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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h11.
A divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) nesta quinta-feira (28/8) pelo IBGE confirma o que já vem sendo alardeado pelo mercado financeiro, por empresários e consumidores: o Brasil passa por um período recessivo desde o segundo trimestre do ano passado, quando se iniciou uma trajetória de queda no indicador. Naquele trimestre, o PIB foi de 1,5%, passando a 0,9% no terceiro trimestre de 2002, seguido por um crescimento nulo (zero) no último período do ano, até entrar em 2003 com variação efetivamente negativa de 0,6% e 1,6% nos primeiro e segundo trimestre deste ano, respectivamente.
Tecnicamente, após completar esse ciclo, o Brasil pode ser considerado uma economia em recessão. As outras constatações também endossam os indicadores que vêm sendo divulgados pelo governo e por entidades de classe: a exportação e a agricultura afastam o país de um quadro mais negativo e o consumo das famílias e a geração de emprego enfrentam uma das mais graves crises. A queda trimestral de 1,6% ficou ainda acima das expectativas do mercado financeiro, que estimavam uma queda entre 0,4% a 1,4% na comparação com o trimestre imediatamente anterior com ajuste sazonal. No semestre, o Produto Interno Bruto teve um crescimento acumulado de apenas 0,3% na comparação com o primeiro semestre de 2002. A divulgação deste resultado negativo acontece no mesmo dia em que o Banco Central divulga a ata do Copom de agosto afirmando que o país não está em recessão.
"Não há como negar que os dados do PIB do segundo trimestre foram decepcionantes. O que a divulgação do IBGE nos confirma é que a economia brasileira encontra-se de fato em recessão, entendida como queda dessazonalizada do produto durante dois trimestres consecutivos", afirma Octavio de Barros, economista-chefe do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco. "Em relação ao mesmo trimestre do ano passado o PIB demonstrou queda de 1,4%. É verdade que nos últimos 12 meses o produto apresenta alta de 1,6%. Mas isso de forma alguma chega a ser um consolo. Deve-se recordar que para cada 1% de aumento do PIB cresce em média 0,5% de crescimento do emprego. Se a população em idade ativa aumenta a uma taxa superior a 1,5% ao ano, isso significa que o crescimento econômico corrente é insuficiente para gerar empregos para todos os novos trabalhadores que estão atualmente entrando no mercado de trabalho", afirma o banco em relatório divulgado nesta quinta.
Para o Bradesco, é fundamental que investimentos aconteçam para reverter este quadro. Segundo os dados divulgados pelo IBGE, a atual taxa de investimento nos últimos 12 meses da economia brasileira é de 18,7%. "Essa taxa de investimento permite um crescimento sustentado de apenas 1,5%. É fato que em 2000 a taxa de crescimento do PIB foi de 4,4% com uma taxa de investimento não muito superior à atual. Mas também é verdade que esse crescimento não se deu de forma sustentada", afirma o banco. "Para termos crescimento de 4% do PIB de forma sustentada a taxa de investimento necessária deveria ser de cerca de 24,3%."
Principais resultados do PIB a preços de mercado | |||||
Do segundo trimestre de 2002 ao segundo trimestre de 2003, em % | |||||
Taxas/Período | 2o trimestre 2002 | 3o trimestre 2002 | 4o trimestre 2002 | 1o trimestre 2003 | 2o trimestre 2003 |
Acumulado ao longo do ano comparado ao mesmo período do ano anterior | 0,1 | 0,9 | 1,5 | 2 | 0,3 |
Últimos quatro trimestre comparados aos quatro trimestres anteriores | 0 | 0,5 | 1,5 | 2,2 | 1,6 |
Trimestre comparado com o mesmo trimestre do ano anterior | 1 | 2,5 | 3,4 | 2 | -1,4 |
Trimestre comparado com o trimestre imediatamente anterior | 1,5 | 0,9 | 0 | -0,6 | -1,6 |
Fonte: IBGE |
Os índices
Considerando a série com ajuste sazonal, o PIB a preços de mercado a Agropecuária, a Indústria e os Serviços apresentaram quedas de 1,2%, 3,7% e 0,3%, entre o primeiro e o segundo trimestre de 2003. Apenas o Consumo do Governo mostrou crescimento, mesmo assim baixo: 0,3%. Os demais, Consumo das Famílias e Formação Bruta de Capital Fixo caíram 4% e 6,4%, respectivamente. Já as Exportações de Bens e Serviços aumentaram 2,9% e as Importações de Bens e Serviços caíram 3,4%.
No segundo trimestre de 2003, o PIB a preços de mercado registrou queda de 1,4% em relação ao mesmo trimestre de 2002. Dos setores que contribuem para gerar valor, a Agropecuária foi o único a crescer (3,2%), enquanto a Indústria caiu (-3,6%) e os Serviços ficaram estáveis (zero).
Na Indústria, todos os subsetores apresentaram taxas negativas. O pior desempenho ocorreu na Construção Civil, com queda de 11,1%, a maior desde o terceiro trimestre de 1992. Em seguida vieram Indústria de Transformação (-2%), Serviços Industriais de Utilidade Pública (-1,1%) e Extrativa Mineral (-0,9%).
No segundo trimestre de 2003 em relação ao mesmo trimestre de 2002, o Consumo das Famílias continuou com taxa de crescimento negativa (-7,1%). Este item vem apresentando queda nessa comparação desde o terceiro trimestre de 2001 e o declínio de 7,1% é o maior de toda a série histórica trimestral.
Dos subsetores da Indústria, a Construção Civil foi o único que registrou queda (-6,5%), na comparação entre o primeiro semestre de 2003 contra o primeiro semestre do ano passado. Já no setor de Serviços, as maiores quedas foram de Transportes (-2,9%) e Comércio (-2,7%).
Na análise da demanda, considerando a comparação entre semestres o primeiro semestre de 2003 contra o primeiro semestre de 2002, a Formação Bruta de Capital Fixo e o Consumo das Famílias caíram 5,4% e 4,7%, respectivamente.
Em contrapartida, o Consumo do Governo cresceu 0,3%. Também nessa comparação, a taxa do Consumo das Famílias (-4,7%) é a mais baixa da série histórica. Já no setor externo, os componentes Exportações de Bens e Serviços e Importações de Bens e Serviços apresentaram desempenho favorável, com variações de 25,3% e -5,3%, respectivamente.
O PIB a preços de mercado acumulado nos quatro trimestres terminados no segundo trimestre de 2003 apresentou variação, em volume, em relação aos quatro trimestres anteriores, de 1,6%, como resultado da ampliação no Valor Adicionado de 1,8% a preços básicos e variação, praticamente, de 0% no volume de Impostos sobre Produtos.
Considerando os resultados pela ótica da demanda, nos últimos quatro trimestres, tanto o Consumo das Famílias e como a Formação Bruta de Capital Fixo apresentaram queda de 2,5%. Por outro lado, o Consumo do Governo aumentou 0,5%, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 23% (melhor resultado da série) e as Importações de Bens e Serviços declinaram 6,8%.
Desde outubro de 2000 as estatísticas trimestrais para o PIB brasileiro têm sido divulgadas em duas edições. A primeira, com os indicadores de volume, publicada 60 dias após o final de cada trimestre, e a segunda, 90 dias após o fim do trimestre, com a revisão dos indicadores de volume previamente divulgados, os valores correntes, em reais, e para a economia nacional as contas econômicas trimestral e a conta financeira.