Economia

Mercado ainda espera novos sinais de ortodoxia de Mantega

Para economistas, novo ministro conseguiu, por ora, dissipar os temores de novos rumos na economia

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.

Ainda falta muito para o mercado se convencer de que Guido Mantega converteu-se sinceramente à ortodoxia econômica. Com poucos dias à frente do Ministério da Fazenda, Mantega teve pouco tempo para fazer algo concreto - nomeou dois assessores, empossou a primeira mulher na presidência da Caixa Econômica Federal, conteve bastante o tom de seus discursos e aceitou um corte da TJLP menor do que defendia. O saldo até o momento, dizem os economistas, foi positivo, mas foi suficiente apenas para dissipar os temores mais imediatos.

O teste mais recente foi a divulgação da nova Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), uma decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) , composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central. Nesta sexta-feira (31/3), a taxa foi reduzida em 0,85 ponto percentual, para 8,15% ao ano e ficou dentro das expectativas de mercado - mas acima do que o ministro pregava antes de assumir a nova função.

A TJLP é determinada trimestralmente e serve de parâmetro para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social estabelecer as taxas das linhas de financiamento, entre outros. No ano passado, quando presidia o banco, Mantega chegou a declarar que a TJLP deveria cair para 7%. "Tecnicamente, haveria motivos para um corte de até um ponto percentual, mas esse foi um momento de se demonstrar austeridade", afirma o economista Alex Agostini, da Austin Ratings.

"Ainda não foi o ideal, mas a redução da TJLP é um bom sinal", disse Boris Tabacof, diretor-titular do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, em nota à imprensa. Segundo Tabacof, o corte mostrou que o CMN está sensível quanto "à redução do custo de capital com o forma de estimular novos investimentos". A TJLP, porém, ainda está bem longe do ponto satisfatório, segundo ele: 6% ao ano, o que representaria uma taxa real de 2%.

Palha seca

Apesar das demonstrações de conservadorismo, o mercado ainda parece um campo de palha seca, capaz de incendiar-se com algum movimento imprevisto de Mantega. Por isso, os analistas afirmam que o ministro ainda precisa fazer muito mais para conquistar a confiança dos investidores. "O essencial é tocar a economia do modo como vinha sendo feito", diz Roberto Padovani, sócio da consultoria Tendências.

Para Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, economista-chefe da Global Invest, a desconfiança do mercado é legítima. "Como economista, Mantega nunca conviveu bem com essas políticas monetária, fiscal e cambial. Com o tempo, pode se sentir mais à vontade para efetuar mudanças", diz.

Por isso, na prática, os investidores começarão a prestar mais atenção no cumprimento do superávit primário. "O calcanhar-de-aquiles de todos os esforços de crescimento foram destruídos pelo descontrole fiscal", afirma Roberto Luis Troster, economista-cehfe da Federação Brasileira dos Bancos. "Gastos são uma tentação para o governo, pois apresentam benefícios de curto prazo e custos a longo prazo", completa, referindo-se à pressão por abrir os cofres públicos em um ano eleitoral no qual Lula, ainda que forte na disputa pela reeleição, não conta com muitas realizações para estampar sua campanha.

Outro teste para Mantega será a definição da meta de inflação de 2008, em reunião marcada pelo CMN para junho. Um aumento do centro da meta significaria dizer que o país poderia conviver com uma inflação maior para poder crescer, relaxando sua política monetária e fiscal. "Seria um tiro no pé do governo, porque o mercado ajustaria imediatamente a curva de juros futuros", afirma Agostini, da Austin Ratings. Agostini espera que a meta de 4,5%, com dois pontos de tolerância para cima ou para baixo, seja mantida para 2008.

Bombeiro do passado

Na avaliação dos economistas, Mantega passou a semana como bombeiro de suas próprias declarações no passado. Os primeiros sinais de fumaça que ameaçavam se transformar em um incêndio no mercado eram o temor de que Mantega nomeasse pessoas não - alinhadas à atual política econômica, o que reforçaria a sensação de que o Brasil daria uma guinada heterodoxa.

As brasas foram apagadas com a indicação de Carlos Kawall, ex-diretor financeiro do BNDES e ex-economista-chefe do Citibank, para o Tesouro Nacional, no lugar de Joaquim Levy, e de Bernard Appy, ex-secretário de Política Econômica, para a secretaria executiva do Ministério da Fazenda.

O segundo foco foi a decisão da TJLP, cujo corte ficou dentro do esperado pelos analistas. Durante a semana, Mantega ainda fez declarações públicas tentando amenizar as divergências sobre a conduta do Banco Central em relação à política monetária, e reafirmando seu compromisso com a estabilidade econômica, a austeridade fiscal e o regime de metas de inflação. "A semana encerrou com um saldo positivo", afirma Padovani, da Tendências. "Mas ainda há muito por fazer", completa.

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