Jair Bolsonaro e Paulo Guede: Períodos de inflação alta acabam favorecendo o ambiente para uma troca de guarda (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Alessandra Azevedo
Publicado em 22 de outubro de 2021 às 15h31.
Última atualização em 22 de outubro de 2021 às 16h05.
Após rumores de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, estaria prestes a deixar o cargo, o presidente Jair Bolsonaro fez uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira, 22, ao lado do ministro, para acalmar os ânimos do mercado. O presidente foi até a pasta, pessoalmente, para conversar com o ministro antes de falar com os jornalistas.
Bolsonaro disse que tem confiança em Guedes e que o governo tem o compromisso de cumprir o teto de gastos. "Não faremos nenhuma aventura, não queremos colocar em risco nada no tocante à economia", disse o presidente em relação aos 400 reais que serão pagos por meio do Auxílio Brasil até o fim de 2022.
Ao lado de Bolsonaro, o ministro da Economia estava com um discurso alinhado ao do presidente, reafirmando o compromisso com a responsabilidade fiscal. "Não abala os fundamentos fiscais do governo. Nós vamos ajudar esses 17 milhões de família e reduzir o ritmo o ajuste fiscal", disse Guedes.
Na quinta-feira, 21, houve uma debandada no Ministério da Economia, após Bolsonaro ter anunciado um Auxílio Brasil de 400 reais, que seria bancado por meio de mudança no teto de gastos. Os secretários de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediram demissão.
Também pediram exoneração na quinta-feira a secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araujo. Todos alegaram “razões pessoais”. Guedes não se pronunciou sobre as saídas.
O mercado reagiu mal às demissões e ao anúncio do auxílio fora do teto. Nesta sexta, o Ibovespa aprofunda as perdas de quinta-feira, 21. O mercado tem visto os anúncios como uma “guinada populista” do governo Bolsonaro.
O ministério anunciou, nesta sexta-feira, que Esteves Colnago, atual chefe de relações institucionais da pasta, vai assumir o cargo de secretário especial de Tesouro e Orçamento, no lugar de Funchal.
Guedes afirmou que estava tudo certo para o aumento do Bolsa Família para um Auxílio Brasil de 300 reais, mas veio o “meteoro” dos precatórios, em valor bem acima do esperado para 2022 — 89,1 bilhões de reais. Além disso, a reforma do Imposto de Renda, que financiaria o auxílio com a taxação dos dividendos, não avançou no Senado.
O ministro defendeu uma “linha do meio” entre a austeridade fiscal e o lado social. Segundo ele, não tem problema tirar “nota 8 em fiscal”, em vez de 10, para atender os mais necessitados. “O presidente traçou a linha: vamos até 400 reais. Não são 600 que a ala política pode querer, mas também precisamos arrumar dinheiro extra”, disse.
Guedes voltou a dizer que será necessária uma “licença para gastar um pouco mais” para garantir esses 100 reais a mais no auxílio. Para ele, a economia brasileira é “forte e vigorosa o suficiente para segurar” o benefício. “Eu seguro isso. Não tenho problema com isso. Posso tirar 8 em fiscal, 7 em fiscal”, voltou a dizer.
"Não é nenhuma mudança no arcabouço fiscal. Poderia ter sido feito dentro das regras atuais, apenas dizendo o seguinte: preciso de uma licença para gastar mais 30 bilhões de reais, porque, em vez de 300 reais, que é o que cabia no teto, vão ser 400 reais. Basta isso”, disse o ministro.
Toda esta última crise no Ministério da Economia começou nesta semana, após o governo federal anunciar o Auxílio Brasil, substituindo o Bolsa Família. Durante a abertura do Melhores e Maiores 2021, da EXAME, realizado nesta quarta-feira, 20, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o programa será transitório, até o fim de 2022, e o dinheiro virá do aumento da arrecadação. Ainda segundo Guedes, o valor será de 400 reais.
Entre analistas, o meio encontrado pelo governo para pagar o Auxílio Brasil pode se caracterizar como o furo do teto de gastos e, com isso, a expectativa é que o descontrole fiscal prejudique o país.
Durante o evento da EXAME, Guedes explicou que a equipe econômica tinha a intenção de aumentar o benefício social para 300 reais, com recursos vindos de duas fontes: a reforma do Imposto de Renda (IR), com a taxação de dividendos, e o parcelamento do pagamento dos precatórios. O problema foi que a proposta do IR empacou no Senado.
"Como não avançou no Senado o IR, é natural que o governo fique impaciente porque ele precisa cuidar dessas camadas mais vulneráveis. Vai se extinguir agora no fim deste mês o auxílio emergencial, e a gente não podia deixar desprotegidas as famílias mais vulneráveis. A fonte era a taxação sobre lucros e dividendos. Eu não achei inteligente fazer lobby contra a reforma do Imposto de Renda, mas é da democracia", afirmou.