Economia

Existe uma bolha especulativa no mercado de ações americano?

Com a trajetória de rentabilidade das empresas e a política monetária do FED, movimento de alta não parece estar esgotado, mas diversos fatores de risco precisam ser monitorados

 (foto/Thinkstock)

(foto/Thinkstock)

G

GabrielJusto

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 17h04.

Última atualização em 25 de agosto de 2021 às 10h36.

As ações nos Estados Unidos continuam batendo recordes de alta. Na semana passada, mais uma vez, os principais índices do mercado superaram as máximas históricas. Depois de subir, em dólares, 31% em 2019 e 18% em 2020, este ano o mercado já acumula retorno de quase 20%. Diante de altas tão pronunciadas, crescem as preocupações e até as suspeitas de bolha. No entanto, o desempenho do mercado está amparado pela convergência de dois fatores muito poderosos: forte crescimento de lucros das empresas e queda das taxas de juros.

O movimento de alta nos Estados Unidos teve início na saída da recessão de 2008/2009, mais precisamente em março de 2009. Desde então, o índice S&P 500, principal indicador de preço das ações americanas, subiu 750%. Ou seja, um retorno em dólar de 18,7% ao ano por mais de 12 anos (incluindo dividendos recebidos).

À primeira vista, a alta pode parecer exagerada, mas é preciso considerar que, no mesmo período, o lucro das empresas do índice aumentou 27% ao ano. Em outras palavras: em 12 anos o S&P 500 aumentou 6,6 vezes, mas o lucro das empresas aumentou 18,7 vezes (o índice subiu de 676 pontos para 4.468 pontos e o lucro por ação agregado subiu de US$ 6,86 para US$ 128,20).

Além do aumento de lucros, a queda nas taxas de juros contribuiu para impulsionar o mercado. Desde o início do movimento de alta, os juros de longo prazo desabaram, passando de 2,9% ao ano para 1,3% ao ano (taxa dos títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos). Isto é importante porque quanto menor a taxa de juros de longo prazo maior será o valor presente dos lucros futuros das empresas. Além disso, a queda dos juros diminui a atratividade dos investimentos em renda fixa e estimula a alocação em ações.

A conclusão é clara: por mais de uma década, o desempenho do mercado se deve à combinação de um forte aumento no lucro das empresas com uma queda acentuada nas taxas de juros. Não se trata, portanto, de rentabilidade induzida artificialmente por uma bolha especulativa.

 

O que esperar do futuro?

Considerando os fundamentos da economia, a trajetória de rentabilidade das empresas e a política monetária do FED (Federal Reserve, o banco central norte-americano), o movimento de alta não parece estar esgotado.

As projeções para 2021 indicam crescimento do PIB de 7%, crescimento da receita das empresas de 15% e crescimento de lucros de 55% (segundo a média das projeções publicadas pelo Institutional Brokers' Estimate System, I/B/E/S). Quanto às taxas de juros, o mercado de renda fixa continua precificando condições monetárias inalteradas até pelo menos o final de 2022. Neste ambiente, haverá condições para que a trajetória de alta se mantenha.

Obviamente, existem diversos fatores de risco que precisam ser monitorados. A maior ameaça ao “bull market” é, sem dúvida, o aperto das condições monetárias. A política atual, fortemente estimulativa, não pode ser mantida indefinidamente e quando houver sinais de reversão do FED o impacto nos mercados globais poderá ser muito negativo, inclusive no Brasil. No curto prazo, novas variantes da Covid-19 podem afetar o ritmo de recuperação da economia e eventos geopolíticos como a crise que se desenrola no Afeganistão podem criar turbulência.

Outra ameaça potencial é o aumento de impostos. A administração Biden está determinada a subir a alíquota das empresas dos 21% da era Trump para 28%. Considerando a resistência no Congresso, a nova taxa deve ficar em torno de 25%, o que representaria uma redução de 5% a 6% no lucro por ação das empresas do S&P 500 a partir de 2022. Mesmo assim, tudo indica que as margens de rentabilidade das empresas americanas serão as maiores da história.

Não é possível prever as oscilações de curto prazo do mercado, mas para o investidor de longo prazo que estiver atento aos fundamentos, a oportunidade de participar do crescimento das melhores empresas do mundo continua atrativa.

*Gestor de investimentos internacionais e fundador da Stratton Capital

Acompanhe tudo sobre:AçõesBolha acionáriaBolhas econômicasbolsas-de-valoresEstados Unidos (EUA)EXAME-no-InstagramS&P 500

Mais de Economia

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio

Análise: O pacote fiscal passou. Mas ficou o mal-estar

Amazon, Huawei, Samsung: quais são as 10 empresas que mais investem em política industrial no mundo?

Economia de baixa altitude: China lidera com inovação