Estamos fazendo um aperto de despesas fenomenal, diz Meirelles
Em entrevista, o ministro negou que a revisão da meta de déficit para R$ 129 bi em 2018 tenha sido feita para abrir espaço para gastos em ano de eleições
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de abril de 2017 às 21h29.
Depois de anunciar uma previsão de déficit maior das contas públicas para 2018, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles , rebateu as avaliações de que a nova meta é frouxa ou mesmo apertada de mais.
Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, Meirelles negou que a revisão da meta de déficit de R$ 79 bilhões para R$ 129 bilhões do ano que vem, divulgada na última sexta-feira, foi feita para abrir espaço a gastos maiores do governo em ano de eleições presidenciais, como ocorreu em 2014 durante a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.
"Estamos fazendo um aperto de despesa fenomenal", disse Meirelles.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
Essa meta de déficit maior, para alguns analistas, é frouxa e, para outros, não será suficiente. Como o senhor recebeu as críticas?
Uns acham que é frouxa e outros acham que está apertada de fato. Significa que está certa. Está no meio, onde deveria estar. É a primeira indicação que ela está certa. Frouxa não é de jeito nenhum. Se pegarmos o ano de 2017, se não tivessem as receitas de hidrelétricas, precatórios, petróleo e mais o contingenciamento de gastos, estaríamos com um déficit de R$ 197 bilhões. E vamos chegar no déficit de R$ 139 bilhões. Mas, se considerarmos uma base normal, com receita recorrente, estamos partindo de um déficit de R$ 197 bilhões para R$ 129 bilhões em 2018. É uma redução muito forte.
Analistas apontam que o governo será expansionista do ponto de vista fiscal em 2018.
Não é. É um erro enorme, porque a despesa que chegou a um porcentual elevado em 2015, de 22% do PIB, está caindo fortemente e estamos ai com ela recuando para um pouco acima 18% do PIB previsto 2018. Essa avaliação é de quem não está fazendo conta. Se olharmos, rigorosamente, é um aperto de despesa fenomenal.
Não fica difícil convencer que o governo aprovou o teto de gasto e agora pede uma meta fiscal com déficit maior?
Não. É maior do quê? Depois de um ajuste, de um corte violento de receitas extraordinárias, nós vamos entregar R$ 139 bilhões de déficit em 2017 e vamos entregar menos do que isso em 2018. Não é maior.
Mas a meta para 2018 era menor, de déficit de R$ 79 bilhões.
Ah mas lá atrás, aquele número original! Mas pera aí, ninguém tinha noção do tamanho da crise e da recessão e da desalavancagem que precisaria ser feita e da resiliência da inflação que levou o Banco Central a manter a taxa de juros em patamar elevado e depois cortar bem devagar no início. Herdamos uma crise que só durante o processo nós e o País descobrimos qual a sua dimensão. Acontece que, objetivamente, teremos corte de déficit de R$ 197 bilhões para R$ 129 bilhões.
O ano de 2018 é de eleições e já se ouve que a meta de déficit maior poderia dar espaço para o governo gastar mais, como a ex-presidente Dilma Rousseff fez em 2014.
A diferença está nos números. Esse é raciocínio, assim, parece, deveria... Mas, se olhar os números em porcentagem do PIB, que é o que interessa, as despesas públicas cresceram muito em 2014, como cresceram em 2010. A nossa previsão para 2018 é que vai cair como porcentagem do PIB em relação a 2017, 2016 e 2015. Isso é importantíssimo.
Por que o governo antecipou em uma semana o anúncio da meta fiscal?
Por uma razão muito simples. O prazo legal é dia 15 de abril, que é sábado. Dia 14 é feriado. Então, teremos que entregar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no dia 13. Para se entregar precisa de uns quatro dias úteis de processamento. Uma das coisas que eu já decidi é que temos que tomar a decisão hoje aprovar com o presidente Michel Temer e divulgar. Eu não gosto de ter o número decidido e depois ser trabalhado por um punhado de gente e não divulgado. Ai, se vaza. Decidimos, se divulga rapidamente. É o tempo de imprimir a tabela.