Economia

No curto prazo, crise está pressionando a inflação no Brasil

Desde o início de setembro, a alta do dólar superou a queda das commodities

Café: contrato negociado na BM&F acumula queda de 20% desde maio deste ano (Divulgação)

Café: contrato negociado na BM&F acumula queda de 20% desde maio deste ano (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2011 às 15h52.

São Paulo – O cenário que o Banco Central (BC) traçou para justificar a queda dos juros não está sendo confirmado na prática – ao menos no curto prazo – por causa da forte desvalorização do câmbio.

Segundo os diretores do BC, o agravamento da crise internacional derrubaria os preços das commodities, gerando um efeito deflacionário.

De fato, as commodities caíram nas últimas semanas, mas o comportamento do câmbio mais do que compensou essa queda.

Levantamento feito pela Gradual Corretora a pedido de EXAME.com mostra que, desde 1º de setembro – logo após a redução da Selic de 12,5% para 12% ao ano –, o índice CRB acumula queda de 13,27% em dólares. O CRB, índice tido como referência no mundo inteiro, calcula a oscilação de uma cesta de 19 commodities negociadas nos principais mercados.

No mesmo período, o dólar subiu 16,19% – passando de R$ 1,60 para um patamar perto de R$ 1,90. Portanto, a desvalorização do câmbio fez com que o índice CRB cotado em reais tivesse uma alta – e não uma queda – de 2,92% (veja gráfico na próxima página).

Em resumo: quando se analisam os dois efeitos da crise – queda das commodities e alta do dólar –, o ritmo maior do segundo acabou eliminando o efeito benéfico que o primeiro teria sobre a inflação.


O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, salienta, no entanto, que essa é apenas uma tendência de curto prazo gerada pelo estresse em torno da Grécia. “O dólar pode até chegar a dois reais num período inicial de pânico, mas, num segundo momento, a tendência é voltar para o fundamento no começo do ano que vem. Mesmo com a queda dos juros, o fluxo deve ser positivo em direção ao Brasil, apreciando o real novamente.”

Nesse contexto, com a crise derrubando os preços das commodities e o dólar perdendo força, o cenário será favorável ao controle da inflação. “O real só não volta ao patamar anterior se a gente conseguir destruir o conjunto de eventos positivos em torno da economia brasileira e o investidor estrangeiro começar a ver com desconfiança o Brasil”, diz André Perfeito.

Para exemplificar o tamanho do estrago que a crise pode gerar nos preços das commodites, o economista-chefe da Gradual Investimentos cita o contrato de café negociado na BM&F em dólar. O contrato, que tinha subido 134% no período de maio de 2010 a maio de 2011, caiu 20% entre maio e setembro deste ano.

O especialista ressalta também que essas variações – para cima ou para baixo – não são repassadas imediatamente para os preços ao consumidor. Portanto, ainda não é possível prever se a meta deste ano, cujo teto é 6,5%, será ou não cumprida.

Na semana passada, quando divulgou o Relatório Trimestral de Inflação, o BC elevou a previsão oficial de inflação para 6,40% em 2011. O mercado financeiro, por outro lado, aposta no estouro da meta.

Gráfico com a evolução do índice CRB em dólares (vermelho) e em reais (azul)

(Reprodução/Gradual Investimentos)

 

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