a Selic. "A decisão caberá ao Copom", diz Ilan Goldfajn, diretor de Política Econômica do Banco Central. Segundo Goldfajn, as preocupações do governo são conter a alta da inflação, manter uma política fiscal responsável e garantir a solvência do Brasil para criar condições de crescimento sustentável nos próximos meses. "Precisamos cautela contra a volatilidade no humor dos mercados e foco nas reformas da previdência e tributária."

Mas a certeza é uma só: mantendo ou reduzindo os juros o Banco Central será criticado pelo mercado. "As mesas de operação estão muito propensas a queda da Selic", afirma Abate. "As críticas serão ou por excesso de conservadorismo ou por ter sido prudentes." É esperar para ver.

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