Por acordo comercial, Guedes e Bolsonaro recebem secretário dos EUA
O presidente tentará negociar um acordo que destrave burocracias com os Estados Unidos, dias depois de dispensar chanceler francês
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2019 às 06h31.
Última atualização em 31 de julho de 2019 às 10h11.
Dois dias após desmarcar uma reunião com o chanceler da França (e, no mesmo horário, fazer uma live cortando o cabelo no Facebook), o presidente Jair Bolsonaro deve se comportar de forma diferente nesta quarta-feira (31).
Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, recebem em Brasília o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, e tentarão começar uma negociação por um acordo comercial entre os dois países.
Ross ficará no Brasil por quatro dias, e, de acordo com comunicado do ministério da Economia, a visita “deve consolidar entendimentos para uma relação comercial e industrial forte entre os dois países”.
Nesta terça-feira, 30, o presidente americano, Donald Trump , disse a jornalistas na Casa Branca que vai trabalhar pelo acordo e que o Brasil “é um grande parceiro comercial”. “Eles nos cobram um monte de tarifas, mas, fora isso, nós amamos o relacionamento”, disse Trump.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por 12% das exportações, atrás da China, que tem 28%. Em 2018, o Brasil exportou 28,7 bilhões de dólares para os americanos e comprou 29 bilhões, com déficit de 271 milhões de dólares.
Além de Brasília, o secretário americano se reunirá com empresários em São Paulo , onde o acordo comercial também deve ser pauta. A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), que representa mais de 5.000 empresas brasileiras e americanas, é favorável ao acordo, que estima ter potencial para alavancar o Produto Interno Bruto do Brasil em 1,30% até 2030.
A Amcham e empresários defendem um acordo “gradual”, que, por ora, não inclua diminuição de tarifas, mas apenas redução de burocracia. Dessa forma, o tema não precisaria passar pela chancela do Mercosul, bloco sul-americano do qual o Brasil faz parte.
O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo, disse à Reuters que o governo quer estabelecer o que é possível fazer nos próximos seis meses e espera que as conversas desta semana resultem em “um cronograma conjunto”.
Ao jornal O Estado de S.Paulo , Deborah Vieitas, presidente da Amcham, afirmou que o acordo recente do Mercosul e União Europeia também é “estimulante” para a discussão com os americanos.
A França diria o contrário, com o presidente Emmanuel Macron afirmando que pode barrar o acordo se o Brasil não rever seus posicionamentos ambientais e o chanceler francês Jean-Yves Le Drian voltando para casa dispensado por Bolsonaro nesta semana.
Assim, por mais que um acordo com os EUA avance, ao não receber o chanceler francês e receber um representante americano na mesma semana, Bolsonaro age pessoalmente para minar um acordo pelo qual a diplomacia brasileira trabalhou nos últimos 20 anos — e com um bloco que representa 18% das exportações, mais que os 12% do país de Donald Trump.