Para Roubini, Trump pode trazer fim da "pax americana"
"O registro histórico é claro: protecionismo, isolacionismo e políticas de 'América Primeiro' são uma receita para o desastre econômico e militar"
João Pedro Caleiro
Publicado em 7 de janeiro de 2017 às 08h00.
Última atualização em 7 de janeiro de 2017 às 08h00.
São Paulo - Nouriel Roubini, economista americano nascido na Turquia e professor da NYU (New York University), acredita que a presidência de Donald Trump pode significar o fim da "pax americana".
O termo se refere à ordem internacional de livre comércio e segurança compartilhada sustentada pelos Estados Unidos e seus aliados depois da Segunda Guerra Mundial.
Roubini explicou sua posição em um artigo recente para o Project Syndicate. Um dos poucos a prever a crise de 2008, ele se tornou conhecido como “Dr. Desastre” (Dr. Doom em inglês) por geralmente estar do lado dos pessimistas.
Seu medo é que o presidente Trump pratique políticas protecionistas e unilaterais e coloque em cheque alianças históricas com sua atitude de "cada um por si".
Roubini compara a situação atual com os anos 20 e 30, quando políticas de fechamento agravaram a Grande Depressão e a hesitação americana colaborou para o expansionismo alemão e japonês.
"Hoje, também, uma virada dos EUA para o isolacionismo e a busca de interesses estritamente nacionais pode eventualmente levar a um conflito global", diz Roubini.
E isso em um momento onde a Europa já está enfraquecida e a Rússia se aproveita disso para aumentar sua influência sob liderança de Vladimir Putin, elogiado publicamente por Trump.
As declarações de Trump sobre o islamismo não devem facilitar uma atuação no Oriente Médio, e o abandono de alianças asiáticas pode empurrar parceiros para uma aproximação (ou confronto direto) da China.
"O registro histórico é claro: protecionismo, isolacionismo e políticas de 'América Primeiro' são uma receita para o desastre econômico e militar", resume Roubini.
O relatório da consultoria de risco Eurasia para 2017 coloca a ideia de "América Independente" como o maior risco geopolítico do ano.
"Uma América independente acelera a fragmentação dos fluxos de comércio e capital globais, de uma internet global e de uma resposta coordenada às mudanças climáticas", diz o texto.