Exame Logo

Governo perderá a credibilidade se trocar o índice oficial de inflação

Proposta de adotar um índice de inflação que exclua os preços administrados, para facilitar o cumprimento das metas, é estudada pelo governo, mas a mudança pode gerar desgastes

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h43.

Diante da possibilidade, cada dia mais concreta, de que o Banco Central não consiga atingir o centro da meta de inflação deste ano (5,1%), o governo já estuda a possibilidade de trocar de parâmetros para facilitar a tarefa. A proposta é adotar um índice que exclua os preços administrados, cujo reajuste é regido por contrato, como a energia e o telefone. Para José Márcio Camargo, sócio da consultoria Tendências, a mudança de índices seria um equívoco e poderia trazer mais perdas do que ganhos para a política monetária (se você é assinante, leia ainda reportagem de EXAME sobre o que há de errado com os juros brasileiros).

"Se o objetivo é ter uma política monetária menos rigorosa, o que o governo deveria fazer é anunciar uma meta para a inflação maior e não trocar de índice", afirma Camargo, em relatório divulgado nesta quinta-feira (2/6). Uma das possibilidades levantadas pelo governo é adotar, como meta, apenas a variação dos preços livres que compõem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza atualmente as metas de inflação.

Veja também

Para Camargo, a iniciativa poderia desgastar bastante a imagem do governo. Isto porque, ao excluir os preços administrados de seu foco de atenção, haveria um descompasso entre a inflação percebida pelo governo que só consideraria os preços livres e a sentida pela população que engloba os preços administrados. "O governo estaria tornando o sistema de metas menos transparente para a sociedade como um todo", diz.

O desgaste poderia não compensar eventuais ganhos da medida, como tornar mais transparente os efeitos da política monetária, já que o aumento dos juros não tem praticamente impacto sobre os preços administrados. Outro argumento favorável à medida, apresentado pelo governo, é que um novo índice tornaria o aperto monetário menos rigoroso, o que daria mais fôlego à economia. Mas, para Camargo, os fatores negativos ainda podem ser mais fortes. "Os riscos de perda de credibilidade no sistema de metas não são desprezíveis", afirma.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame