Pais do Real trazem bastidores do plano que livrou Brasil da hiperinflação
FHC, Pérsio Arida e Rubens Ricupero falam dos desafios para colocar projeto em prática em vídeo divulgado com exclusividade para EXAME
Redação Exame
Publicado em 1 de setembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 14 de junho de 2024 às 17h36.
São Paulo - Quem tem memória viva dos anos 1990 no Brasil ou estudou história sabe que não é só cortando zeros que se combate uma hiperinflação. Ter um bom plano também não basta.
"As pessoas acham que (para colocar em prática um) plano de estabilização econômica basta a ter a ideia. Esse é um equivoco monumental", diz o economista Pérsio Arida, que participou da criação do plano Real.
"Foi uma obra de engenharia política. Você precisa convencer pessoas, ter leis que aprovem a ideia, precisa convencer a população, o Congresso", conta Arida.
Ele participou recentemente de um debate sobre os 25 anos do Real com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Rubens Ricupero, ex-embaixador e ministro da Fazenda durante o período de implantação da nova moeda.
O encontro foi promovido pela plataforma UM BRASIL, uma iniciativa da Fecomercio SP, e ovídeo foi antecipado por exclusividade para EXAME.
O Real entrou em circulação em 1º de julho de 1994. Antes dele, outros seis planos emergenciais foram colocados em prática: Cruzado 1 (86), Cruzado 2 (86), Bresser (87), Verão (89), Collor 1 (90) e Collor 2 (91). Todos falharam.
"Eu falei com os principais líderes sindicais da época. Todos. Chamava, explicava. Eles queriam reconversão dos salários a cada 15 dias. Ia ser diária! A gente dizia que eles só iam ganhar. Eles entendiam, mas iam pra imprensa e falavam o contrário. Por razões políticas e também porque não acreditavam. Ninguém acreditava que ia dar certo", conta Fernando Henrique.
O ex-presidente diz que o avanço da reforma da Previdência, agora em tramitação no Senado, é um passo importante para o país e lembra que seu governo perdeu a criação de uma idade mínima para a aposentadoria por um voto no Congresso.
"Se tivéssemos aprovado naquele tempo, seria outro panorama", lamenta FHC.
"O desafio maior não está na economia, está na política. Se não tivermos uma política adequada, não voltará a confiança para fazer o país crescer", alerta Rubens Ricupero.