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O premiê britânico disse que cortará a imigração líquida para “dezenas de milhares”, o que pode impactar na mão de obra qualificada de imigrantes no Reino Unido

Reino Unido: trabalhadores com mais mobilidade estão cada vez mais levando suas qualificações a outros lugares, segundo especialista (Justin Tallis/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2015 às 20h50.

Miwa Hirono fez as malas e voltou da Grã-Bretanha para o Japão.

Seu problema não era o emprego: ela trabalhava na Universidade de Nottingham desde 2008 e seu chefe queria que ela ficasse.

Sua pesquisa sobre a política exterior da China era valiosa, e ela colaborava com o Ministério da Defesa e com o de Relações Exteriores do Reino Unido.

Seu problema foi uma promessa feita por David Cameron.

O líder conservador, na tentativa de se reeleger como primeiro-ministro em 2010, disse que cortará a imigração líquida para “dezenas de milhares”.

Mas, como a Grã-Bretanha está na União Europeia, ele não tinha poder para impedir que alguém viesse dos outros 27 países da UE.

Então, os funcionários colocaram o foco em impedir, remover e dificultar a vida das pessoas que eles conseguissem deter, inclusive migrantes altamente qualificados de fora da UE – cientistas, engenheiros e acadêmicos.

Enquanto os britânicos se preparam para votar de novo em 7 de maio, a pergunta sobre imigração que Cameron sempre escuta é por que ele não cumpriu seu objetivo.

Ele diz que gostaria de ter feito mais e reafirma o compromisso de atingir a meta se for reeleito. O que ninguém pergunta é se dissuadir imigrantes é uma boa ideia.

O perigo para os britânicos é que estas pessoas têm muita facilidade para se mover e podem levar suas qualificações para outro lugar.

Depois de um ano lutando nos tribunais contra o Ministério do Interior, que administra a imigração, Hirono disse basta e aceitou um emprego na Universidade de Quioto.

Certezas

Ela não é a única pessoa a chegar a essa conclusão. De acordo com Alison Harvey, diretora jurídica da Associação de Advogados de Imigração, os trabalhadores com mais mobilidade estão cada vez mais levando suas qualificações a outros lugares.

Os empregadores britânicos também estão enfrentando dificuldades, de acordo com Harvey.

“As empresas precisam de certezas concretas”, disse ela. “É preciso ter confiança em que as coisas não vão mudar. Se eu trouxer alguém aqui, preciso ter certeza de que não estou mentindo para essa pessoa. Por que não colocar a sua sede em Paris, na Irlanda ou em Berlim?”.

Hirono, 38, foi para o Reino Unido em 2008 com uma bolsa financiada pelo governo para ensinar e estudar em Nottingham, nas Midlands do Leste, Inglaterra. Ela é especialista na forma como a China usa seus militares para influenciar países em desenvolvimento. Isso envolve muitas viagens ao exterior.

Armadilha burocrática

“Vou aos lugares aonde a China envia suas tropas de paz e faço entrevistas”, disse ela. O visto que tinha recebido do governo do Reino Unido permitia isso, e ela ficou no exterior por mais de 200 dias tanto em 2009 quanto em 2010.

Ela pretendia renovar seu visto e assumir uma vaga como professora-assistente em Nothingham.

Depois que Cameron tomou posse em 2010, a política mudou, e os imigrantes não podiam mais renovar os vistos. Hirono foi informada de que deveria pedir uma residência permanente, o que fez em 2014 para ela, o marido australiano Peter Trebilco e o filho deles, Tada, nascido em 2013.

E aqui apareceu um problema: quem passa mais de 180 dias por ano no exterior não pode solicitar a residência.

“Recebi uma carta que informava que eu e minha família seríamos removidos do Reino Unido imediatamente”, disse Hirono. “Tive que virar a carta não olhar para ela durante dois dias. Não conseguia nem imaginar os problemas que minha família estava enfrentando, as implicações do que a carta dizia. Não conseguia acreditar que era real”.

Hirono foi pega em uma armadilha burocrática.

Apelações

Relutante em desistir de sua vida em Nottingham, ela apelou. Além das 2.400 libras (US$ 3.600) que já tinha gastado no pedido de residência, a apelação custou quase 4.000 libras.

O Ministério do Interior reteve o passaporte dela e da família, então ela não pôde viajar para fazer trabalhos que beneficiariam outros departamentos do governo, e Peter não pôde voltar para a Austrália quando o tio dele morreu.

Mesmo assim, parecia que tudo tinha valido a pena quando, no começo de dezembro do ano passado, o juiz Peter Hollingworth decidiu a seu favor. Hirono, disse ele, fez uma contribuição “significativa e profunda” para a vida acadêmica britânica, e era insensato pedir que ela fosse embora. “Fiquei muito feliz”, disse ela.

Então, pouco depois do Natal, ela descobriu que o Ministério do Interior tinha apelado.

“Eu não podia aguentar mais isso”, contou. “Decidi que precisava ir embora desse país”.

Harvey disse que essa experiência é comum, pois o governo coloca uma série de pequenos obstáculos para desencorajar os imigrantes, como formulários mais complicados e uma tendência a litigar os casos. “O Ministério do Interior costuma apelar na grande maioria dos casos que perde, independente do mérito”.

São Paulo – A Letônia é o país que tem as piores condições para receber imigrantes , segundo o índice MIPEX, produzido em parceira entre o British Council e a organização europeia para políticas de imigração Migration Policy Group, revisado periodicamente. O ranking avaliou países europeus, o Canadá e os Estados Unidos. Recentemente, a pesquisa também incluiu o Japão (que ficou em 29º lugar do ranking) e a Austrália (que figurou em quinto lugar). Foram analisados 33 países no total e, por conta desta metodologia, nenhum país da América Latina apareceu no ranking. O estudo aplicou uma nota de até 100 para sete áreas principais: mobilidade no mercado de trabalho, possibilidade de reunir a família no país, educação, participação do imigrante na política, residência de longo prazo, acesso à nacionalidade e políticas contra discriminação. Nenhuma nação alcançou a nota máxima. Confira nas fotos ao lado e confira os piores países para ser imigrante segundo a classificação geral, além da nota em cada um dos critérios estudados.
  • 2. 33º) Letônia – 31 pontos

    2 /12(Wikimedia Commons)

  • Veja também

    Mobilidade no mercado de trabalho: 36
    Possibilidade de reunir a família: 46
    Residência de longo prazo: 59
    Políticas contra discriminação: 25
    Participação política: 18
    Acesso à nacionalidade: 15
    Educação: 17
  • 3. 32º) Chipre – 35 pontos

    3 /12(Getty Images)

  • Mobilidade no mercado de trabalho: 21
    Possibilidade de reunir a família: 39
    Residência de longo prazo: 37
    Políticas contra discriminação: 59
    Participação política: 25
    Acesso à nacionalidade: 32
    Educação: 33
  • 4. 31º) Eslováquia – 36 pontos

    4 /12(Wikimedia Commons)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 21
    Possibilidade de reunir a família: 53
    Residência de longo prazo: 50
    Políticas contra discriminação: 59
    Participação política: 21
    Acesso à nacionalidade: 27
    Educação: 24
  • 5. 30º) Malta – 37 pontos

    5 /12(Wikimedia Commons)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 43
    Possibilidade de reunir a família:
    48
    Residência de longo prazo:
    64
    Políticas contra discriminação:
    36
    Participação política:
    25
    Acesso à nacionalidade:
    26
    Educação:
    16
  • 6. 29º) Japão – 38 pontos

    6 /12(Kiyoshi Ota/Getty Images)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 62
    Possibilidade de reunir a família:
    51
    Residência de longo prazo:
    58
    Políticas contra discriminação:
    14
    Participação política:
    27
    Acesso à nacionalidade:
    33
    Educação:
    19
  • 7. 28º) Lituânia – 40 pontos

    7 /12(Wikimedia Commons)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 46
    Possibilidade de reunir a família:
    59
    Residência de longo prazo:
    57
    Políticas contra discriminação:
    55
    Participação política:
    25
    Acesso à nacionalidade:
    20
    Educação:
    17
  • 8. 27º) Bulgária – 41 pontos

    8 /12(Wikimedia Commons)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 40
    Possibilidade de reunir a família: 51
    Residência de longo prazo: 57
    Políticas contra discriminação: 80
    Participação política: 17
    Acesso à nacionalidade: 24
    Educação: 15
  • 9. 26º) Polônia – 42 pontos

    9 /12(Wikimedia Commons)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 48
    Possibilidade de reunir a família: 67
    Residência de longo prazo: 65
    Políticas contra discriminação: 36
    Participação política: 13
    Acesso à nacionalidade: 35
    Educação: 29
  • 10. 25º) Áustria – 42 pontos

    10 /12(Getty Images)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 56
    Possibilidade de reunir a família: 41
    Residência de longo prazo: 58
    Políticas contra discriminação: 40
    Participação política: 33
    Acesso à nacionalidade: 22
    Educação: 44
  • 11. 24º) Suíça – 43 pontos

    11 /12(Mike Hewitt/Getty Images)

    Mobilidade no mercado de trabalho: 53
    Possibilidade de reunir a família: 40
    Residência de longo prazo: 41
    Políticas contra discriminação: 31
    Participação política: 59
    Acesso à nacionalidade: 36
    Educação: 45
  • 12. Agora veja a ponta contrária do ranking

    12 /12(Sean Gallup/Getty Images)

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