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Oficiais chineses admitem falsificar dados econômicos

Antiga suspeita de que oficiais regionais distorcem dados econômicos para maquiar realidade é confirmada por reportagem de agência estatal

Sobe ou desce? Na China, nem tudo que parece, é (Getty Images)

João Pedro Caleiro

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 06h00.

São Paulo - O crescimento vigoroso da China nas últimas décadas mexeu com toda a economia global - do preço das commodities aos níveis de pobreza.

Mas o mundo sempre se perguntou: dá para confiar, afinal, em números emitidos por um governo não-democrático?

Não muito, de acordo com uma reportagem da agência estatal Xinhua publicada há alguns dias e reproduzida em parte pelo China Daily, jornal local em inglês.

Eles citam várias autoridades locais de províncias do nordeste do país que admitiram inflar números de renda, PIB e receita fiscal para mostrar uma situação melhor do que a verdadeira.

"Se os dados antigos não tivessem sido inflados, os atuais não mostrariam uma queda tão forte", diz um deles. Um outro diz que usava oficialmente os dados dos investimentos externos prometidos, não dos efetivamente realizados.

Histórico

Os investidores estrangeiros sempre souberam que as estatísticas regionais eram menos sérias do que as nacionais, mas mesmo estas também são frequentemente colocadas em questão.

“Não dá para confiar nos números", disse recentemente Bill Miller, presidente da LMM Investments, em uma conferência da CNBC.

Christopher Balding, professor da Universidade de Pequim e um dos analistas de China mais influentes do mundo, escreveu recentemente um post no seu blog com o título "Por que eu não acredito nos dados chineses".

"A falta de confiança nos números chineses se tornou quase um clichê", decreta uma matéria recente de Noah Smith, da Bloomberg.

Para ter um senso mais aguçado do que realmente está acontecendo com a economia do país, os analistas olham também para outros indicadores, como as importações e exportações de países vizinhos com os quais a China tem laços fortes.

Tudo gira em torno das meias em Datang e nos seus arredores, onde 10 mil empresas fazem 1 bilhão de pares por ano, um terço de toda a produção mundial. As máquinas muitas vezes estão instaladas nos pátios e porões das casas e funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana.
  • 2. Meias em Datang

    2 /12(D)

  • Veja também

    Os distribuidores ficam nos subúrbios, enquanto os produtores de máquinas e as empresas de logística e distribuição se concentram no centro da cidade, que tem cerca de 200 mil habitantes.
  • 3. Quadros em Dafen

    3 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

  • Em 1989, um homem rico de Hong Kong criou em Dafen um workshop de reprodução de pinturas. Hoje, a cidade tem a maior concentração de pintores do mundo.
  • 4. Quadros em Dafen

    4 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    “Todo estilo e todo preço e qualidade podem ser encontrados aqui, onde ter uma pintura reproduzida é quase tão fácil quanto clicar no botão ‘print’ de um computador”, escrevem Anaide e Gregory.
  • 5. Quadros em Dafen

    5 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    O segredo é que as famílias fazem uma verdadeira linha de produção. Alguém coloca a moldura, outro encaixa a tela e outros pintam. É desta forma que “50 pinturas idênticas encomendadas por um cliente parisiense são concluídas em menos de 3 dias”.
  • 6. Porcelana em Jingdezhen

    6 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    Jingdezhen é considerada a “capital mundial da porcelana” há mais de dois mil anos. Em meados de 1995, ela sofreu uma crise profunda e viu 95% de suas fábricas decretarem falência, ultrapassadas por métodos mais modernos aplicados em regiões da costa. Nas últimas décadas, a região tem focado em resgatar técnicas milenares que haviam sido proibidas durante a Revolução Cultural de Mao Tsé Tung.
  • 7. Negócios em Yiwu

    7 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    Todos os dias, mais de 200 mil homens e mulheres de negócios da fora da China conduzem negócios em Yiwu. Índia e países da África e do Golfo Pérsico são alguns dos grandes consumidores, e descendentes destes países podem ser encontrados de noite “tomando chá em terraços enquanto esperam por um jantar de kebabs de cordeiro”, escrevem Anaide e Gregory.
  • 8. Sapatos em Donguan

    8 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    A fábrica de sapatos visitada pelos fotógrafos em Donguan começou com 3 máquinas e 18 funcionários em 1984. Hoje, produz 16 milhões de pares de sapatos por ano e emprega 25 mil pessoas.
  • 9. Sapatos em Donguan

    9 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    Os estilistas ocidentais enviam os desenhos e os chineses criam os moldes em 3D. O ritmo de inovação acelerou: nos anos 90, eram 2 coleções por ano. Atualmente, são 4.
  • 10. Sapatos em Donguan

    10 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    “A rapidez da nossa visita mostrou claramente que aqui, a produção não deixa tempo para distrações”, escrevem Anaide e Gregory. O fundador da fábrica, Zhang Huarong, inaugurou na Etiópia em 2012, junto com o então primeiro-ministro do país, Meles Zenawi, uma cidade imaginada e planejada em menos de 2 anos.  O plano é que no futuro, todos os 200 mil habitantes da Huajian International Shoe City trabalhem para Zhang.
  • 11. Canetas em Xangai

    11 /12(Divulgação/Anaide Gregory Studio)

    Fundada em Xangai em 1931, a Hero Pen Company era até os anos 90 uma referência de design e longevidade. Suas fábricas ainda em operação, no entanto, estão praticamente abandonadas e parecem museus, escrevem Anaide e Gregory.
  • 12 /12(Michael Wolf)

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