O Brasil encerrou fevereiro com um fluxo cambial positivo de 7,75 bilhões de dólares. Isso significa que, no mês passado, o país recebeu mais dólares do que enviou para o exterior. A cifra é a maior desde março de 1998, quando o saldo cambial bateu em 10,331 bilhões. Em janeiro, o saldo havia sido de 1,949 bilhão. Já em fevereiro do ano passado, o valor foi de 3,943 bilhões. Para os economistas, o desempenho foi estimulado pela emissão e rolagem de títulos privados, além das exportações elevadas.

Segundo o Banco Central (BC), o saldo de câmbio contratado em operações comerciais, como exportação e importação de bens e serviços, foi de 4,935 bilhões de dólares. O montante é superior aos 3,149 bilhões de janeiro, mas ficou aquém dos 6,199 bilhões de dezembro. Em fevereiro de 2005, o valor era de 3,519 bilhões.

Nesta conta estão desde adiantamentos de contratos de câmbio (os ACCs), pelos quais os exportadores antecipam o recebimento de créditos, até a compra de dólares pelos importadores brasileiros para pagar suas dívidas com fornecedores do exterior. As operações de câmbio para exportação somaram 10,582 bilhões de dólares, contra os 9,410 bilhões do mês retrasado e os 7,963 bilhões de fevereiro de 2005. Já os contratos de câmbio para importação somaram 5,647 bilhões, menos que os 6,261 bilhões de janeiro, mas superior ao 4,444 bilhões de fevereiro do ano passado.

"O resultado também refletiu uma altíssima taxa de rolagem das dívidas de empresas, sobretudo as privadas", diz a economista Zeina Latiff, do ABN Amro Real. Um sinal dessas rolagens é o saldo positivo de outra conta que compõe o fluxo cambial - o de operações contratadas pelo setor financeiro. O saldo dessas transações, 2,815 bilhões, é o primeiro positivo desde fevereiro de 2005, quando ficou em 420 milhões de dólares. Em janeiro, a saída líquida de dólares, via transações financeiras, foi de 1,2 bilhão.

Para Zeina, o que favorece a captação de moeda estrangeira pelas empresas privadas é, principalmente, a queda do risco-país e a disponibilidade de recursos no mercado mundial. No mês passado, as compras de câmbio pelo setor financeiro somaram 16,813 bilhões de dólares e as vendas, 13,998 bilhões.

Pressão no câmbio

"Os resultados do fluxo cambial também explicam porque o real se valorizou tanto em fevereiro", afirma Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, economista da consultoria Global Invest. Segundo o BC, o dólar encerrou fevereiro com cotação de 2,1347 reais para compra e 2,1355 reais para venda. Em janeiro, os valores foram, respectivamente, 2,2152 e 2,216 reais.

O fluxo cambial não inclui captações de títulos soberanos pelo governo, apenas transações de empresas públicas e privadas.