Guerra comercial: a crise que o próximo presidente não poderá ignorar
Pesquisa da Amcham, cedida com exclusividade para EXAME, revela que as empresas no Brasil estão em alerta para os efeitos da disputa entre EUA e China
Gabriela Ruic
Publicado em 27 de julho de 2018 às 17h01.
Última atualização em 27 de julho de 2018 às 18h01.
São Paulo – A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China promete trazer uma grande pressão para o próximo governo do Brasil, independentemente de quem será o candidato vencedor após as eleições, em outubro. É o que indica uma pesquisa da Câmara Americana para o Comércio no Brasil (Amcham) com 130 executivos de grandes empresas brasileiras ou multinacionais, a que EXAME teve acesso com exclusividade.
O levantamento mostra que os executivos estão cautelosos em razão das recentes turbulências comerciais globais. A maioria deles (66%) diz que já trabalha com um cenário de risco, levando em conta um impacto econômico e comercial negativo nos negócios no Brasil. Ainda de acordo com os entrevistados, o diálogo bilateral entre os Estados Unidos e a China, os maiores parceiros comerciais do Brasil, deve ser um dos temas prioritários na agenda do presidente eleito .
O tema é ainda mais urgente num momento em que as previsões de crescimento econômico para o Brasil são mornas, influenciadas por fatores como alta do dólar e a disputa comercial entre as potências. A expectativa do governo federal para o crescimento do PIB em 2018 recuou de 3%, no começo do ano, para 1,6% em julho.
Sobre a relação com os Estados Unidos, especificamente, os executivos entrevistados na pesquisa dizem querer ver um governo brasileiro com postura “ativa” (56%). Eles também acreditam que conversas com os Estados Unidos e a China deveria começar de imediato, numa tentativa de evitar a imposição de novas sobretaxas (33%).
Os entrevistados também acreditam que o comércio exterior é um dos maiores desafios que a próxima gestão irá enfrentar (53%) e apontam que o governo também precisará simplificar e desburocratizar as operações de importação e exportação (51%).
Mercosul e UE: a esperança não morre
Com um cenário internacional turbulento e incerto, os empresários ouvidos pela Amcham acreditam que o risco trazido à tona pela desglobalização, fenômeno que prevê a redução da interdependência e integração no espectro global, pode acelerar o tão sonhado acordo entre União Europeia e o Mercosul , há anos em negociação.
Para muitos dos entrevistados (53%), contudo, mais que uma tratativa com o bloco europeu , uma aproximação maior com outros países da América Latina, como a Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile) traria maiores ganhos comerciais. Uma parcela dos executivos (35%) considera que a melhor opção seria aumentar o comércio com a China.
Baixa participação brasileira no comércio exterior
Deborah Vieitas, presidente da Amcham, nota que a experiência em lugares do mundo -- como Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong, Chile e Espanha -- mostra que as exportações são uma ferramenta importante para crescimento econômico, o que reforça a necessidade de o Brasil aumentar a participação do comércio exterior na economia. “Os países que realmente conseguiram mudar de patamar nos últimos 70 anos têm entre 40% e 50% do PIB ligados às exportações e às importações. No Brasil, é difícil encontrar momentos da economia em que o comércio exterior representasse mais do que 25% do nosso PIB”, diz Deborah Vieitas.
Ainda de acordo com ela, o próximo presidente do Brasil precisará ter uma postura mais ativa em relação ao comércio exterior e na atração de investimentos. "Precisamos escolher um líder que priorize uma politica internacional com estratégia para o médio e longo prazo e, a desburocratização do comércio. Observamos que, apesar dos riscos evidentes e crescentes, esses temas ainda aparecem de forma tímida nas discussões da nossa politica interna", avalia.