Mudanças à mesa: 15 alimentos na mira do aquecimento global
Estudo das Nações Unidas feito pelo Grupo Internacional de Consulta em Pesquisa Agrícola (CGIAR, na sigla em inglês) mostra como a elevação das temperaturas e as mudanças climáticas poderão afetar a produção das principais commodities agrícolas no mundo
Vanessa Barbosa
Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 17h08.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h15.
São Paulo – Mudanças à vista, ou melhor, à mesa. Um estudo feito pelo Grupo Internacional de Consulta em Pesquisa Agrícola (CGIAR, na sigla em inglês) para as Nações Unidas sugere que o aquecimento global pode comprometer, até 2050, cerca de 20% da produção trigo, arroz e milho – as três commodities agrícolas mais importantes e que estão na base de metade das calorias consumidas por um ser humano. É uma perda preocupante, contra a qual será preciso lutar, sob a dura pena de mergulhar bilhões de pessoas na fome – um mal que atinge um em cada sete habitantes do planeta. Veja a seguir como a elevação das temperaturas e as mudanças climáticas poderão afetar a produção das principais commodities agrícolas no mundo
A maior ameaça das mudanças climáticas para a produção de bananas é o aumento de surtos de pragas e doenças, principalmente nas terras altas da Uganda, Tanzânia, Burundi, Ruanda e Congo Oriental, países onde a fruta é sinônimo de segurança alimentar. Não só isso, a banana é altamente sensível à água disponível no solo. E essas regiões, que juntas abrigam comunidades pobres de mais de 30 milhões pessoas, são vulneráveis à falta de água, hoje um dos maiores desafios enfrentados pelos governos locais.
A mandioca é a segunda cultura alimentar mais importante nos países pobres e a quarta mais importante nos países em desenvolvimento, com produção total de 218 milhões de toneladas. Além de contribuir para a segurança alimentar, é fonte de renda para pequenos proprietários. Em geral, a espécie é tolerante à seca e adaptável a algumas das mais altas temperaturas encontradas na agricultura. Por outro lado, a mandioca não se dá bem com excesso de água, é altamente vulnerável à podridão da raiz quando exposta a inundações por longos períodos.
Nem todos os alimentos serão prejudicados com um meio ambiente mais hostil. Exemplo disso é a cevada, cereal rico em zinco e ferro que poderia ajudar a melhorar a nutrição no mundo, especialmente em regiões afetadas pela seca. Grão valorizado pela produção de bebidas alcoólicas, a cevada pode tornar-se ainda mais atraente por outros motivos: a resistência ao calor, seca e à salinidade do solo, uma ameaça real diante do avanço do nível dos mares.
As altas temperaturas aparecem como o problema mais grave, seguido pela seca, entre as ameaças da mudança climática para a produção de feijão. Há motivos para preocupação, uma vez que a leguminosa representa, em média, 20% da dieta dos países em desenvolvimento. Em alguns, a dependência é ainda maior, caso de Burundi (55%) e Ruanda (38%). No Brazil e Tanzânia, o feijão responde por 14% das proteínas vegetais consumidas por uma pessoa.
Outra fonte tradicional de proteína vegetal, o grão-de-bico pode ser vulnerável às mudanças climáticas, em parte, porque geralmente é cultivado em terras com quantidades mínimas de fertilizantes e irrigação, ficando exposto a ataques de pragas e estresses ambientais. Uma pesquisa na Índia, feita ao longo de 10 anos, mostrou que o aumento da temperatura acima de 35 ° C torna a planta mais suscetível a desenvolver uma podridão na raiz causada por doenças. Hoje, as principais regiões produtoras são Índia, Turquia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Irã e México.
Juntamente com arroz e trigo, o milho responde por 30% das calorias de alimentos consumidos por 4,5 bilhões de pessoas em 94 países em desenvolvimento. Seu ponto fraco: detesta calor. Testes de campo e dados históricos mostram que as temperaturas superiores a 30 ° C associadas à seca reduzem o rendimento das culturas. Só na África, 20% da produção está em risco com as alterações climáticas.
O amendoim também está na mira do aquecimento global. Segundo o estudo, secas constantes podem tornar as sementes vulneráveis à contaminação por aflatoxina, uma toxina cancerígena produzida principalmente pelo fungo Aspergillus flavus. Além disso, as altas temperaturas e as chuvas irregulares dificultam a secagem do grão e seu armazenamento.
Alimento altamente nutritivo, a lentilha consegue resistir bem ao ambiente hostil. Sua resiliência a torna um coringa no sentido de aumentar a segurança alimentar em países necessitados. Mas as lentilhas não são a prova de tudo, e sob certos estresses climáticos, podem ter o rendimento afetado. A intensidade e principalmente a frequência das mudanças no tempo e das tensões térmicas poderiam afetar severamente a produção.
As alterações climáticas terão impactos significativos na produção de trigo, cuja cultura é extremamente vulnerável ao calor e seca. A irrigação pode ajudar o trigo a sobreviver a condições de estresse, mas exigiria uma quantidade insustentável desse recurso. Segundo o estudo, o "estresse hídrico" associado ao aumento de 1°C na temperatura resultaria na perda de 20% da produção.
Dona da quarta maior safra de alimentos do mundo, as batatas também estão na mira do aquecimento do planeta, e se tem um palavra que não combina com esse cultivo é aquecimento. O medo é que as temperaturas crescentes reduzam a produtividade da batata em locais onde pessoas já lutam para suprir suas necessidades nutricionais básicas, como a Índia.
A soja é uma das culturas que mais sofrem sob altas temperaturas. De acordo com o estudo, áreas nos EUA e no Brasil que cultivam a proteína vegetal para exportação terão de enfrentar quedas acentuadas quando a temperatura ultrapassar os 30 ° C com frequência. Em 2070, a área adequada para plantio de soja poderá cair 60% em relação à área de produção atual, devido à falta de água e a verões mais intensos.
A mudança climática pode levar a um declínio de 15% na produção de arroz. O motivo? Cientistas suspeitam que as plantas estão gastando mais energia para respirar em noites quentes, o que afeta a capacidade de realizar fotossíntese. Não para aí. As inundações são um problema significativo para o cultivo de arroz, especialmente nas planícies do sul e sudeste da Ásia. A ameaça crescente de salinidade é outro problema, que resulta do aumento do nível do mar em grandes áreas de zonas húmidas costeiras.
Cultivo importante e meio de subsistência no oeste africano, o inhame é vulnerável a pragas e doenças que poderiam intensificar-se devido aos efeitos do clima. Desde 2000, indica o relatório, a taxa de crescimento anual da produção de inhame tem sido irrisória (menos de 1%) em uma das principais regiões produtoras, a Nigéria.
Fava é a principal fonte de proteínas vegetais na dieta dos países onde é cultivada, como Etiópia, Sudão, Marrocos, Egito e Síria. Cultura importante na rotação de cereais, pois ajuda a fixar nitrogênio no solo, a Fava pode ter de lidar com novos tipos de pragas com o aumento das temperaturas. Para piorar, o cultivo tem fama de ser sensível à seca, que pode causar quebra de safra drástica.
O estudo revela que um aumento de 1 ° C na temperatura média da atmosfera poderia reduzir o rendimento do quinto cereal mais importante (depois do arroz, trigo, milho e cevada) entre 4 e 8% em estações chuvosas na Índia. Os grãos do sorgo são úteis na produção de farinha para panificação, amido industrial, álcool e como forragem ou cobertura de solo em regiões tropicais e subtropicais do mundo.
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