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Por que a crise climática é também de desigualdade econômica

Os 10% mais ricos produzem nada menos do que metade das emissões mundiais

Área de exploração de carvão na Índia: país é o 3º maior emissor de gases efeito estufa no mundo (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 18h07.

São Paulo - As mudanças climáticas estão intimamente ligadas à desigualdade econômica. De saída, a relação pode parecer pouco clara, mas, ao ligar os pontos, ela ganha lucidez.

Historicamente, a crise climática foi majoritariamente impulsionada pelas emissões de gases efeito estufa (GEE) dos países mais ricos, mas, atualmente, ela afeta com mais força as 3,5 bilhões de pessoas mais desprovidas e vulneráveis do globo.

Apesar de ser a mais ameaçada pelas tempestades, secas e outros eventos catastróficos, a metade mais pobre da população mundial é responsável por apenas 10 por cento das emissões de carbono, ao passo que os 10% mais ricos produzem nada menos do que metade das emissões mundiais.

Os dados são de um novo relatório da Oxfam, divulgado nesta quarta-feira durante a COP 21 , a mais importante reunião da ONU sobre clima, que acontece em Paris .

Segundo o estudo, a busca pela redução de custos na produção tem levado a um grave desequilíbrio na balança de responsabilidade pela emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o gás efeito estufa vilão do aquecimento global .

O relatório destaca que as emissões de gases efeito estufa estão sendo terceirizadas pelos países ricos para os emergentes. Seguindo esta linha de raciocínio, se a China é, hoje, um grande poluidor, isso não se justifica, apenas, por seus padrões de consumo e produção internos.

É preciso considerar que as usinas de energia daquele país e de outras economias emergentes, como a Índia, estão queimando combustível - carvão, majoritariamente - para produzir bens para os consumidores norte-americanos, europeus e outras economias.

De acordo com a Oxfam, essa terceirização de produção não alivia a responsabilidade dos países ricos em relação aos impactos ambientais de seus hábitos de consumo .

É verdade que as emissões estão aumentando mais rapidamente nos países em desenvolvimento (a China e a Índia são, hoje, o segundo e o terceiro maiores emissores de GEE no mundo), mas o que a pesquisa mostra é que grande parte deste incremento é reflexo da produção de bens consumidos em outros países.

Ou seja: as emissões associadas ao estilo de vida da grande maioria dos seus cidadãos ainda são muito menores do que suas contrapartes nos países desenvolvidos.

Para se ter uma ideia, os 10% mais ricos da Índia consomem, em média, só um quarto do carbono utilizado pela metade mais pobre da população dos Estados Unidos, e as emissões totais dos 600 milhões mais pobres da China representam só um terço das emissões totais dos 10% mais ricos dos EUA, cerca de 30 milhões de pessoas.

Com isso, chegamos a um dos conceitos mais centrais das negociações da COP21: o de justiça climática.

A maioria dos líderes mundiais reunidos em Paris concordam com o objetivo de limitar o aquecimento global a uma alta de 2ºC até 2100, a fim de se evitar os piores efeitos dos eventos climáticos. Mas há uma série de divergências sobre quem deve arcar com as "despesas e o fardo de reduzir as emissões".

Os países ricos dizem que todo o mundo tem a responsabilidade de reduzir, a fim de garantir o cumprimento de futuras metas de mitigação.

Por sua vez, as nações mais pobres argumentam que o encargo deve ficar com os países desenvolvidos, uma vez que foram eles os que por mais tempo se beneficiaram do crescimento econômico baseado nas fontes fósseis. É nessa queda de braço que as reuniões da ONU costumam se desenrolar, ano após ano.

Mas é preciso desatar esse nó. Afinal, quando se passa em revista a sequência de crises multidimensionais que o planeta enfrenta - a econômica, financeira, climática, de segurança alimentar e política - fica difícil ignorar a necessidade de mudança.

Como sugere o responsável por políticas climáticas da Oxfam, Tim Gore: "Paris precisa marcar o início da formulação de uma economia mais humana para todos, não só para os mais ricos e mais poluidores, mas também para as pessoas mais pobres, que são as menos responsáveis pela mudança climática e as mais vulneráveis a ela."  A conferir.

São Paulo - De 30 de novembro a 11 de dezembro, mais de 150 chefes de Estado e Governos se reúnem na COP21 em Paris, a conferência da ONU mais importante sobre clima . O objetivo é chegar a um amplo e ambicioso novo acordo mundial capaz de frear os efeitos das mudanças climáticas e garantir o futuro da humanidade. Serão duas semanas de uma intensa maratona de negociações.  Longe dali, milhares de pessoas do mundo saíram às ruas em várias capitais como parte de uma mobilização global pelo clima, que envolveu organizações sociais e movimentos ambientais.  Veja algumas das fotos mais bacanas dessa corrente humana.
  • 2. Paris, França

    2 /14(REUTERS/Eric Gaillard)

  • Veja também

    Todas as manifestações sociais relacionadas ao clima foram suspensas em Paris após o atentado de 13 de novembro por causa da ameaça terrorista. Em resposta, mais de 10.000 sapatos, incluindo pares enviados pelo papa Francisco, cobriram parte da praça da República de Paris para simbolizar a impossibilidade de organizar manifestações na cidade.
  • 3. Berlim, Alemanha

    3 /14(Getty Images)

  • Em Berlim, manifestantes carregam uma grande placa no formato de termômetro que tem ao fundo um globo terrestre inflável.
  • 4. Manhattan, Estados Unidos

    4 /14(REUTERS)

    Um manifestante vestido como Papai Noel participa de protesto contra a mudança climática em Manhattan, nos EUA. No cartaz, lê-se: "Natal cancelado devido ao derretimento do Polo Norte".
  • 5. Marselha, França

    5 /14(REUTERS)

    Ativistas seguram guarda-chuvas vermelhos para formar uma corrente humana simbólica, após o cancelamento da marcha pelo clima planejada para Paris. Todos os eventos paralelos à COP21 foram cancelados após os ataques de 13 de novembro.
  • 6. Ottawa, Canadá

    6 /14(Reuters)

    Marcha pré-COP21 em Ottawa, Canadá. Na bandeira lê-se, "Soluções Climáticas e Justiça Climática 100% possível".
  • 7. La Paz, Bolívia

    7 /14(Reuters)

    Ativistas saem às ruas de Caracas com cartaz de repulsa aos combustíveis fósseis e em apoio à Conferência de Paris para as Mudanças Climáticas (COP21), em La Paz, Bolívia.
  • 8. San José, Costa Rica

    8 /14(Reuters)

    Em San José, na Costa Rica, uma manifestante usa máscara sobre rosto com o dizer "Não existe Planeta B".
  • 9. São Paulo, Brasil

    9 /14(Reuters)

    Sob chuva, protesto em São Paulo reuniu centenas de pessoas no último domingo (29). Em destaque, ativistas carregam uma maquete de um sorvete derretendo na forma do planeta.
  • 10. Lima, Peru

    10 /14(Reuters)

    Em Lima, no Peru, manifestante anda de bicicleta com cartaz em defesa da água e do clima.
  • 11. Rio de Janeiro, Brasil

    11 /14(Reuters)

    No Rio de Janeiro, manifestantes seguram cartazes com os dizeres "Cadê a água?" e "Acabou a água lá em casa", além de críticas em apoio à cidade de Mariana, atingida pela lama tóxica após o rompimento de barragem da Samarco.
  • 12. Bogotá, Colômbia

    12 /14(Reuters)

    Na capital da Colômbia, mulheres ativistas apresentam um ritual indígena às vésperas da Conferência sobre Mudança Climática em Paris, COP21.
  • 13. Valparaíso, Chile

    13 /14(Reuters)

    "Cuidar dos glaciares é cuidar do clima" diz cartaz de ONG durante manifestações em Valparaíso, no Chile.
  • 14. Londres, Inglaterra

    14 /14(Reuters)

    Manifestantes durante comício em Londres pelo clima global carregam uma imensa faixa com o dizer: "Marcha do povo pelo clima, justiça e trabalho".
  • Acompanhe tudo sobre:COP 21Meio ambientePaíses emergentes

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