Economia

Decisão de sair cabe mais a Palocci que a Lula

Presidente não arcaria com o ônus de demitir ministro da Fazenda. Já a oposição não dá sinais claros de que deseja sua queda

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h58.

Apesar de afirmar que sua permanência no governo é uma decisão exclusiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cientistas políticos acreditam que o futuro do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, depende muito mais de si mesmo do que de Lula. "Palocci só deixará o ministério por vontade própria", diz o cientista político Rogério Schmitt, da consultoria Tendências. Assim, Lula se restringiria a resistir até o fim e aceitar o pedido de demissão somente quando não houvesse mais chances de fazê-lo desistir da idéia.

A primeira razão é que Lula dificilmente arcaria com o ônus de demitir Palocci. Uma atitude destas poderia gerar uma grande turbulência no mercado, à medida que os investidores enxergassem eventuais indícios de uma mudança no rumo da economia. "Não seria inteligente o presidente deixar o ministro partir", afirma o professor José Alves Donizeth, do Instituto de Política da Universidade de Brasília.

O estilo de Lula também contribui para a avaliação. Herança de seu período como líder sindical, o presidente prefere contemporizar e passar a limpo divergências entre seus auxiliares, a apoiar claramente um dos lados. "Neste ponto, ele é muito parecido com o ex-presidente José Sarney. Ambos têm uma grande dificuldade em demitir ministros", diz Schmitt, da Tendências. "Basta ver a novela em que se transformou a reforma ministerial de Lula", afirma.

O efeito negativo desse traço do presidente é expor Palocci à fritura pública, que pode extrapolar a paciência do ministro e levá-lo a pedir demissão. Este foi o principal motivo para que Palocci condicionasse sua permanência no ministério a uma manifestação explícita de apoio de Lula, traduzida no acordo para elevar o superávit primário da meta de 4,25% do PIB. Mesmo que não consiga uma elevação acentuada, qualquer incremento já seria uma vitória do ministro, segundo Donizeth, da UnB.

Na prática, as chances de Palocci deixar imediatamente o governo estão menores. Sua ida à Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (23/11), avaliada positivamente tanto por governistas quanto por parte da oposição, e a declaração ainda que rápida de Lula de que o ministro "está mais firme do que nunca" na pasta são sinais de que nenhum desfecho radical é esperado para breve.

Para Donizeth, da UnB, Palocci é um político hábil, que tem consciência da importância de seu cargo, seja para o projeto petista de permanecer no poder por mais quatro anos, seja para seu projeto pessoal de continuar na vida pública. "Dificilmente, o ministro sairá do governo", diz. Já a oposição reluta em atacá-lo frontalmente, já que concorda, em linhas gerais, com a condução da economia. Além disso, também não quer ser vista como responsável pela queda do ministro um ato que poderia comprometer a confiança dos investidores no país.

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