Trabalhadores colhem soja numa fazenda na cidade de Tangará da Serra em Cuiabá (Paulo Whitaker/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h56.
São Paulo - Os números do PIB do segundo trimestre, divulgados nesta manhã pelo IBGE, pegaram o mercado de surpresa. Economistas ouvidos por EXAME.com esperavam uma taxa entre 0,8% e 1,1%, abaixo do 1,5% registrado. Foi o maior crescimento trimestral no governo Dilma, e o melhor resultado desde 2010, mas o bom momento registrado já está passando.
Para Alberto Ramos, diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para a América Latina do banco americano Goldman Sachs, o número foi bom e mexe com a perspectiva para o ano: "como houve revisão também dos números do 1º trimestre do ano e do 2º trimestre de 2012, nossa previsão de crescimento para 2013 foi de 2,3% para 2,7%."
No entanto, ele já vê uma desaceleração em curso: "Uma das surpresas positivas foi agricultura e setor externo, performances que não vão se repetir. Vamos ter PIB bem fraco ou até negativo no segundo trimestre. Dólar e juros tiveram impacto mínimo nos números do segundo trimestre: a depreciação cambial tem um impacto positivo nas exportações mas ele ainda vai demorar. No curto prazo, o efeito é negativo".
Sérgio Vale, economista da consultoria MB Associados, também ficou surpreso com os números, mas não acredita que eles devem se repetir: "Foi um número forte, sensivelmente melhor do que o do primeiro trimestre, mas a questão agora é se isso se mantém ou não. Por onde quer que você olhe, há uma desaceleração, e os números do terceiro trimestre vão vir necessariamente mais fracos. Juntos, o aumento do dólar e dos juros tem potencial de estrago, e o investimento deve ser afetado."
Sérgio aponta que a consultoria mantém a previsão de crescimento em 2013 para 2,3% e também destacou a importância da agropecuária: "o setor vai responder por um terço do crescimento do ano. Se contar toda a cadeia produtiva, pula para quase metade."
Para André Muller, economista da gestora Quest Investimentos, os números também superaram as expectativas, que eram de 1% para o trimestre, e já garantem um certo crescimento no ano: "Estávamos prevendo 1,8%, agora com certeza vai ficar entre 2% e 2,5%".
Ele também destacou o bom resultado do setor externo e acha que os números não devem mexer com as expectativas ou com a política econômica: "O orçamento para 2014 apresentado ontem já mostrava isso, com a diminuição da meta de superávit. O número é um retrato de um momento passado, e o Banco Central já está olhando para outros sinais. O consumo das famílias continua crescendo de forma muito fraca em relação aos anos anteriores, e a economia deve sofrer um ajuste com crescimento mais baixo nos próximos anos".