Exame Logo

"Faltou o governo adotar medida fiscal para 2012", diz Tendências

Consultoria ainda não vê espaço para redução dos juros por causa das pressões inflacionárias

Felipe Salto: "O esforço fiscal é baseado em arrecadação e em corte de investimentos" (Divulgação/Tendências Consultoria)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2011 às 14h23.

São Paulo – A decisão do governo federal de aumentar o superávit primário em 10 bilhões de reais neste ano é positiva, mas não resolve o grande problema fiscal previsto para 2012.

Na avaliação do economista da Tendências Consultoria e especialista em contas públicas, Felipe Salto, o anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou incompleto.

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, Mantega disse que a meta de economia neste ano para a União foi aumentada de R$ 81,7 bilhões para R$ 91,7 bilhões com o objetivo de deixar o Brasil mais forte para enfrentar a crise internacional.

“É positivo (o anúncio) porque pelo menos uma parte daquilo que, em tese, poderia se transformar em gastos vai servir para aumentar o esforço fiscal de 2011 e isso ajuda a conter as pressões sobre a demanda agregada. Mas, por outro lado, não foi tomada nenhuma medida concreta para 2012, que é onde está o principal problema”, diz Salto.

Para conter o crescimento dos gastos no ano que vem, o governo precisaria limitar o crescimento dos gastos com pessoal e evitar o reajuste de 14% para o salário mínimo. “Eu acho difícil que o cenário para 2012 não seja de descumprimento da meta. Estimamos um superávit primário de apenas 2,2% do PIB”, afirma o economista, que inclui nessa conta a renúncia fiscal que o governo está promovendo para estimular alguns setores industriais.


Outro ponto destacado pelo especialista é em relação à qualidade do ajuste fiscal. “A qualidade é ruim. O esforço fiscal é baseado em arrecadação e em corte de investimentos. Para o médio prazo, não há uma estratégia que permita que o ajuste seja feito nas despesas correntes. Sendo assim, quem sempre paga o pato em momentos de aperto é o investimento.”

Juros

Embora o ministro Guido Mantega tenha reafirmado que o Banco Central é independente na hora de definir o rumo dos juros, há uma pressão por parte do governo para que a Selic seja reduzida como contrapartida ao esforço fiscal. O mercado financeiro, no entanto, aposta em manutenção dos juros básicos na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira.

Felipe Salto, da Tendências Consultoria, diz que “seria muito precipitado” o Copom reduzir os juros nesta semana. “O nosso cenário para a inflação é de estouro da meta (6,6%) neste ano e de 5,2% para 2012, ou seja, ainda não converge para o centro da meta. Um esforço fiscal adicional de 10 bilhões de reais é importante, mas insuficiente para conter tanto assim as pressões sobre a demanda e levar a uma redução da taxa de juros antes do previsto pelo mercado. Acho que seria muito precipitado iniciar um ciclo de queda de juros quando a inflação (acumulada em 12 meses) está acima da meta.”

O ideal, segundo o especialista, seria o governo controlar o crescimento das despesas correntes para equilibrar as contas públicas durante vários anos. “Aí sim abriria espaço para reduzir os juros, motivando o investimento do setor privado.”

Veja também

São Paulo – A decisão do governo federal de aumentar o superávit primário em 10 bilhões de reais neste ano é positiva, mas não resolve o grande problema fiscal previsto para 2012.

Na avaliação do economista da Tendências Consultoria e especialista em contas públicas, Felipe Salto, o anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou incompleto.

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, Mantega disse que a meta de economia neste ano para a União foi aumentada de R$ 81,7 bilhões para R$ 91,7 bilhões com o objetivo de deixar o Brasil mais forte para enfrentar a crise internacional.

“É positivo (o anúncio) porque pelo menos uma parte daquilo que, em tese, poderia se transformar em gastos vai servir para aumentar o esforço fiscal de 2011 e isso ajuda a conter as pressões sobre a demanda agregada. Mas, por outro lado, não foi tomada nenhuma medida concreta para 2012, que é onde está o principal problema”, diz Salto.

Para conter o crescimento dos gastos no ano que vem, o governo precisaria limitar o crescimento dos gastos com pessoal e evitar o reajuste de 14% para o salário mínimo. “Eu acho difícil que o cenário para 2012 não seja de descumprimento da meta. Estimamos um superávit primário de apenas 2,2% do PIB”, afirma o economista, que inclui nessa conta a renúncia fiscal que o governo está promovendo para estimular alguns setores industriais.


Outro ponto destacado pelo especialista é em relação à qualidade do ajuste fiscal. “A qualidade é ruim. O esforço fiscal é baseado em arrecadação e em corte de investimentos. Para o médio prazo, não há uma estratégia que permita que o ajuste seja feito nas despesas correntes. Sendo assim, quem sempre paga o pato em momentos de aperto é o investimento.”

Juros

Embora o ministro Guido Mantega tenha reafirmado que o Banco Central é independente na hora de definir o rumo dos juros, há uma pressão por parte do governo para que a Selic seja reduzida como contrapartida ao esforço fiscal. O mercado financeiro, no entanto, aposta em manutenção dos juros básicos na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira.

Felipe Salto, da Tendências Consultoria, diz que “seria muito precipitado” o Copom reduzir os juros nesta semana. “O nosso cenário para a inflação é de estouro da meta (6,6%) neste ano e de 5,2% para 2012, ou seja, ainda não converge para o centro da meta. Um esforço fiscal adicional de 10 bilhões de reais é importante, mas insuficiente para conter tanto assim as pressões sobre a demanda e levar a uma redução da taxa de juros antes do previsto pelo mercado. Acho que seria muito precipitado iniciar um ciclo de queda de juros quando a inflação (acumulada em 12 meses) está acima da meta.”

O ideal, segundo o especialista, seria o governo controlar o crescimento das despesas correntes para equilibrar as contas públicas durante vários anos. “Aí sim abriria espaço para reduzir os juros, motivando o investimento do setor privado.”

Acompanhe tudo sobre:Ajuste fiscalJurosPolítica fiscal

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame