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Governo está dividido ao avaliar cenários para a guerra contra o Iraque

Relatório do Itamaraty indica que impacto global da guerra está subestimado, mas Planejamento não trabalha com expectativa mais pessimista

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h20.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recebeu na segunda semana de fevereiro um novo relatório acerca do impacto econômico de uma segunda Guerra do Golfo sobre o Brasil. É a segunda versão de um estudo concluído em outubro de 2002, antes do acirramento da crise entre Estados Unidos, Reino Unido e Iraque. Tivemos de atualizar o estudo , diz o embaixador Valdemar Carneiro Leão, diretor do Departamento Econômico do Itamaraty.

O relatório é confidencial, mas pode-se imaginar seu teor pelo tom pessimista com que se manifestou a Presidência da República depois daquela semana. As conseqüências podem ser, ainda, muito mais perversas para nós do que já vem sendo até aqui , informou o porta-voz do presidente Luís Inácio Lula da Silva na sexta-feira, 14 de fevereiro.

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No mesmo dia, Lula telefonou para os presidentes Eduardo Duhalde, da Argentina, Ricardo Lagos, do Chile, e Lucio Gutierrez, do Equador. O objetivo foi começar a organizar uma reunião de chanceleres para discutir vários assuntos _o principal deles, as conseqüências de uma segunda Guerra do Golfo para a América do Sul.

Por que tanta preocupação? Porque os efeitos da guerra podem ser bem mais graves e extensos do que os que estão embutidos, até o momento, nas previsões da equipe econômica. Os ministros do Planejamento e da Fazenda afirmam que o governo está sendo conservador, ou seja, pessimista, em suas contas -- incluindo a redefinição da meta de superávit primário em 4,25% do PIB e as elevações da taxa básica de juros em janeiro e fevereiro. Técnicos dos dois ministérios, porém, afirmam que esse conservadorismo é relativo --não leva em conta, por exemplo, que uma situação de conflito pode durar mais do que dois ou três meses.

O diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, por exemplo, duvida que a guerra possa trazer prejuízo significativo ao Brasil. Se os recursos externos continuarem a entrar no país, a tendência é de redução da taxa de câmbio. Mas o câmbio de hoje já está associado à expectativa de interrupção desses fluxos", afirmou Goldfajn em um seminário na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, em meados de fevereiro.

Traduzindo: o valor atual do dólar em relação ao real já embute a certeza da guerra _ou, ao menos, o BC torce muito para que a realidade seja essa. Goldfajn acredita que o Brasil já tenha passado pelo pior no ano passado, e que dificilmente este ano conseguirá ser tão ruim, mesmo com guerra. Você pode pegar o que aconteceu de ruim com nossa economia no ano passado e dividir por quatro, se a guerra for prolongada. Se for curta, pode dividir por dez . No mesmo seminário, o representante do FMI no Brasil, Rogério Zandamela, mostrou concordar com o diretor do BC. É preciso sublinhar que alguns países sofrerão muito com a guerra, mas que o Brasil será pouco afetado , disse.

O empenho do governo em conter o pessimismo foi notado no início de fevereiro, quando o ministro do Planejamento, Guido Mantega, veio a público para classificar como exagerado um cenário de guerra apresentado pela Assessoria Econômica de sua própria pasta. De acordo com esse cenário, a eclosão da segunda Guerra do Golfo levará o preço do petróleo a 40 dólares por barril. Se o conflito se estender por mais de um mês, afirma um dos cenário, o real se depreciará diante do dólar, a inflação subirá e exigirá um novo choque na taxa básica de juros, de pelo menos três pontos percentuais.

O responsável pela avaliação, José Carlos Miranda, chefe da Assessoria Econômica do Planejamento, afirma que considera outro cenário como mais provável. Esse cenário um , mais otimista, inclui guerra com duração de no máximo um mês e fraco impacto na economia brasileira. No entanto, mesmo com a reprimenda do ministro, Miranda manteve a avaliação pessimista do cenário dois .

Esse cenário, provavelmente, é destacado no relatório confidencial do Itamaraty. Uma de suas principais fontes é o estudo The economic consequences of a war with Iraq , concluído em outubro de 2002 pelo economista William Nordhaus, da Universidade Yale. O estudo de Nordhaus não dá muita margem para expectativas otimistas. Parece provável que os americanos estejam subestimando o custo econômico de uma guerra com o Iraque , afirma. Deveríamos evitar a falácia comum de pensar que os EUA ou qualquer outro país podem isolar sua economia de um choque do petróleo porque suas importações vêm de fontes seguras . Como os preços do petróleo são determinados no mercado internacional, um choque de preços em qualquer lugar afeta importadores em todos os lugares .

Os impactos envolveriam acentuados aumentos nos preços do petróleo, alta inflação e impacto na riqueza , informa o estudo de Nordhaus. No caso do Brasil, o maior impacto seria sobre derivados, como nafta e Diesel, não sobre o petróleo. Afinal, o Ministério de Minas e Energia calcula que os estoques de petróleo do Brasil dêem para 200 dias e o País importa apenas 10% do que consome de óleo. Já os estoques de gás de cozinha e óleo Diesel, por exemplo, dão para apenas 30 dias.

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