Exame Logo

Queda do petróleo pode cortar em 20% investimentos do setor no Brasil

Antes do colapso dos preços, consultoria Wood Mackenzie previa aportes de 3 bilhões de dólares em exploração

Plataforma da Petrobras: petroleira brasileira apontou média de investimentos em exploração de 2,3 bilhões de dólares por ano entre 2020 e 2024 (Photo by Martinez/ullstein bild/Getty Images)
R

Reuters

Publicado em 17 de março de 2020 às 09h51.

Última atualização em 17 de março de 2020 às 10h03.

A derrocada dos preços internacionais do petróleo poderá levar a um corte de 300 milhões a 600 milhões de dólares em investimentos previstos para exploração de petróleo no Brasil em 2020, além de adiar ou até mesmo impedir o tão esperado desenvolvimento de novas fronteiras no país, disseram especialistas da Wood Mackenzie à Reuters.

Antes do colapso dos preços, a renomada consultoria previa para este ano aportes de 3 bilhões de dólares no Brasil em exploração, considerando principalmente planos da Petrobras , da anglo-holandesa Shell, da norueguesa Equinor, dentre outras.

Veja também

Em seu plano de negócios, a petroleira brasileira apontou média de investimentos em exploração de 2,3 bilhões de dólares por ano entre 2020 e 2024.

Para os cálculos, a Wood Mackenzie considera uma redução de até 20% de aportes previstos pela Petrobras para exploração neste ano, além de um corte percentual similar em investimentos de outras petroleiras, caso os preços do petróleo fiquem por volta dos 35 dólares por barril.

Os valores do petróleo Brent, referência global, caíram mais de 50% neste ano, fechando em torno de 30 dólares por barril na segunda-feira, com impactos de uma guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita somando-se aos temores de menor demanda gerados pelo novo coronavírus.

"Acho que todo mundo... está fazendo uma avaliação do que pode fazer para economizar dinheiro, a nossa expectativa é de corte de capex", afirmou à Reuters Marcelo de Assis, chefe de pesquisa da América Latina na área de upstream da Wood Mackenzie.

O especialista ressaltou que atividades exploratórias, como sísmicas e perfurações, caso contratadas, têm mais chances de serem realizadas. Mas a tendência, segundo ele, é que as empresas prefiram gerar caixa do que se comprometer com novos compromissos.

Atualmente, segundo a consultoria, empresas como Petrobras e Shell --as duas maiores produtoras do Brasil-- já têm contratos de perfuração ou de outras atividades exploratórias em curso, que podem ser mantidos.

"A Petrobras tinha um programa bastante extenso para este ano de exploração no pré-sal, vamos ver se realmente será efetivado", afirmou Assis.

Ambas as empresas não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

Já a norte-americana Exxon e a francesa Total ainda aguardam licenças importantes para perfuração, o que facilitaria a postergação de atividades, na avaliação da consultoria.

Em resposta à Reuters, ambas as empresas afirmaram que, até o momento, não houve mudanças nos planos para o país.

A francesa acrescentou que entrou com pedido de licença em fevereiro junto ao Ibama para perfurar o bloco C-M-541, na Bacia de Campos, arrematado em leilão no ano passado por um bônus de assinatura de 4,029 bilhões de reais. Além disso, tem em curso uma campanha de perfuração de quatro poços desde junho de 2019 no campo de Lapa, na Bacia de Santos, com sonda já contratada.

A norueguesa Equinor, para a Wood Mackenzie, provavelmente deverá manter atividades importantes para o desenvolvimento da importante descoberta de Carcará, cuja declaração de comercialidade já foi submetida à agência reguladora ANP.

À Reuters, a Equinor afirmou que está seguindo seus planos e "atualmente não há mudanças no projeto de Carcará ou no programa de exploração".

Incertezas

A possível deterioração do cenário para investimentos em exploração vem após o Brasil ter obtido sucesso em anos anteriores concedendo grandes e promissoras áreas do pré-sal para a exploração e, com isso, arrecadando bilhões de dólares em bônus de assinatura.

Mas tais áreas ainda contêm riscos exploratórios não mitigados e um futuro êxito na produtividade delas não está garantido, ressaltaram especialistas da Wood Mackenzie.

Juliana Miguez, gerente de pesquisa da América Latina na área de upstream, ressaltou que duas grandes áreas concedidas recentemente, Peroba (operado pela Petrobras) e Alto de Cabo Frio Oeste (operado pela Shell), apresentaram resultados não operacionais após as primeiras perfurações.

"Já havia um cenário de incerteza e agora é agravado pelo preço do barril", disse Miguez.

Outra consequência negativa do recuo de preços do petróleo poderá ser um adiamento ainda maior da exploração e desenvolvimento de novas fronteiras no Brasil, algo que governantes e indústria no Brasil vêm buscando há muitos anos em regiões como na margem equatorial.

Há um entendimento de que a exploração do potencial dessas áreas já deveria estar em curso, uma vez que diversos países vêm buscando estimular o desenvolvimento de energias renováveis e reduzir aos poucos o uso do combustível fóssil.

"Se demorar 10 anos entre uma descoberta até o primeiro óleo, a gente já está falando em depois de 2030. Então, imagina como será o cenário, no contexto de transição energética... existe uma chance real desses volumes não serem desenvolvidos", afirmou Miguez.

Acompanhe tudo sobre:PetrobrasPetróleo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame