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Filantropia é investimento, não caridade, diz fundação apoiada por Lemann

Para presidente da BrazilFoundation, Rebecca Tavares, elite brasileira ainda precisa evoluir culturalmente em relação às doações

Nos Estados Unidos, a filantropia movimenta mais de 2% do PIB (ovelyday12/Thinkstock)
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Rodrigo Caetano

Publicado em 5 de março de 2020 às 06h00.

Última atualização em 5 de março de 2020 às 06h00.

Nos Estados Unidos, a filantropia ocupa um lugar de destaque na economia. As doações feitas pelos americanos para entidades assistenciais, incluindo igrejas, somaram mais de 420 bilhões de dólares em 2018 (último dado disponível), segundo o relatório Giving USA, que monitora o setor anualmente. O montante equivale a cerca de 2% do PIB americano.

Os fundos patrimoniais também constituem uma importante força financeira. Atualmente, eles controlam mais de 500 bilhões de dólares em ativos e fomentam grande parte da inovação no país. Em se tratando de empregos, as instituições sem fins lucrativos disponibilizam 12,3 milhões de postos de trabalho, o que representa 10,2% dos empregos privados americanos.

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No Brasil, também existe a cultura da doação. Segundo uma pesquisa do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), sete em cada 10 brasileiros costumam fazer doações, com um valor médio de 200 reais. A filantropia brasileira, no entanto, movimenta pouco dinheiro, proporcionalmente, em comparação aos Estados Unidos. Segundo o Idis, aqui o setor representa apenas 0,2% do PIB.

Para Rebecca Tavares, presidente da BrazilFoundation, uma das principais fundações filantrópicas brasileiras, o problema está na maneira como os ricos enxergam o ato de doar dinheiro. “A elite brasileira não pensa a filantropia estrategicamente, trata como caridade”, afirma Rebecca. “Essa visão precisa mudar”.

Nos Estados Unidos e na Europa, a filantropia é vista como uma maneira de fomentar o desenvolvimento da economia. “Esse tipo de recurso geralmente é aplicado em educação e no fortalecimento da democracia, o que aumenta a produtividade”, afirma Rebecca. Indiretamente, as doações retornam ao bolso do filantropo, na forma de um maior crescimento econômico. “É um investimento no futuro”.

Há exceções entre os ricos brasileiros. Nomes como Guilherme Leal, da Natura, Miguel Krigsner, do Grupo Boticário, e Jorge Paulo Lemann, da Ambev, há tempos compreenderam a natureza estratégica da filantropia. Mais recentemente, empresários como Elie Horn, da Cyrela, Eugênio Mattar, da Localiza, e Rubens Menin, da MRV, lideraram um movimento para intensificar a cultura filantrópica.

Mas ainda é pouco, segundo Rebecca. “Essa perspectiva estratégica da filantropia é incipiente”, afirma. “Nos Estados Unidos e na Europa, todo empresário que pretende exercer alguma liderança precisa mostrar que pensa nos outros. E faz isso por meio da filantropia.”

Criada em 1992 com apoio inicial de Lemann, atualmente o homem mais rico do país, a BrazilFoundation promove, anualmente, dois concorridos jantares de gala, um em São Paulo e outro em Nova York, para angariar recursos.

No ano passado, o evento paulista, patrocinado pela marca de luxo Chanel, reuniu cerca de 300 convidados na Casa Fasano. Para participar do jantar, os interessados desembolsaram entre 3 mil reais, para um convite individual, e 60 mil reais, para reservar uma mesa.

Rebecca afirma que as novas gerações possuem um entendimento diferente da filantropia. “Os jovens herdeiros chegam ao comando das empresas familiares com uma propensão maior a investir em filantropia”, diz ela. “Tanto que vejo um movimento, entre bancos e gestores de grandes fortunas, de incluir o setor nas estratégias de investimento de longo prazo”.

Cresce, também, o interesse em investimentos de impacto social. Nessa modalidade, o investidor espera um retorno financeiro junto com o benefício social do projeto. “É um bom investimento”, diz Rebecca. Tanto para quem faz, quanto para a sociedade.

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