Peixe, bebida, óleos: exportadores brasileiros podem lucrar com o Brexit
No caso das vendas brasileiras para o Reino Unido, 37% da pauta será beneficiada de alguma forma com a saída dos britânicos da União Europeia
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de dezembro de 2020 às 14h44.
Última atualização em 12 de dezembro de 2020 às 14h45.
Frutas, peixes, farinhas, óleos vegetais, mel, bebidas alcoólicas e couro estão na lista de 50 produtos com alto potencial para ampliação de vendas para o mercado britânico com a formalização da saída do Reino Unido da União Europeia. O estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, será divulgado oficialmente aos exportadores na semana que vem.
O levantamento tem como ponto de partida o anúncio feito em maio pelo governo britânico de que a partir de 2021 entrarão em vigor mudanças no regime tarifário de importações. Entre elas, estão reduções de tributos - alguns, inclusive, a zero -- e simplificações sobre 563 produtos do agronegócio, quase metade de todo o comércio do setor do Reino Unido com o restante do mundo.
No caso das vendas brasileiras para o país, 37% da pauta será beneficiada de alguma forma, tendo como base o comércio de 2019, e 15% dela foi classificada como os produtos com maiores oportunidades depois do Brexit, como é chamada a saída do país da UE.
De acordo com a confederação, o montante que será beneficiado de alguma forma equivale a US$ 533 milhões das vendas brasileiras para o país no ano passado. Já os produtos listados como os que têm maior potencial para o comércio futuro entre os países representaram US$ 79,3 milhões das transações de 2019.
A CNA ressaltou, porém, que as alterações tarifárias são válidas para todos os países, e não apenas para o Brasil, e que, portanto, é preciso que o exportador se apresse para conseguir espaço no mercado. "É complicado fazer uma estimativa de quanto as exportações vão aumentar porque a liberalização das tarifas não é apenas para o Brasil. Isso vai depender de como os agentes daqui e de outras partes do mundo vão se posicionar", explicou o economista e assessor de relações internacionais da CNA, Pedro Rodrigues.
Frutas
As frutas foram apontadas pela equipe que confeccionou o estudo como a maior aposta de ampliação do comércio. "As frutas, principalmente as tropicais, são o maior destaque da pauta futura", previu a superintendente de relações internacionais da CNA, Lígia Dutra. Ela lembrou que a Europa continental é responsável por mais de 60% das vendas brasileiras para o exterior e que o Reino Unido praticamente não tem produção doméstica.
O trabalho revela que as compras de limão, por exemplo, passarão a contar com redução tarifária de quase 14 pontos porcentuais em relação às taxas adotadas pelo bloco. A de uvas e maçãs, que são itens bastante produzidos no velho continente, também foi diminuída. No caso de vinhos e cacau em pó, o ingresso no mercado britânico passará a ser feito com imposto menor.
Um dos segmentos mais beneficiados, segundo o estudo, é o de óleos essenciais, que tiveram tarifas zeradas em todos os produtos. A entidade ressaltou que o Brasil é um importante fornecedor de óleos essenciais de laranja ao Reino Unido, tendo ocupado um terço das importações no ano passado. O item surpreendeu os porta-vozes da entidade, que explicaram que o produto é usado na indústria alimentícia, de limpeza, de cosméticos e que o óleo essencial de tangerina também é usado para curtir couro.
Em 2019, os cinco principais grupos de produtos do agronegócio brasileiro vendido para o país foram responsáveis por 62% das exportações: carne de frango (14,9%), madeira (14,5%), frutas - exceto nozes e castanhas (12,5%), celulose (11,5%) e soja em grãos (9,1%).
As importações britânicas de produtos agrícolas somaram US$ 106 bilhões no ano passado e os países da UE foram os principais fornecedores, com uma fatia de 64%, de acordo com um estudo. O Brasil ficou na 16ª colocação, com vendas totais de US$ 1,4 bilhão ou fatia de 1,3%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.