França reduz resistência a acordo UE-Mercosul
País europeu era considerado o que mais bloqueava o acordo de livre-comércio entre os blocos
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 14h29.
Paris - Durante muito tempo considerado o país que mais bloqueava o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul , a França mudou de posição nas últimas horas em favor de um fechamento rápido da negociação, que se prolonga há mais de 20 anos.
Desde terça-feira, delegados governamentais de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai estão em Bruxelas na expectativa de avançar em um entendimento com a Comissão Europeia, que agora parece mais próximo.
Nos bastidores políticos em Paris, a tendência é de que a França dê seu acordo para que Bruxelas proponha a ampliação da cota de importação de carne do Mercosul de 70 mil toneladas por ano para 100 mil toneladas, mesmo desagradando ao setor francês, que teme uma invasão de carne brasileira, uruguaia e argentina.
Na sexta-feira, em reunião bilateral com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, o líder francês, Emmanuel Macron, deu sinal de que seu governo estaria pronto a aceitar o acordo com o Mercosul.
"Nós compartilhamos a mesma visão estratégica sobre esse acordo entre União Europeia e Mercosul, que pode ser bom para as duas partes. É pertinente tentar finalizá-lo rapidamente no contexto geopolítico atual", argumentou Macron, em alusão à rejeição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a acordos de livre-comércio e em favor de medidas protecionistas.
O presidente francês, que foi um dos artífices do acordo de livre-comércio com o Japão, em fase de definição, coloca-se no tabuleiro político como um dos incentivadores da globalização comercial no mundo.
Para o Macron, o importante é que as "linhas vermelhas" estabelecidas pelo governo francês não sejam ultrapassadas. Esses limites seriam o respeito ao modelo social e às práticas ambientais europeias, de forma a evitar o que Paris chama de "dumping" social e ambiental - quando países produzem com mão de obra barata, sem direitos sociais e com práticas sanitárias abaixo do exigido pela UE.
Trava
Na quarta-feira, o ministro da Agricultura, Stéphane Travert, afirmou em declaração a deputados na Assembleia Nacional que, as condições ainda não estão reunidas.
O recado é claro: o governo espera que haja concessões dos países latino-americanos. "A França espera avançar com o Mercosul, mas no contexto atual é essencial chegar a um resultado equilibrado, e no estado atual, as contas não fecham", afirmou.
Em Bruxelas, a equipe da comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, segue discutindo com os delegados do Mercosul em busca de um entendimento.
"Ontem as coisas avançaram, e nós esperamos agora que o Mercosul volte e nos dê seu parecer sobre a forma como poderíamos finalizar as negociações", disse o vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, em entrevista. "No final, só restam as questões mais difíceis. Mas se a vontade política é forte, como é o caso neste momento, estou certo de que podemos chegar a esse objetivo."
Enquanto nos meios políticos de Paris e Bruxelas a ideia de chegar a um acordo avança, entre líderes do setor rural na França a resistência permanece elevada, em especial entre produtores de gado bovino e de frango.
Para eles, os dois segmentos correriam o risco de se ver desestabilizados pela entrada de carne produzida com baixo custo e normas sociais e ambientais abaixo das praticadas pela Europa.
Sindicatos setoriais também manifestam preocupação pelo que consideram a iminência de um acordo com o Mercosul.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.