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O camelô das camisinhas

Jair Gardelin é um vendedor ambulante como milhares de outros que existem em São Paulo. Até um ano atrás tinha uma banquinha perto de sua casa em São Bernardo do Campo, onde vendia objetos trazidos do Paraguai. Ganhava pouco -- cerca de 600 reais por mês --, mas havia a facilidade de estocar os produtos […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h18.

Jair Gardelin é um vendedor ambulante como milhares de outros que existem em São Paulo. Até um ano atrás tinha uma banquinha perto de sua casa em São Bernardo do Campo, onde vendia objetos trazidos do Paraguai.

Ganhava pouco -- cerca de 600 reais por mês --, mas havia a facilidade de estocar os produtos em casa. Certo dia, um "rapa" (blitz dos fiscais da prefeitura) levou tudo o que tinha na barraca. Perdeu o estoque que comprara na noite anterior de muambeiros que costumam trazer mercadorias do Paraguai de ônibus.

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Gardelin ficou sem nada para vender nos dias seguintes. "Naquela época eu não mexia com produtos famosos, só com bugigangas do tipo walkman, rádios e relógios." Ele não se lembra das marcas que vendia. Acha que por isso mesmo ganhava pouco. "Enquanto eu vendia relógios de marcas desconhecidas, meus colegas ofereciam Rolex, Bulova, essas marcas."

Desconsolado com a perda das mercadorias, foi aconselhado por alguns amigos a tentar a sorte na região da rua 25 de Março, no centro de São Paulo. "Me disseram que havia uma feirinha na 25 de Março durante a madrugada. Fui lá e comprei umas cartelas de isqueiros", diz Gardelin.

"Descobri que era fácil vender isqueiro da Bic. Todo mundo compra." O camelô prosperou com a venda de isqueiros a ponto de sublocar um espaço numa loja no 10.° andar da Galeria Pajé, por 400 reais mensais. Mas, depois de algum tempo, as vendas começaram a cair. "Acho que as pessoas estão fumando menos ou então não estão mais perdendo isqueiros."

No início de março deste ano, um vendedor passou na loja e lhe ofereceu um lote de preservativos. Gardelin desconhece a origem das camisinhas. A EXAME SP apurou que elas chegam de ônibus de Ciudad Del Este, no Paraguai. A mercadoria é descarregada nas imediações da rua Mauá, próximo à rua da Cantareira, zona central de São Paulo. Dali, pequenos atravessadores levam as mercadorias até a feirinha da 25 de Março, onde são vendidas livremente nas madrugadas de terça e sexta-feira.

Gardelin comprou inicialmente apenas uma caixa, contendo 50 embalagens de três unidades da marca Jontex. Pagou 20 reais. Como vendeu cada embalagem por 1 real, obteve 50 reais pela caixa, um lucro de 150%. Animado com o ganho, adquiriu mais lotes. Passou a ganhar cerca de 1 000 reais por mês só com a venda de camisinhas.

No dia 3 de maio, foi surpreendido por uma blitz da polícia na Galeria Pajé. Teve 21 caixas apreendidas. Prestou depoimento na delegacia e foi liberado. A polícia continua investigando para localizar a fábrica clandestina no Paraguai.

Segundo Maria Eduarda Kertesz, gerente de mercado da Johnson & Johnson, mais de 200 milhões de unidades de preservativos são vendidos a cada ano no Brasil, o que gera um faturamento de aproximadamente 110 milhões de reais.

A marca Jontex é líder de mercado, com 35% de participação. Segundo a Johnson & Johnson, o número de produtos falsificados encontrados até o momento não chega a 0,01% do total de preservativos Jontex vendidos no mercado.

A marca Jontex possui quatro versões de preservativos: lubrificado, espermicida, anatômico e ultra. Até agora foram identificadas falsificações nas três primeiras versões. As diferenças são visíveis. Todos os preservativos fabricados pela Johnson & Johnson trazem o selo do Inmetro, o selo Falcão Bauer e o certificado de qualidade ISO 9002.

A cor da embalagem do produto autêntico (cinza) é diferente da do produto pirateado (nos três casos identificados, a embalagem do produto falsificado é cinza-esverdeada, enquanto o rótulo tem cor mais clara que a da verdadeira e não possui o número do lote de fabricação).

Além disso, o produto pirata não traz nenhum selo ou certificado de qualidade. As embalagens com a designação "de bolso" não são mais fabricadas pela Johnson & Johnson.

Ao tomar conhecimento da falsificação do preservativo Jontex, a fabricante comunicou o fato ao Centro de Vigilância Sanitária, ao Inmetro e ao Procon de São Paulo, para que realizem as investigações, fiscalização e apreensão dos produtos falsos no mercado. A Johnson & Johnson tenta descobrir a fonte dos produtos piratas. Já indicou os locais onde foram detectados os produtos falsificados e disponibilizou laudos comparativos de embalagens e produto, para ajudar na fiscalização e apreensão desses produtos.

A embalagem individual interna de Jontex foi modificada e passou a conter os textos legais em três idiomas: português, inglês e espanhol. A empresa colocou ainda um telefone do Serviço ao Consumidor (0800 78 67 67), para que os consumidores denunciem quando suspeitar que o preservativo é falsificado.

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