Economia

"O que está por trás é preocupante", diz economista sobre Fitch

Para o economista, o país enfrenta situação fiscal complicada sem a reforma da Previdência e deve ter dificuldade em cumprir o teto de gastos

Fitch: "O governo vai ter problema para acomodar outras despesas do Orçamento" (Matt Lloyd/Bloomberg)

Fitch: "O governo vai ter problema para acomodar outras despesas do Orçamento" (Matt Lloyd/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de fevereiro de 2018 às 10h13.

São Paulo - O economista Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), avalia que a decisão da Fitch de rebaixar a nota de crédito do Brasil não deve trazer impactos no curto prazo.

Para ele, porém, o País enfrenta situação fiscal complicada: sem a reforma da Previdência, deve ter dificuldade em cumprir a regra do teto de gastos - que limita o aumento dos desembolsos à inflação do ano anterior.

"O governo vai ter problema para acomodar outras despesas do Orçamento", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como avalia o novo rebaixamento da nota de crédito brasileira?

A Fitch tinha perspectiva negativa e havia avisado que a reforma da Previdência era uma das condições para não rebaixar a nota do Brasil. Os argumentos da agência e a decisão foram consistentes. Este governo não vai fazer a reforma da Previdência. Se havia dúvidas, agora não há mais. E tudo isso atrapalha porque a Previdência é o maior gasto do governo federal e cresce num ritmo muito forte.

Qual será o impacto do rebaixamento?

No curto prazo o impacto é pequeno porque o custo de financiamento externo das empresas não se altera muito. Obviamente as empresas têm mais dificuldade,

mas o mercado está com muita demanda por ativos de emergentes. Agora, o que está por trás em si da decisão é preocupante.

A postergação da reforma deve atrapalhar o cumprimento do teto dos gastos, por exemplo?

Pela Emenda Constitucional 95 (que limitou os gastos), o governo vai ter problema para acomodar outras despesas do Orçamento. Já está discutindo também a questão da regra de ouro (que impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes, como salários). A situação fiscal é complicadíssima e não fazer a reforma da Previdência, além da pressão sobre o total de gastos, vai criar um problema na composição (dos gastos).

A Fitch cita a incerteza do quadro eleitoral deste ano. Como analisa essa preocupação?

A decisão não foi por causa da situação política, porque ela não mudou muito. Mas, sem dúvida, continua incerta. A tendência é um candidato de centro ou centro-direita vencer a eleição, a despeito da popularidade dos candidatos na extrema-esquerda e extrema-direita. Mas, se tivesse um candidato a esta altura já despontando, um candidato comprometido com a reforma da Previdência, talvez esse downgrade não tivesse ocorrido.

O sr. vê mais algum movimento das agências de classificação?

Acho que não deve haver mais nenhum movimento neste ano. Primeiro, porque a Fitch colocou o País com rating estável. Normalmente, primeiro teria de mudar a perspectiva (para negativa) e depois alterar a nota. Segundo, porque não espero nenhum fato novo. A grande expectativa é de qual vai ser o próximo governo, e estamos a sete meses para ter uma ideia melhor sobre isso. É um intervalo curto. Não acho que vai ter nenhum fato para uma mudança.

Haverá uma pressão para que o próximo governo apresente o quanto antes sua proposta para a questão da Previdência?

Acho que não vai ter pressão do mercado para que em janeiro o novo governo já tenha proposta para a Previdência. Agora, de novo, tem a questão do teto, que fica complicada sem a reforma. E o primeiro ano de mandato é a janela de oportunidade do novo governo. No ano seguinte vai ter a eleição municipal. Começa todo o ciclo eleitoral de novo. Como a Previdência é a maior despesa do governo, faz sentido que seja prioridade, se o governo quer ter perspectiva mais longa de que a economia vai continuar crescendo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraEconomistasFitch

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor