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Juro deve ser alto até inflação atingir 4,5%, diz Vieira

Para o ex-vice-presidente do Banco Central Vieira da Cunha, o país precisará manter os juros altos até conseguir trazer a inflação para a meta

Ex-diretor do Banco Central Paulo Vieira da Cunha: melhor sinal para uma redução na taxa seria quando “eles tiverem trazido a inflação de volta aos 4,5%" (Tina Fineberg/Bloomberg News)
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Da Redação

Publicado em 6 de maio de 2015 às 16h12.

O Brasil precisará manter os juros altos até conseguir trazer a inflação para a meta e resistir à tentação de reduzir as taxas quando a economia entrar em recessão neste ano, disse o ex-vice-presidente do Banco Central , Paulo Vieira da Cunha.

O melhor sinal para uma redução na taxa seria quando “eles tiverem trazido a inflação de volta aos 4,5 por cento. Eu não tenho expectativa de que isso aconteça antes de 2017”, disse Vieira da Cunha, que atualmente é diretor de pesquisa macro no fundo hedge ICE Canyon, em entrevista à Bloomberg Brief Latin America no dia 29 de abril.

A inflação anual na maior economia da América Latina acelerou para 8,22 por cento em meados de abril, ritmo mais rápido desde janeiro de 2004 e acima do topo da faixa-meta do Brasil, de 2,5 por cento a 6,5 por cento.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do BC elevou a Selic pela quinta reunião seguida, de 12,75 por cento para 13,25 por cento -- nível mais alto desde janeiro de 2009 --, conforme previsto por 53 dos 61 economistas consultados pela Bloomberg.

O BC publicará nesta quinta-feira as minutas da reunião da semana passada.

A equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se comprometeu publicamente a diminuir a inflação para 4,5 por cento até o fim de 2016, enquanto os analistas estimam que neste ano a economia sofrerá a maior retração desde 1990, pelo menos.

Vieira da Cunha diz que a recessão estará em curso no terceiro ou no quarto trimestre.

“A pressão para que o BC corte os juros vai ser muito forte nesse momento, mas isso seria um erro pois, na minha opinião, as expectativas de inflação não estariam ancoradas”, disse ele.

Ciclo de aperto

Vieira da Cunha, contudo, disse que o ciclo de aperto do Brasil está terminando.

“Sem dúvida estamos chegando ao fim”, disse ele. “Pode ser na reunião de junho. A questão não é o nível dos juros no final do ciclo. A questão é por quanto tempo esses juros vão ficar nesse patamar e quando vai começar o afrouxamento”.

Além da recessão, o país verá uma queda na renda familiar real pela primeira vez em uma década, ele acrescentou.

Vieira da Cunha disse que o Brasil provavelmente manterá seu rating de grau de investimento neste ano, mas sem uma melhoria na sua economia e necessidades reduzidas de empréstimo pode ser difícil evitar um rebaixamento no futuro.

Em março, a Standard & Poor’s manteve o rating do crédito soberano do Brasil inalterado em BBB-, seu mais baixo grau de investimento. A Moody’s Investors Service classifica o Brasil em Baa2, dois níveis acima de junk (grau especulativo).

São Paulo - Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi perguntou a Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse a ele que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos." Por enquanto, não estamos neste patamar, mas a situação é tudo menos confortável. Na semana passada, o IBGE divulgou que o Brasil teve em janeiro sua maior inflação mensal em mais de uma década. Tudo indica que a taxa deve fechar 2015 acima dos 7%, estourando o teto da meta - o que não acontece desde 2003. Economistas esperam que mesmo com a recessão, o índice só vá começar a ceder em 2016. Mas pelo menos por enquanto, a distinção dos dois dígitos fica com dois vizinhos latino-americanos, duas nações africanas e dois países que estão basicamente em guerra um contra o outro. Veja a seguir qual deve ser a inflação anual nestes 6 países na mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg e quais são as raízes do fenômeno em cada um deles:
  • 2. Venezuela

    2 /8(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

  • Veja também

    Inflação estimada para 2015: 72,3% (pesquisa de nov/2014) O que está acontecendo: o pacote de camisinhas de 2 mil reais é só o último exemplo do quão longe chegou o caos econômico na Venezuela , um dos piores países do mundo para se fazer negócios. Anos de estímulo da demanda combinados com uma desorganização total do setor produtivo e uma moeda desvalorizada levaram a prateleiras vazias; e nada estimula a inflação mais do que a escassez. A recente queda do preço do petróleo arrasou com as finanças do governo e só piorou a situação, já que faltam recursos para comprar importados.  Enquanto isso, o presidente Nicolas Maduro continua culpando forças ocultas pelos desequilíbrio econômicos, que tenta resolver com medidas "criativas" como controle de preços, tomada de empresas e cadastro biométrico para compra em supermercados.
  • 3. Argentina

    3 /8(Reprodução/Facebook)

  • Inflação estimada para 2015: 22,5% (pesquisa de jan/2015) O que está acontecendo: nossos vizinhos portenhos não hesitaram nem um pouco em aumentar gastos e imprimir dinheiro mesmo durante períodos de bonança. O resultado foi um peso desvalorizado e uma inflação que deve resistir ao segundo ano seguido de recessão na Argentina . As respostas de Cristina Kirchner se resumiram a aumentar o controle do setor privado, tentar segurar a saída de dólar, instituir controles de preços e maquiar as estatísticas oficiais, que já não são consideradas válidas pelas instituições privadas.
  • 4. Ucrânia

    4 /8(Reuters)

    Inflação estimada para 2015: 17,5% (pesquisa de dez/2014) O que está acontecendo: instabilidade política, a perda da Crimeia e o separatismo violento no leste empurraram a Ucrânia para uma grave crise econômica. A queda de produção industrial e desvalorização de sua moeda, em especial, contribuíram para a maior taxa de inflação em 14 anos. Outro fator (este em comum com o Brasil) é o aumento dos preços de energia, resultado da decisão do governo de cortar subsídios que existiam há décadas.
  • 5. Gana

    5 /8(SXC.Hu)

    Inflação estimada para 2015: 13,2% (pesquisa de nov/2014) O que está acontecendo: a economia de Gana vem crescendo bastante nos últimos anos, mas isso acelerou a demanda e pressionou a inflação. Uma moeda em desvalorização e um governo com problemas fiscais também não estão colaborando.  A boa notícia é que a tendência é de queda: o petróleo mais barato ajuda a segurar os preços, e a taxa projetada pela Bloomberg está no centro da meta do governo (13% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo).
  • 6. Rússia

    6 /8(Andrey Rudakov/Bloomberg)

    Inflação estimada para 2015: 13% (pesquisa de jan/2015) O que está acontecendo: a Rússia está em um momento difícil, para dizer o mínimo. Em 2014, o país se viu atingido por uma tempestade dupla: de um lado, sanções ocidentais para pressionar Vladimir Putin a deixar a Ucrânia em paz; do outro, uma queda brutal dos preços de petróleo, principal fonte de divisas do governo. O resultado foi uma recessão violenta e uma depreciação forte do rublo. A alta dos juros não foi capaz de conter o processo, e algumas das reações de Putin - como proibir a importação de alimentos da Europa - só pioraram o problema. A solução para acalmar os ânimos foi diminuir o preço mínimo da vodca, que está agora em R$ 14,64 por litro.
  • 7. Egito

    7 /8(Amr Abdallah Dalsh/Reuters)

    Inflação estimada para 2015: 10,6% (pesquisa de dez/2014) O que está acontecendo: o Egito é um dos países do mundo que mais subsidiam energia suja. A redução deste apoio é importante para melhorar a situação fiscal do governo, mas leva a aumentos de preços no curto prazo. O Banco Central também vem cortando os juros, priorizando o crescimento ao invés do controle da inflação. A economia do Egito é muito dependente do turismo e está patinando com toda a turbulência política desde a derrubada de Hosni Mubarak no início de 2011.
  • 8 /8(Getty Images)

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