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Novo modelo do setor elétrico afasta investidor, diz CNI

"Preparem-se para falta de energia", afirma vice-presidente da entidade

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h58.

O novo modelo para o setor elétrico não é capaz de atrair investidores nem de garantir o abastecimento de energia nos próximos anos. Essa conclusão faz parte de um relatório elaborado pelo Conselho de Infra-Estrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Participaram da análise do novo modelo 18 conselheiros da CNI, de diferentes setores da indústria, e representantes de entidades ligadas ao setor energia. Uma cópia do documento final foi entregue na tarde desta quinta-feira (22/1) por Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, ao deputado Fernando Ferro (PT/PE), relator das Medidas Provisórias (MPs) 144 e 145 que regulamentam a proposta do governo.

Nossa idéia era adiar a votação das MPs por dois ou três meses e evoluir para uma proposta mais madura e consensual , diz José de Freitas Mascarenhas, vice-presidente da CNI e presidente do Conselho de Infra-Estrutura da entidade. Mas percebemos que não há margem para o diálogo se é que houve em algum momento. Segundo Mascarenhas, o relatório sobre o novo modelo deve ficar pronto na segunda-feira (26/1) e a votação está prevista para a próxima quarta-feira (28/1). Mesmo assim, estamos avisando a sociedade , diz Mascarenhas. Prepare-se para uma eventual falta de energia porque o novo modelo não garante investimentos privados.

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Em linhas gerais, o novo modelo para o setor elétrico cria dois ambientes de negócios. De um lado há um pool de empresas voltadas para o atendimento da rede pública, onde as regras de compra e venda de energia são acompanhadas por organismos vinculados ao Ministério das Minas e Energia. De outro, estabelece um ambiente de livre contratação, onde podem atuar geradoras independentes e grandes consumidores. O documento elaborado pela CNI destaca uma lista de nove pontos negativos da proposta elaborada por técnicos do ministério e endossada pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva ao assinar as MPs e enviá-las à Câmara. De acordo com a CNI:

  • A proposta aumenta a intervenção do governo em órgãos que deveriam ser independentes. O poder público, por exemplo, poderá indicar de três dos cinco diretores do Operador Nacional do Sistema (ONS). Também poderá escolher o presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CBEE), entidade que substituirá o atual Mercado Atacadista de Energia (MAE) e vai gerenciar o pool.
  • A MP deveria definir regras claras para os novos contratos no setor, mas não regulamenta pontos importantes. Exemplos: não especifica as condições para a contratação ou para a comercialização da energia, nem define a política tarifária para o setor. Nesse ambiente, os investidores não têm condição de prever o retorno de seus investimentos.
  • O novo modelo desestimula o produtor independente (empresas ou consórcios que produzem energia para consumo próprio, indústrias eletrointensivas como a de alumínio). Se optarem por ter autonomia no ambiente de livre contratação ou por consumir toda a produção, terão de fazer uma compensação em dinheiro para o pool.
  • Os prazos para o grande consumidor migrar entre o pool e o ambiente de livre contratação são considerados longos. Para entrar no pool, são cinco anos; para sair, de um a três anos.
  • A proposta engessa os negócios das distribuidoras e inibe seus investimentos futuros , porque as obriga a vender energia apenas para o pool.
  • Não há sentido em exigir das distribuidoras que informem com cinco anos de antecedência quanta energia vão precisar para abastecer seus mercados. A medida afetará a formação de preços, restringirá a liberdade de negociação e aumentará os custos de transação, além de representar uma maior intervenção governamental no setor.
  • O setor depende de investimentos em moeda estrangeira, mas a proposta não contempla alternativas para reduzir o risco cambial. Essa questão, se não for sanada, poderá afastar investidores estrangeiros.
  • Os critérios de seleção de projetos especiais, de caráter estruturante, como as grandes hidrelétricas, que dependem de parcerias públicas, não estão definidos na legislação.
  • Proibir que geradoras vendam energia para distribuidoras ligadas a um mesmo grupo contribui para o aumento da competição e da transparência, mas poderá inibir futuros investimentos e mesmo incentivar concessionárias prejudicadas pela medida a exigir indenizações.
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