Grécia permite venda de alimentos vencidos por preço menor
Associações de consumidores interpretaram a medida como uma prova da incapacidade do governo para deter a inflação dos produtos básicos
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2012 às 10h55.
Atenas - A Grécia vai permitir a venda de alimentos vencidos por um preço inferior ao original, em uma medida que o governo não foi capaz de justificar, mas que as associações de consumidores interpretaram como uma prova de sua incapacidade para deter a inflação dos produtos básicos.
Um decreto ministerial acaba de reativar uma velha regulamentação que autoriza supermercados e lojas de alimentação a vender alimentos, mesmo que superada a data de validade.
"Esta regulamentação existe há muitos anos. E é algo permitido também no resto da Europa. A única coisa que fizemos foi detalhar que estes produtos devem ser vendidos a um preço baixo. Não entendo por que está causando tanto barulho", declarou na segunda-feira à Agência Efe Yorgos Moraitakis, assessor do Ministério de Desenvolvimento, Competitividade, Transporte e Comunicações.
A normativa exclui a carne e os laticínios da lista de produtos perecíveis que podem ser vendidos e estabelece um limite máximo de datas nas quais pode ser continuada a comercialização.
Assim, os alimentos nos quais a data de validade vem indicada por dia e mês, poderão continuar nas prateleiras por mais uma semana.
Caso conste "consumir preferencialmente antes de" e só for indicado o mês e o ano, a venda poderá ser estendida durante um mês, e se a data indicar somente o ano, a data de venda poderá ser prolongada por um trimestre.
Moraitakis não quis especificar à Efe os motivos desta decisão e se limitou a lembrar que a normativa já existia, mas as associações de consumidores e inclusive alguns organismos oficiais criticaram a medida.
"Praticamente admitem sua incapacidade para controlar os preços", denunciou à Efe Victor Tsiafutis da Associação de Consumidores "Qualidade de vida", uma das mais antigas da Grécia.
Na Grécia da crise, do corte de salários e pensões e do aumento do desemprego, o preço dos alimentos e produtos básicos não deixou de subir.
Entre agosto de 2011 e agosto de 2012, o preço do açúcar disparou 15%; os ovos, 6,8%; o da manteiga 3,2%; e o do café 5,9%, segundo os dados da Autoridade de Estatística.
"É um ato imoral", criticou Tsiafutis. "Em vez de tomar iniciativas para controlar os preços, permitem a venda de alimentos com data de validade superada".
Além disso, o Organismo Nacional de Alimentos inclusive questiona a utilidade da medida.
"É duvidoso que estes alimentos vão ser vendidos com desconto, pois os mecanismos de controle de preços fracassaram", advertiu Yannis Miyas, presidente da organização vinculada ao governo.
De fato, a medida não estabelece de quanto será o desconto em relação ao preço inicial, algo que fica a critério do comerciante.
Para Yannis, a venda de alimentos vencidos representa também um dilema moral, ao dividir os consumidores em dois grupos: os que podem pagar os alimentos básicos e os que, por pobreza, "se veem obrigados a recorrer a alimentos de qualidade duvidosa".