O que espera a economia brasileira no segundo semestre de 2017
Denúncia de Janot sobre Temer trouxe incertezas para os rumos da economia brasileira, e a prioridade do governo passou a ser sua própria sobrevivência
Fernando Pivetti
Publicado em 30 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 30 de junho de 2017 às 06h00.
São Paulo - A agenda econômica brasileira no segundo semestre de 2017 deve girar em torno do calendário de reformas no Congresso e do desfecho da crise política que atinge Michel Temer .
A denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, sobre o presidente deve continuar trazendo incerteza para os rumos da economia brasileira , e a prioridade do governo passou a ser sua própria sobrevivência.
Há dúvidas sobre a capacidade do governo cumprir a meta fiscal de déficit de R$ 139 bilhões e se ela exigirá novos cortes ou aumentos de impostos.
O governo precisa, até o dia 22 de julho, apresentar ao Congresso sua revisão de receitas e despesas do ano até agora.
Veja como deve ficar a agenda do país nesse começo de semestre:
Reforma da Previdência
O secretário da Previdência Social do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, afirmou há algumas semanas que o governo espera aprovar a reforma da Previdência até agosto.
O calendário é apertado, tendo em vista o recesso parlamentar no mês de julho e o enfraquecimento do apoio do governo.
Na base aliada de Temer, lideranças consideram um risco colocar a reforma em votação na Câmara antes do recesso em meio à instabilidade.
Para João Luiz Mascolo, professor do Insper, é muito pouco provável que o governo tenha quórum para aprovar a reforma da Previdência no segundo semestre.
Ele acha que a única aprovação possível é de uma mini-reforma, que estabeleceria uma idade mínima para aposentadoria de 62 anos (no máximo).
O deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), relator da reforma na Câmara, garante que o governo vai conseguir aprovar a reforma Previdência e a Trabalhista.
Reforma Trabalhista
A reforma Trabalhista também enfrenta dificuldades. Os aliados de Temer têm pressa para aprovar a reforma no Senado antes do recesso de julho.
Na semana passada, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) rejeitou o texto. Na última quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça o aprovou.
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), alertou que a rejeição do texto na CAS, apesar de não interromper a tramitação, mostra que o governo não pode gastar energia com duas reformas de peso ao mesmo tempo.
Para ele, é preciso esperar a aprovação da trabalhista no Senado para retomar a articulação da previdenciária na Câmara.
Já o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), garantiu na terça-feira que a proposta será votada pelo plenário na próxima semana.
Mascolo ressalta que as denúncias de Janot trouxeram uma turbulência extra e que isso deve dificultar ainda mais os debates.
Na oposição, a tática dos parlamentares do Partido dos Trabalhadores será de obstruir as pautas de reformas até que a questão das denúncias tenha um desfecho.
Com isso, a votação em plenário da reforma Trabalhista deve ficar para agosto. Já na visão de Mascolo, os debates devem ir semestre adentro. Ele acha que a reforma passa, mas com dificuldade.
Inflação
Os indicadores inflacionários devem seguir em tendência de queda no segundo semestre, puxados pelo consumo fraco e pela confiança baixa.
Em maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA ) registrou alta de 0,31%, a menor taxa em uma década.
Já o IPCA-15, considerado um sinalizador da inflação oficial, desacelerou a alta para 0,16% em junho, o menor nível em 11 anos para o mês.
O IPCA de junho sai na próxima sexta-feira, dia 07 de julho, e a previsão do Boletim Focus é que o país pode ter sua primeira deflação em mais de uma década.
Mascolo afirma que a crise política tende a apresentar um comportamento deflacionário, sem pressão no consumo.
Copom e Selic
O Comitê de Política Monetária ( Copom ) tem reunião marcada para os dias 25 e 26 de julho.
No fim de maio, o comitê cortou os juros em 1 ponto percentual pela terceira vez seguida, mas a ata sinalizou que o ritmo de cortes poderia ser reduzido em função da crise política.
A inflação continua dando sinais fortes de queda, mas o Boletim Focus da última semana ainda prevê corte de 0,75 ponto percentual.
Para o professor do Insper, o BC vai manter o ritmo em 1 ponto percentual, caindo para 0,75 p.p. a partir da reunião de setembro, com a Selic fechando o ano entre 8% e 8,5%.
PIB
Para Mascolo, o PIB deve minguar ao longo do segundo semestre em meio às incertezas.
Ele acredita que a agricultura, que puxou o resultado positivo no 1º trimestre, deve continuar sendo um motor de crescimento com a alta do preço das commodities.
Mascolo projeta um crescimento anual do PIB entre 0,3% e 0,5%, em linha com a expectativa de crescimento de 0,5% do Banco Central.
Os resultados do PIB do segundo trimestre, que já vão mostrar os reflexos da crise política, só serão conhecidos em 1º de setembro com a divulgação de dados pelo IBGE.