Federal Reserve corta juros pela segunda vez desde a crise de 2008
Em decisão por 7 a 3, banco central americano anuncia novo corte de 0,25 p.p. e manda sinais contraditórios sobre futuros passos
João Pedro Caleiro
Publicado em 18 de setembro de 2019 às 15h14.
Última atualização em 18 de setembro de 2019 às 18h39.
São Paulo - O Federal Reserve , banco central dos Estados Unidos , anunciou nesta quarta-feira (18) um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa referencial de juros, para a faixa entre 1,75% e 2%.
Foi o segundo corte na taxa desde a crise financeira de 2008; o primeiro foi na reunião anterior, em julho.
Jerome Powell , presidente do Fed, explicou que a decisão foi difícil de ser tomada e reage à desaceleração do crescimento global, especialmente na China e na Europa, assim como pela incerteza comercial, apesar dele também destacar números positivos da economia dos EUA.
O corte já era amplamente esperado pelo mercado financeiro, mas a dificuldade de navegar entre fundamentos sólidos e sinais de problemas se traduziu em divisões internas no comitê.
Além de Powell, outros seis membros também votaram pelo corte na magnitude anunciada, enquanto James Bull queria um corte ainda maior. Já os presidentes do Fed de Boston, Eric Rosengren, e de Kansas City, Esther George, defendiam manter a taxa inalterada.
O Fed deu sinais em direções diferentes sobre os próximos passos da sua atuação tanto no comunicado quanto na coletiva de imprensa.
Isso fez o Ibovespa acelerar sua queda, tocando a mínima da sessão abaixo dos 104 mil pontos. Às 15:28, o Ibovespa caía 0,58%. Às 15h33, o dólar avançava 0,48%, a 4,0978 reais na venda.
Também há expectativa sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta a partir das 18h (horário de Brasília). A maior parte das apostas é em um corte de 0,5 ponto percentual na Selic.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu no Twitter que Powell e o Fed "falharam novamente" em uma decisão sem coragem, sentido ou visão.
Trump, que é candidato para reeleição em 2020, vem pressionando publicamente o Fed a fazer cortes mais agressivos e promover estímulos diante do relaxamento monetário em outros lugares do mundo.
"Não acho que consideraríamos taxas negativas" de juros, disse Powell sobre medida tomada recentemente pelo Banco Central Europeu.
A economia americana vive o ciclo de expansão mais longo da sua história e o desemprego está no menor patamar em quase meio século.
No entanto, a taxa de inflação segue abaixo da meta de 2% e há preocupação com as consequências da guerra comercial com a China, citada várias vezes por Powell.
O risco de recessão nos próximos 12 meses é estimado como próximo de 50% por economistas como Robert Shiller e Lawrence Summers.
O Fed também aumentou hoje a diferença entre os juros que paga aos bancos por excesso de reservas e o teto de seu intervalo de taxa de juros.
Foi uma reação a uma escassez de caixa que levou o Fed de Nova York a injetar US$ 128 bilhões no mercado de curto prazo na terça e na quarta após os juros dispararem.
"Embora essas questões sejam importantes para o funcionamento do mercado e para os participantes do mercado, elas não têm implicações para a economia ou a postura da política monetária", disse Powell.
O Federal Reserve ainda tem dois encontros marcados para este ano, nos dias 29 e 30 de outubro e 10 e 11 de dezembro.
(Com Reuters, EFE e AFP)