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Reajuste da Petrobras não impede queda dos juros, dizem analistas

Desaceleração da produção industrial em julho, de 2,5% ante junho, é um argumento muito mais forte a favor do corte de juros que o aumento da inflação por conta do reajuste da Petrobras, diz Jason Vieira, economista da GRC Visão

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h27.

Mais uma vez, quando tudo parecia indicar uma redução da Selic, taxa básica de juros da economia, uma novidade lança dúvidas sobre o início do ciclo de afrouxamento da política monetária. A Petrobras finalmente chegou à conclusão de que o patamar das cotações internacionais de petróleo mudou. Satisfeita a condição que repetia exaustivamente como necessária para aumentar os preços dos combustíveis no Brasil, a estatal anunciou reajustes nas refinarias, em vigor desde 10 de setembro, de 10% para a gasolina e 12% para o diesel. O preço final ao consumidor deve subir de 7,5% a 9% no caso da gasolina e cerca de 10% no caso do diesel.

A medida não resolve a defasagem dos preços internos. Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, o preço da gasolina ainda apresenta uma defasagem de 22%, enquanto o preço do diesel está 14% aquém do que deveria ser, levando-se em consideração o mercado internacional (com base nas cotações de sexta-feira).

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Embora não satisfaça plenamente aos acionistas da Petrobras, a correção já representa uma mudança importante no cenário adotado pelo Banco Central em sua política de controle da inflação. O BC vinha trabalhando com a premissa de reajuste zero dos combustíveis em 2006. O aumento dos preços, a poucos dias do anúncio do novo patamar da Selic, representa uma variável inesperada -- ao menos no mundo desenhado nas atas do Comitê de Política Monetária --, e pode atiçar o conservadorismo do comitê.

Para Jason Vieira, economista da GRC Visão, a desaceleração da produção industrial em julho (2,5% ante junho, conforme o IBGE) é um argumento muito mais forte a favor do corte de juros que o aumento da inflação por conta do reajuste da Petrobras. "A desaceleração industrial esvaziou os argumentos do BC de que a aceleração da indústria geraria inflação", diz. "O aumento da Petrobras altera muito pouco as expectativas para este ano."

Marcel Pereira, economista-chefe da RC Cosultores, também não acredita que o aumento dos combustíveis será usado pelo comitê como justificativa para manter a Selic em 19,75% ao ano. "O reajuste justificaria, no máximo, uma queda mais modesta dos juros, de 0,25 ponto percentual", diz o analista, "mas ainda acho que a possibilidade de queda de 0,5 ponto percentual é maior".

Diante da novidade trazida pela Petrobras e levando em consideração a abordagem conservadora do BC, o Copom será levado a iniciar cautelosamente o ciclo de relaxamento monetário, afirma Mário Mesquita, economista-chefe do ABN Amro Real, em boletim da instituição. Isso significa, para Mesquita, que o BC deverá baixar a Selic na próxima quarta-feira em 0,25 ponto percentual, um corte que aparentemente já havia sido precificado pelo mercado.

Convergência

A favor do corte de juros, seja qual for sua magnitude, está o último relatório de mercado do BC. O levantamento semanal da autoridade monetária junto a profissionais de instituições financeiras aponta que prossegue a convergência das expectativas inflacionárias para a meta oficial. Já são 17 semanas seguidas de queda das projeções do mercado, e dessa vez analistas e governo quase cravaram a mesma taxa. Para os analistas, o IPCA de 2005 deve fechar em 5,2%. O BC almeja idealmente que o IPCA feche em 5,1%, o centro da meta para o ano.

O detalhe é que o anúncio da Petrobras foi feito na sexta-feira à noite, depois das consultas para a elaboração do relatório do BC. Nos cálculos de Pereira, da RC, o aumento dos combustíveis trará um impacto de 0,15 ponto percentual no IPCA do ano. Para Mesquita, do ABN, o ajuste é condizente com sua estimativa de um IPCA de 5,6% em 2005.

Na mosca

Para Vieira, da GRC, o impacto do reajuste será pontual e se concentrará, sobretudo, em setembro. Sem o aumento da Petrobras, a GRC projetava um IPCA próximo de zero para setembro, contra a alta de 0,17% em agosto e de 0,25% em julho. Com o reajuste, deve vir próximo de 0,20% neste mês, um "repique" incapaz de alterar a projeção do IPCA para 2005. No caso da GRC Visão, a estimativa foi mantida em 5,1%, o centro da meta do BC.

Outro sinal de que o mercado aposta em corte nesta reunião é a queda dos juros futuros, segundo Vieira. Na sexta-feira, os contratos de juros para janeiro de 2007 fecharam em 17,66%. "É difícil o BC enfrentar o mercado, nesta situação".

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