Economia

Indústria interrompe trajetória de queda, mas ainda é pior do que 2002

Em julho, a produção industrial brasileira cresceu 0,4% contra junho, na série livre de influências sazonais. Na comparação com julho de 2002, o índice registra queda de 2,5%. Com isso, o indicador acumulado do ano passa de 0,1% para -0,3% entre junho e julho deste ano. O acumulado nos últimos doze meses mantém a trajetória […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h23.

Em julho, a produção industrial brasileira cresceu 0,4% contra junho, na série livre de influências sazonais. Na comparação com julho de 2002, o índice registra queda de 2,5%. Com isso, o indicador acumulado do ano passa de 0,1% para -0,3% entre junho e julho deste ano. O acumulado nos últimos doze meses mantém a trajetória de queda, passando de 2,5% em junho para 1,9% em julho, informa o IBGE. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) também divulgou nesta sexta-feira (5/9) o seu índice de produção industrial. A confederação acredita que, apesar de os dados mostrarem que as vendas reais da indústria cresceram 0,94% em julho, o setor "mostra a interrupção na trajetória de queda da atividade industrial, embora ainda não possa traduzir com clareza uma reversão do quadro de retração registrado no primeiro semestre". O resultado do IBGE frustrou as expectativas do mercado financeiro, que esperava um crescimento de até 3% no mês e ainda de alta na comparação com o ano passado. Mesmo abaixo da previsão, o Bradesco avalia que "o crescimento da produção física na margem demonstra que já há sim uma luz no fim do túnel. É verdade que até o fim do túnel há ainda um longo caminho a percorrer".

O acréscimo de 0,4% observado pelo IBGE na passagem de junho para julho reflete, principalmente, a recuperação na indústria extrativa mineral, onde houve um crescimento de 8,8%. Cabe lembrar, como mencionado no relatório do mês anterior, que em junho houve uma queda na produção de petróleo e gás natural, em decorrência de paralisações técnicas em algumas plataformas. Com a normalização da produção em julho, o setor passou a ter um impacto importante no crescimento de 0,4% registrado para o total da indústria. Dos dezenove ramos pesquisados na indústria de transformação, observa-se crescimento em dez, ainda na comparação julho 03/junho 03.

O crescimento de 0,4% assinalado em julho, após a redução de 2,6% observada no mês anterior, faz com que o patamar da produção em julho seja o segundo mais baixo desde dezembro de 2001.

Em bases trimestrais (índices de média móvel) a trajetória industrial se mantém em queda em julho, sendo que a área de bens de consumo duráveis é a única que apresenta algum sinal de reação: no trimestre encerrado em julho a produção está 2,3% acima da de maio.

Nos índices por categorias de uso, a série com ajustamento sazonal mostra acréscimos, entre julho e junho deste ano, para os segmentos de: bens intermediários (1,0%), bens de consumo duráveis (0,7%) e bens de capital (0,4%). A área de bens de consumo semiduráveis e não duráveis repete a queda do mês anterior e recua 2,1%. A produção de bens intermediários, influenciada pela normalização da produção de petróleo, apresenta o primeiro resultado positivo neste tipo de comparação, desde fevereiro deste ano. O setor de bens de consumo durável, que já havia crescido em junho, acumula acréscimo de 2,0% frente a maio. O resultado para bens de capital (0,4%) se dá sobre um mês que havia mostrado queda de 5,7% frente ao anterior.

Em julho, o índice global da indústria caiu 2,5% em relação a julho de 2002, a quarta queda consecutiva na comparação. Treze dos vinte ramos pesquisados assinalam queda na produção, sendo as de material elétrico e de comunicações (-14,0%), química (-2,5%), fumo (-60,0%), vestuário e calçados (-13,0%) e farmacêutica (-22,7%), as de maior impacto sobre o resultado global. No caso da forte redução da produção de fumo, o fator determinante foi o término antecipado da safra de fumo em folha em função de fatores climáticos, que reduziu a disponibilidade dessa matéria prima.

Entre os sete ramos com crescimento, os principais destaques foram, por ordem de importância: metalúrgica (4,0%), mecânica (4,7%) e extrativa mineral (2,3%). No caso da metalúrgica, segmento relativamente mais exportador que a média da indústria, o índice mensal é positivo há quatorze meses consecutivos. Para a indústria mecânica, fortemente influenciada pelo subsetor de máquinas e implementos agrícolas, esses índices são positivos desde abril do ano passado. Esses dois ramos industriais sintetizam bem o efeito positivo que as exportações e o desempenho da agricultura têm tido sobre o nível da atividade industrial.

No corte por categorias de uso, todos os segmentos mostram taxas negativas no confronto julho 03/julho 02. Não fosse a queda mais moderada de bens intermediários (-0,7%), o índice global da indústria teria sido mais negativo, uma vez que nas demais categorias as quedas ultrapassaram a marca de 6,0%: bens de consumo duráveis (-6,4%), bens de consumo semi e não duráveis (-6,3%) e bens de capital (-6,1%).

Na área de bens intermediários, os índices positivos dos subsetores de combustíveis e lubrificantes básicos (2,2%), de peças e acessórios para bens de capital (16,4%) foram importantes para reduzir a pressão negativa dos resultados da maioria dos subsetores desta categoria de uso. Entre os bens de consumo duráveis as principais pressões negativas vieram de produtos do setor mobiliário (-10,2%) e da indústria de material elétrico e de comunicações (-10,0%). No setor de bens de consumo semiduráveis e não duráveis, as principais quedas foram medicamentos (-22,7%), artigos do vestuário (-13,0%) e bebidas (-10,8%).

No segmento de bens de capital, a queda de 6,1% no índice mensal de julho reflete, principalmente, os desempenhos muito negativos de bens de capital para energia elétrica (-14,0%), para transporte (-9,1%) e para construção (-38,1%).

O indicador acumulado para o período janeiro-julho (-0,3%) mostra a primeira redução no ano e reflete as quedas observadas em treze ramos industriais. As taxas mais negativas ocorrem em: farmacêutica (-18,1%), vestuário e calçados (-14,6%) e produtos de matérias plásticas (-12,4%), setores tipicamente voltados para o atendimento da demanda interna. Por outro lado, nas indústrias que registram as taxas mais elevadas há uma predominância de setores relativamente mais exportadores e/ou mais articulados ao agronegócio: mecânica (9,5%), metalúrgica (6,0%), borracha (5,3%) e couros e peles (4,6%).

Em síntese, observa-se que a despeito da elevação na atividade industrial observada na passagem de junho para julho (0,4%), a tendência predominante nos índices é, ainda, negativa. Isso fica evidente na observação dos índices que comparam períodos mais amplos e, também, na trajetória dos índices de média móvel trimestral, onde há uma única exceção que é a ligeira reação observada no segmento de bens de consumo duráveis.

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