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O que falta para o Banco Central dobrar o mercado?

Mesmo após o BC ter assumido um discurso mais duro, o mercado se mostra cauteloso na redução das estimativas da inflação

Banco Central: mercado ainda não foi convencido de que o BC realmente fará o que for necessário para trazer a inflação de volta à meta, diz ex-diretor (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2015 às 17h09.

O mercado se mostra cauteloso na redução das estimativas de inflação mesmo após o Banco Central ter assumido um discurso mais duro.

É um sinal de que a Selic deve subir ainda mais, apesar de já ter sido elevada em 6 pontos percentuais desde abril de 2013.

Na última pesquisa Focus com economistas do mercado, a estimativa para a inflação de 2016 ficou praticamente inalterada, em 5,50%, ainda relativamente distante do centro da meta, de 4,5%.

Na pesquisa top 5, com os cinco economistas que mais acertam, a previsão para a Selic no Copom de junho subiu de uma alta de 0,25 pp para 0,50 pp.

O mercado ainda não foi convencido de que o BC realmente fará o que for necessário para trazer a inflação de volta à meta, diz Alexandre Schwartsman, que foi diretor do BC na gestão anterior e tem sido um dos economistas mais críticos à condução da política monetária nos últimos anos.

Para o ex-diretor, o fato de o BC não ter conseguido assegurar a convergência do IPCA para o centro da meta em nenhum dos últimos 6 anos e as mudanças de mensagem nos últimos meses, ora destacando a parcimônia, ora a vigilância, pesam contra a tentativa atual de melhorar as expectativas.

“Eu não descarto que o BC tenha mudado para valer seu discurso. Mas a reputação deste BC em relação ao cumprimento da meta não é boa”.

A Selic teria de subir para mais de 14% para levar o IPCA a 4,5% no final de 2016, diz Schwartsman.

Contudo, o mercado acha que o BC pode interromper a alta e posteriormente retomar os cortes antes do necessário diante do cenário de recessão.

Schwartsman espera apenas uma alta de 0,25 pp em junho.

“O mercado acha que em algum momento o BC abre o bico”.

E, se os economistas estão reticentes, os operadores parecem ainda mais cautelosos.

Os títulos do Tesouro negociados no mercado projetam uma inflação implícita ainda na casa de 7% em 2 anos, mesmo com os contratos de DI estimando Selic a 14% no final do ciclo de alta.

Na última ata do Copom, o BC reforçou a mensagem de que o IPCA terá de convergir para o centro da meta no final de 2016.

Os números mostram que o mercado ainda paga para ver.

São Paulo - Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi perguntou a Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse a ele que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos." Por enquanto, não estamos neste patamar, mas a situação é tudo menos confortável. Na semana passada, o IBGE divulgou que o Brasil teve em janeiro sua maior inflação mensal em mais de uma década. Tudo indica que a taxa deve fechar 2015 acima dos 7%, estourando o teto da meta - o que não acontece desde 2003. Economistas esperam que mesmo com a recessão, o índice só vá começar a ceder em 2016. Mas pelo menos por enquanto, a distinção dos dois dígitos fica com dois vizinhos latino-americanos, duas nações africanas e dois países que estão basicamente em guerra um contra o outro. Veja a seguir qual deve ser a inflação anual nestes 6 países na mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg e quais são as raízes do fenômeno em cada um deles:
  • 2. Venezuela

    2 /8(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

  • Veja também

    Inflação estimada para 2015: 72,3% (pesquisa de nov/2014) O que está acontecendo: o pacote de camisinhas de 2 mil reais é só o último exemplo do quão longe chegou o caos econômico na Venezuela , um dos piores países do mundo para se fazer negócios. Anos de estímulo da demanda combinados com uma desorganização total do setor produtivo e uma moeda desvalorizada levaram a prateleiras vazias; e nada estimula a inflação mais do que a escassez. A recente queda do preço do petróleo arrasou com as finanças do governo e só piorou a situação, já que faltam recursos para comprar importados.  Enquanto isso, o presidente Nicolas Maduro continua culpando forças ocultas pelos desequilíbrio econômicos, que tenta resolver com medidas "criativas" como controle de preços, tomada de empresas e cadastro biométrico para compra em supermercados.
  • 3. Argentina

    3 /8(Reprodução/Facebook)

  • Inflação estimada para 2015: 22,5% (pesquisa de jan/2015) O que está acontecendo: nossos vizinhos portenhos não hesitaram nem um pouco em aumentar gastos e imprimir dinheiro mesmo durante períodos de bonança. O resultado foi um peso desvalorizado e uma inflação que deve resistir ao segundo ano seguido de recessão na Argentina . As respostas de Cristina Kirchner se resumiram a aumentar o controle do setor privado, tentar segurar a saída de dólar, instituir controles de preços e maquiar as estatísticas oficiais, que já não são consideradas válidas pelas instituições privadas.
  • 4. Ucrânia

    4 /8(Reuters)

    Inflação estimada para 2015: 17,5% (pesquisa de dez/2014) O que está acontecendo: instabilidade política, a perda da Crimeia e o separatismo violento no leste empurraram a Ucrânia para uma grave crise econômica. A queda de produção industrial e desvalorização de sua moeda, em especial, contribuíram para a maior taxa de inflação em 14 anos. Outro fator (este em comum com o Brasil) é o aumento dos preços de energia, resultado da decisão do governo de cortar subsídios que existiam há décadas.
  • 5. Gana

    5 /8(SXC.Hu)

    Inflação estimada para 2015: 13,2% (pesquisa de nov/2014) O que está acontecendo: a economia de Gana vem crescendo bastante nos últimos anos, mas isso acelerou a demanda e pressionou a inflação. Uma moeda em desvalorização e um governo com problemas fiscais também não estão colaborando.  A boa notícia é que a tendência é de queda: o petróleo mais barato ajuda a segurar os preços, e a taxa projetada pela Bloomberg está no centro da meta do governo (13% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo).
  • 6. Rússia

    6 /8(Andrey Rudakov/Bloomberg)

    Inflação estimada para 2015: 13% (pesquisa de jan/2015) O que está acontecendo: a Rússia está em um momento difícil, para dizer o mínimo. Em 2014, o país se viu atingido por uma tempestade dupla: de um lado, sanções ocidentais para pressionar Vladimir Putin a deixar a Ucrânia em paz; do outro, uma queda brutal dos preços de petróleo, principal fonte de divisas do governo. O resultado foi uma recessão violenta e uma depreciação forte do rublo. A alta dos juros não foi capaz de conter o processo, e algumas das reações de Putin - como proibir a importação de alimentos da Europa - só pioraram o problema. A solução para acalmar os ânimos foi diminuir o preço mínimo da vodca, que está agora em R$ 14,64 por litro.
  • 7. Egito

    7 /8(Amr Abdallah Dalsh/Reuters)

    Inflação estimada para 2015: 10,6% (pesquisa de dez/2014) O que está acontecendo: o Egito é um dos países do mundo que mais subsidiam energia suja. A redução deste apoio é importante para melhorar a situação fiscal do governo, mas leva a aumentos de preços no curto prazo. O Banco Central também vem cortando os juros, priorizando o crescimento ao invés do controle da inflação. A economia do Egito é muito dependente do turismo e está patinando com toda a turbulência política desde a derrubada de Hosni Mubarak no início de 2011.
  • 8 /8(Getty Images)

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