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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h55.
O visitante que esteve em Florianópolis há cinco anos e voltar à cidade hoje, certamente vai se surpreender. O ritmo da construção civil é impressionante. Novos prédios de apartamentos, hotéis, shoppings, centros de eventos e casas de luxo em condomínios erguidos nas 42 praias da ilha, evidenciam que a capital de Santa Catarina está numa fase de plena expansão. Apesar disso, com o aumento do volume de investimentos em outras cidades e uma limitação geográfica para receber grandes empreendimentos industriais -- é recortada por morros e enseadas --,Florianópolis caiu três posições com relação à última pesquisa.
A capital catarinense está se firmando como um centro de tecnologia e serviços nas áreas de informática e microeletrônica, mas ainda tem no turismo o principal combustível de sua economia. Desde a inauguração, em 1998, do Centro Sul, um centro de convenções bancado por um consórcio de empresas locais numa área cedida pela prefeitura, o fluxo de visitantes foi melhor distribuído ao longo do ano e a cidade espera sepultar de vez a praga do veranismo, que a tornava totalmente dependente da alta temporada. Só no ano passado, 419 000 pessoas estiveram em eventos realizados ali. Este ano, serão mais de 500 000.
Na temporada de verão, a cada ano chegam mais turistas brasileiros para descobrir as belezas da ilha, um paraíso que havia sido percebido há tempo pelos vizinhos do Prata. A maior procura de brasileiros ajudou a diminuir o efeito da ausência dos argentinos. Além disso, turistas de outros países foram à Florianópolis. Em 2001, a cidade foi visitada por 15,8% do total de turistas estrangeiros que vieram ao Brasil, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro e São Paulo.
O incremento do turismo de negócios está atraindo grandes redes de hotéis. A Accor inaugurou recentemente uma unidade com a bandeira Ibis e um flat Parthenon. O próximo lançamento é um Sofitel, estimado em 18 milhões de reais, no coração da Beira Mar Norte, a avenida mais movimentada e badalada da ilha. Estamos crescendo entre 15% e 20% ao ano , comemora Aurélio Paladini Filho, presidente da Magno Martins Engenharia, responsável pela construção do Sofitel.
A hotelaria é apenas um dos impulsionadores do mercado imobiliário. O outro motivo de alegria para as construtoras são os migrantes, especialmente de outros estados, que não param de chegar à ilha em busca de melhor qualidade de vida. Mais de 30% dos novos imóveis são adquiridos por pessoas de outras cidades e estados , diz Adolfo Cesar dos Santos, presidente do Sinduscon local e da Sistema Engenharia.
Os migrantes já são mais de 11% da população de 360 000 pessoas, que aumentou 2,33% em apenas um ano, índice bem superior à média nacional de 1,3%. São aposentados, profissionais liberais, empresários, professores universitários -- gente que trás dinheiro para a cidade. Nada menos que 50% dos domicílios de Florianópolis são das classes A e B, contra uma média brasileira de 22,2%. A cidade tem o mais alto potencial de consumo percapita entre os 10 municípios primeiro colocados na pesquisa das 100 melhores cidades para fazer negócios: 4 642 dólares por ano.
A Incorporadora de Shopping Centers Florianópolis, que tem como sócio o presidente do grupo paranaense O Boticário, Miguel Krigsner, percebeu que essa população com elevado poder aquisitivo está ávida para consumir, mas a ilha tem pouco a oferecer. Marcas famosas querem aportar aqui e não têm onde , diz Augusto de Fonseca, diretor geral da incorporadora que vai investir 75 milhões de reais no Florianópolis Shopping, que inaugura em novembro de 2004. Com ele vão chegar à cidade as primeiras lojas C&A e Riachuelo, a primeira megastore de livros e o primeiro cinema multiplex, com sete salas. É incrível, mas este é o número total de cinemas existentes hoje na cidade. Estimulado pela mesma demanda, a catarinense Magno Martins vai investir 140 milhões de reais no shopping Ilha Terceira que deve ficar pronto em 30 meses e será o maior do estado.
A limitação de espaço, especialmente no centro, pode ser medida pela verticalização crescente. Na Beira-Mar Norte formou-se uma espécie de paredão de concreto. Um terreno que valia entre 1 000 e 1 500 reais o metro quadrado há um ano, hoje não é vendido por menos de 3 000 reais , diz Gilberto Guerreiro, presidente do Secovi-SC. Os migrantes têm buscado refúgio nas praias, onde se multiplicam sofisticados empreendimentos como o Jurerê Internacional, do grupo gaúcho Habitasul, com 820 casas e 430 apartamentos, um shopping, restaurantes e um centro esportivo. Há um ano, a Habitasul inaugurou o hotel Beach Village e, em fevereiro próximo, vai lançar um hotel temático que vai consumir 30 milhões de reais e deve ficar pronto em 2005.
O desenvolvimento na área de tecnologia e serviços de informática e microeletrônica há mais de 300 empresas de software na cidade ocorreu a partir de uma política que une empresas, incubadoras e universidades. Há cinco anos existiam duas universidades na Grande Florianópolis. Hoje há mais de uma dezena de instituições. Profissionais qualificados e um amplo leque de oportunidades atraíram de volta à terra natal o economista e administrador hospitalar Luis Gonzaga Coelho. Depois de 14 anos na Suíça, ele se uniu ao grupo Grangettes, de Genebra, para o qual trabalhava, e está investindo 12 milhões de reais na C-Pack, fábrica de tubos plásticos para as indústrias cosmética e farmacêutica que começa a funcionar em janeiro na vizinha São José, uma espécie de distrito industrial da capital. Entre os primeiros 25 contratados, não há nenhum sem o segundo grau completo e 30% têm cursos superior. Vamos produzir embalagens sofisticadas e precisamos de uma mão-de-obra qualificada como a que existe aqui , diz Coelho. E a qualidade de vida das pessoas vai repercutir na qualidade do produto .
No último ano houve melhorias em Florianópolis que também refletem nos negócios. O aeroporto foi ampliado e parte da Via Expressa Sul, que liga o centro ao sul da ilha e ao aeroporto, já está funcionando. Para qualificar a culinária da ilha e aproveitar melhor sua condição de responsável por 80% da produção nacional de ostras e mexilhões, Florianópolis vai ganhar, em meados do próximo ano, uma Escola de Gastronomia.