Reino Unido: Johnson quer acelerar o investimento em infraestrutura e reduzir as regras de planejamento (afp/AFP)
Reuters
Publicado em 30 de junho de 2020 às 08h43.
Última atualização em 30 de junho de 2020 às 10h16.
"Reconstruir melhor, reconstruir mais verde, reconstruir mais rápido": esta foi a promessa feita nesta terça-feira pelo primeiro-ministro Boris Johnson ao apresentar um plano inspirado no "new deal" americano para, com 5 bilhões de libras, tentar retirar o Reino Unido da crise provocada pelo coronavírus.
"É o momento de ser ambiciosos e não apenas vamos nos recuperar, como vamos avançar, mais fortes, melhores e mais unidos", afirmou o chefe de Governo em um discurso organizado na região central da Inglaterra, uma das áreas que impulsionou sua grande vitória nas eleições de dezembro.
Durante a campanha eleitoral, o líder conservador se comprometeu a injetar milhões de libras nos serviços públicos para reduzir a desigualdade no país.
Uma pandemia de COVID-19, que deixou mais de 43.500 mortos nos Reino Unido, o país mais afetado da Europa, e três meses de confinamento depois, o estímulo é mais necessário que nunca, especialmente quando se considera que as restrições podem voltar a qualquer momento, como demonstrou a cidade de Leicester, onde na segunda-feira as autoridades determinaram o fechamento do comércio e das escolas após um forte alta de casos de coronavírus.
Apenas no mês de abril, o confinamento, imposto no país a partir de 23 de março e que está sendo flexibilizado progressivamente há um mês, provocou uma queda de 20,4% do Produto Interno Bruto (PIB) britânico, um recorde histórico.
Sem a ajuda do governo, o desemprego pode atingir os níveis registrados nos anos 1980 e superar o pico de 3,3 milhões de pessoas sem trabalho de 1984, de acordo com uma análise da Biblioteca da Câmara dos Comuns publicada pelo jornal The Observer.
Johnson se mostrou determinado a seguir adiante com o plano de investimentos e a promessa de que o país não retornará à austeridade imposta pelos conservadores após a crise financeira de 2008.
"Este governo não está apenas comprometido a derrotar o coronavírus, e sim a usar esta crise para finalmente enfrentar os grandes desafios não solucionados do país nas últimas três décadas", afirmou.
E, inspirado no "new deal" anunciado pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt nos anos 1930 para superar a Grande Depressão graças a uma forte intervenção estatal, prometeu "construir casas, reparar a saúde pública, abordar a crise de formação, fechar a brecha das oportunidades".
O plano inclui 5 bilhões de libras (6,13 bilhões de dólares), sendo £ 1 bilhão destinados para escolas e 1,5 bilhão aos hospitais.
Johnson também pretende modificar o sistema de planejamento urbano para abordar a crise de habitação,
Graças à reforma, que o governo espera concluir até setembro, os estabelecimentos comerciais, incluindo as muitas lojas que fecharam recentemente, poderão, por exemplo, virar locais com maior flexibilidade.
A reforma será acompanhada de um pacote de medidas que incluem um programa de 2 bilhões de libras para ajudar a construção de 180.000 novas casas acessíveis nos próximos oito anos.
"Não sou um comunista", afirmou Johnson, que também anunciou a intenção de estimular iniciativas privadas, especialmente em inovação tecnológica. "Podemos ser uma superpotência científica", disse.
Mas as críticas também foram rápidas, especialmente pela falta de ambição ecológica em seu plano.
"Se a recuperação da ecologia pudesse ser alcançada apenas com palavras, os discursos de Boris Johnson já teriam nos levado até lá", disse John Sauven, diretor executivo do Greenpeace UK.
"Onde está o apoio do governo para um transporte mais limpo e melhor, casas mais quentes e energia renovável?", completou?.
Na opinião de Ed Davey, líder do opositor Partido Liberal-Democrata, "para se recuperar, o Reino Unido precisa urgentemente de investimentos em infraestruturas que respeitem o meio ambiente com um Plano de Recuperação Verde que crie prosperidade e postos de trabalho, ao mesmo tempo que enfrenta a crise climática".
Recordando que o "new deal" de Roosevelt gerou megaprojetos como a represa Hoover, o jornal Financial Times ironizou que a lista de prioridades de Johnson "inclui a reforma de uma ponte".