Por que o Brasil não segue outros países e baixa os juros contra a crise?
Inflação e alta do dólar impedem o Copom de baixar os juros, mas analistas já vêem a possibilidade de manutenção da taxa enquanto o mercado não se acalmar
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2008 às 13h24.
A decisão de dez dos maiores bancos centrais do mundo de reduzir os juros para estimular o crédito - e assim conter a crise que já se alastra pelo globo - despertou a dúvida: o Brasil mudará sua política monetária, suspendendo a trajetória de alta dos juros, ou seguirá na contramão do mundo?
Até agora, a prioridade do Banco Central tem sido não dar trégua à inflação. Desde abril, a autoridade monetária vem elevando gradativamente os juros a um ritmo de 0,5 a 0,75 ponto percentual a cada reunião, mas as rápidas mudanças no cenário econômico global podem fazer com que essa estratégia seja revista. "O sistema financeiro está fora de seu funcionamento normal. Antes de pensar na inflação, o Banco Central terá de fazer com que o sistema volte à normalidade", diz Joel Bogdansky, consultor de Análises Econômicas do Itaú.
Por isso, os economistas acreditam que há a possibilidade de o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manter os juros inalterados em sua próxima reunião, programada para os dias 28 e 29 de outubro. "O ideal seria o Banco Central dar uma pausa no aperto monetário e estudar a situação com calma. Sendo necessário, retoma-se o processo de reajustes na reunião seguinte", avalia Bogdansky.
A queda nos preços das commodities e a desaceleração da economia mundial contribuem para o enfraquecimento da inflação nos próximos meses. Por outro lado, na hora de decidir se mantém ou não os juros nos atuais 13,75% ao ano, o Banco Central também deverá colocar na balança a recente disparada do câmbio. Desde a última reunião do Copom, no mês passado, a moeda americana subiu 22%, acumulando uma valorização de mais de 40% nos últimos dois meses. Com o dólar alto, fica mais caro produzir bens que utilizam componentes importados, o que pode levar as empresas a repassar o aumento de custos ao consumidor. Além disso, o encarecimento de bens e serviços importados também pode alimentar a inflação por torná-los menos competitivos no Brasil, abrindo espaço para que as empresas brasileiras promovam reajustes.
O Banco Central tem agido para frear a alta do dólar, mas ainda assim, a moeda mantém-se acima dos 2 reais. "Mesmo que o dólar volte a cair logo, essa valorização da moeda terá impacto no curto prazo", diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
É por causa desse efeito e das mudanças na economia em ritmo muito acelerado que os analistas não arriscam palpites sobre qual será a decisão do Copom. "O Banco Central não pode deixar a economia travar por falta de crédito, mas também não pode permitir que ela corra demais", afirma o economista-chefe da corretora Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
O economista explica que a falta de liquidez pode não ser resolvida pela queda de juros, já que o que está em jogo é a confiança no sistema financeiro. "Se eu acho que o tomador não vai pagar, não empresto, mesmo tendo dinheiro para isso", avalia. Para contornar esse problema, o governo lançou mão de outros artifícios. Abriu margem para o Banco Central comprar a carteira de crédito de bancos pequenos, alterou as regras do compulsório, escalando a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil para darem o pontapé inicial no plano de socorro às instituições de pequeno porte, e liberou 5 bilhões de reais de crédito a exportadores, que será concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
As medidas evidenciam a disposição do Banco Central para combater a crise internacional, porém com outras armas que não a taxa de juros. É a ânsia de saber se isso mudará daqui pra frente que faz com que o próximo encontro do Copom seja um dos mais esperados dos últimos tempos.