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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h03.
A despeito de sua inteligência e experiência política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva erra por falta de franqueza e de rumo claro. O diagnóstico foi traçado nesta terça-feira (6/9) pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Rádio Cultura. Para ele, está cada vez mais difícil dissimular os efeitos devastadores da crise política, graças ao empenho da mídia, à participação ativa de alguns setores do Congresso e -- admite -- ao próprio governo.
"As coisas estão aparecendo, são até fatos em demasia, fica difícil entender a teia toda de acontecimentos, de lavagem de dinheiro, corrupção, suborno e prevaricação", disse o ex-presidente. "O que cria sentimento de insatisfação é que aparecem aqui e ali tentativas de dificultar a apuração ou evitar resultados tão profundos quanto se espera. Acho que será difícil evitar, mas não basta só cassar mandatos parlamentares, é preciso que a Polícia Federal continue suas investigações e a Justiça funcione."
Quando se analisa todo esse volume de fatos, diz FHC, surge uma sensação de perplexidade. "Onde é que isso vai parar? Será que chega até o presidente? Todo mundo querendo que não chegue. Repeti várias vezes, agora desisti, que o presidente deveria ter falado mais francamente ao país o que foi, o que não foi, o que ele fez, o que pretende fazer, para que a população sinta que tem um rumo. Como ela não tem esse rumo dado pelo presidente, fica na ansiedade para saber se vai apurar mesmo."
Elogios
Apesar da falta de rumo de Lula, FHC não acredita que o presidente seja uma "rainha da Inglaterra". "Ele é um homem inteligente e intuitivo, pode não ser afeito a detalhes, não ter paciência para o dia-a-dia, mas tem experiência política muito forte." FHC também disse que espera que o Partido dos Trabalhadores se recupere. "Seria bom que o PT se restaurasse, ainda que seja difícil que volte ao poder, talvez, nos próximos dez anos."
FHC afirmou ainda que os setores empresariais e financeiros estão "contentíssimos" com o governo Lula, o que desmonta a tese levantada por alguns petistas de que a origem da crise política atual é uma "conspiração da direita".