Para o governo, crise "está no noticiário"
Em anúncio de medidas de estímulo, Planalto celebra aumento do crédito e cristaliza a política do consumo como motor do crescimento
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2012 às 19h40.
São Paulo - Os principais nomes da República se reuniram no Palácio do Planalto nesta quarta-feira para anunciar mais um plano de estímulo à economia com a intenção de livrar o Brasil do fardo de ser o membro dos BRICs que menos cresce atualmente. Durante o evento, a presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega aproveitaram para tecer algumas previsões sobre o futuro da economia brasileira. Há três pontos que a dupla celebrou com mais eloquência. A desvalorização do real, a queda dos juros e o aumento do crédito em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB).
Desde agosto do ano passado, quando o Plano Brasil Maior foi anunciado, essa tem sido a rotina das equipes interministeriais: formular planos de ação para combater o grande inimigo que é a crise na Europa. Como ainda não há perspectivas de que ela acabe, planos de estímulos mensais, bimestrais ou trimestrais deixaram de ser surpresa no Brasil. E sua eficácia continua sendo uma incógnita: além do baixo crescimento de 2,7% do PIB em 2011, há a alta desconcertante de 0,2% no primeiro trimestre deste ano. O governo não sabe mais o que fazer para que o Brasil honre seu título de mercado emergente pujante e invejado pelos desenvolvidos em apuros.
Apesar de tudo, o otimismo impera em Brasília. Mantega e Dilma fizeram questão de enaltecer o último dado sobre desemprego divulgado pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra o índice mais baixo da série histórica (5,8%), mas se esqueceram de mencionar que a geração de emprego teve queda de 51,6% em maio, na comparação anual.
O ministro festejou o aumento do crédito contabilizado pelo Banco Central em maio: um recorde de 50,1% do PIB, ou 2,14 trilhões de reais, mas também não comentou o recorde de inadimplência disponibilizado nesta mesma pesquisa, que mostra que nunca os brasileiros deixaram de pagar tantas contas como agora.
Mantega também comemorou a redução dos índices inflacionários e a mínima recorde dos juros cobrados de pessoas físicas, esquecendo-se de comentar a desaceleração do consumo. Ele tampouco lembrou-se de relacionar a queda do consumo ao endividamento das famílias, que também cresce de maneira acelerada. "Tudo isso significa que a crise internacional é conhecida pela população apenas por meio dos jornais e do noticiário. Na prática, a população não está se defrontando com ela", concluiu o ministro da Fazenda.
A cereja do bolo foi a presidente Dilma resgatar nas entrelinhas de seu discurso uma cena clássica do ex-presidente norte-americano, George W. Bush. Dilma relembrou que os líderes dos países desenvolvidos - sem dizer de qual nação se tratava - têm o hábito de pedir que a população compre em épocas de crise - e essa é a ideia que baseou toda a política de compras nacionais que acaba de ser divulgada. Em 2001, logo após os atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos, uma das primeiras frases do presidente Bush para evitar que o terror derrubasse a economia do país foi um apelo ao consumo: "Comprem", afirmou ele, em entrevista a uma rede de televisão - criando uma situação de revolta na população que ainda estava em choque devido aos ataques.
Câmbio - Alinhados, Dilma e Mantega finalizaram seus dizeres celebrando a desvalorização do real e afirmando que, com a moeda americana cotada acima de dois reais, o produto brasileiro voltaria a ser competitivo. Como se o único problema que atravancasse a competitividade do país fosse a moeda sobrevalorizada. Uma amostra disso é que, durante o mês de maio, quando a moeda americana ultrapassou 2 reais, os gastos dos brasileiros no exterior bateram recorde para o período - superando até mesmo a época em que o dólar era cotado a 1,60 real. Dilma e Mantega ainda fizeram previsões para o câmbio, afirmando que o real iria se desvalorizar ainda mais ao longo do ano. O ministro também arriscou dizer que os juros continuarão caindo. Resta saber se essa é uma informação adiantada do que esperar para a Selic no próximo semestre.
São Paulo - Os principais nomes da República se reuniram no Palácio do Planalto nesta quarta-feira para anunciar mais um plano de estímulo à economia com a intenção de livrar o Brasil do fardo de ser o membro dos BRICs que menos cresce atualmente. Durante o evento, a presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega aproveitaram para tecer algumas previsões sobre o futuro da economia brasileira. Há três pontos que a dupla celebrou com mais eloquência. A desvalorização do real, a queda dos juros e o aumento do crédito em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB).
Desde agosto do ano passado, quando o Plano Brasil Maior foi anunciado, essa tem sido a rotina das equipes interministeriais: formular planos de ação para combater o grande inimigo que é a crise na Europa. Como ainda não há perspectivas de que ela acabe, planos de estímulos mensais, bimestrais ou trimestrais deixaram de ser surpresa no Brasil. E sua eficácia continua sendo uma incógnita: além do baixo crescimento de 2,7% do PIB em 2011, há a alta desconcertante de 0,2% no primeiro trimestre deste ano. O governo não sabe mais o que fazer para que o Brasil honre seu título de mercado emergente pujante e invejado pelos desenvolvidos em apuros.
Apesar de tudo, o otimismo impera em Brasília. Mantega e Dilma fizeram questão de enaltecer o último dado sobre desemprego divulgado pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra o índice mais baixo da série histórica (5,8%), mas se esqueceram de mencionar que a geração de emprego teve queda de 51,6% em maio, na comparação anual.
O ministro festejou o aumento do crédito contabilizado pelo Banco Central em maio: um recorde de 50,1% do PIB, ou 2,14 trilhões de reais, mas também não comentou o recorde de inadimplência disponibilizado nesta mesma pesquisa, que mostra que nunca os brasileiros deixaram de pagar tantas contas como agora.
Mantega também comemorou a redução dos índices inflacionários e a mínima recorde dos juros cobrados de pessoas físicas, esquecendo-se de comentar a desaceleração do consumo. Ele tampouco lembrou-se de relacionar a queda do consumo ao endividamento das famílias, que também cresce de maneira acelerada. "Tudo isso significa que a crise internacional é conhecida pela população apenas por meio dos jornais e do noticiário. Na prática, a população não está se defrontando com ela", concluiu o ministro da Fazenda.
A cereja do bolo foi a presidente Dilma resgatar nas entrelinhas de seu discurso uma cena clássica do ex-presidente norte-americano, George W. Bush. Dilma relembrou que os líderes dos países desenvolvidos - sem dizer de qual nação se tratava - têm o hábito de pedir que a população compre em épocas de crise - e essa é a ideia que baseou toda a política de compras nacionais que acaba de ser divulgada. Em 2001, logo após os atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos, uma das primeiras frases do presidente Bush para evitar que o terror derrubasse a economia do país foi um apelo ao consumo: "Comprem", afirmou ele, em entrevista a uma rede de televisão - criando uma situação de revolta na população que ainda estava em choque devido aos ataques.
Câmbio - Alinhados, Dilma e Mantega finalizaram seus dizeres celebrando a desvalorização do real e afirmando que, com a moeda americana cotada acima de dois reais, o produto brasileiro voltaria a ser competitivo. Como se o único problema que atravancasse a competitividade do país fosse a moeda sobrevalorizada. Uma amostra disso é que, durante o mês de maio, quando a moeda americana ultrapassou 2 reais, os gastos dos brasileiros no exterior bateram recorde para o período - superando até mesmo a época em que o dólar era cotado a 1,60 real. Dilma e Mantega ainda fizeram previsões para o câmbio, afirmando que o real iria se desvalorizar ainda mais ao longo do ano. O ministro também arriscou dizer que os juros continuarão caindo. Resta saber se essa é uma informação adiantada do que esperar para a Selic no próximo semestre.